- Ministro tenta retratar-se e namora novo consultor sem assumir incompetência dos “amigos”
- Dos 08 aviões que a LAM tinha antes da intervenção, hoje apenas 03 estão a funcionar
- Magala justifica que entrada de consultor britânico vai ser subsidiado pelo BAD
- Há um ano, disse que FMA seria paga pela partilha de lucros, mas a realidade é outra
- FMA e seu gestor, que é director geral da LAM, estão fora do mandato e com renovação em banho maria
As movimentações do ministro de Transportes e Comunicações, Mateus Magala, sugerem que este assume que a indicação da Fly Modern Ark (FMA) pode não ter sido a melhor escolha para as Linhas Aéreas de Moçambique (LAM). Esta constatação decorre do facto de estar na mesa a indicação de Peter Hill, um veterano da aviação comercial, com passagem pelas Linhas Aéreas de Angola (TAAG), para fazer retrato da LAM, em relatório a ser entregue num período de dois meses. Neste momento, o contrato de Theunis Crous como director geral da LAM não foi renovado, apesar de ele estar em exercício de funções, assim como da própria empresa gestora da LAM, a FMA, a exato um mês. À margem destes levantamentos, a qualidade dos serviços da LAM está cada vez mais pior, com cada vez menos aviões, que reduziram de oito (08) para três (03) neste período, o que tem resultado em atrasos constantes de voos, que chegam a durar dias, como aconteceu nas últimas duas semanas. A respeito destes assuntos, o Gabinete de Informação da LAM ficou de entrar em contacto para indicar qual entidade podia prestar esclarecimentos, se é a própria LAM, o Ministério de Transportes e Comunicações ou o IGEPE.
Um ano e um mês se passaram desde a entrada da Fly Modern Ark (FMA), seriamente criticada por promover encenações que buscavam mobilizar uma certa aceitação social, no lugar de mostrar resultados sólidos da sua intervenção na LAM. Os indicadores que pesam sobre o mau desempenho da FMA são palpáveis, partilhados até com as autoridades. Por outro lado, até o momento não existe um relatório que documenta os resultados da intervenção que vinha sendo aplaudida pelo ministro Magala, que em Janeiro veio ver a sua factura de hospedagem de férias, em Cape Town, ser paga, naquilo que foi a mais alta ilustração da relação promíscua entre o titular do governo e a empresa de Theunis Crous, assunto que apesar de exposto, estranhamente, não preocupou a justiça.
Quando a Fly Modern Ark entrou em Abril de 2023, a LAM estava mal e “tecnicamente falida”, mas a nível social era funcional, com voos a operar regularmente, e com funcionários e fornecedores a ser pagos. Seu retrato era público, seus problemas conhecidos e sua integridade na relação com parceiros, estava intacta.
Um ano depois, uma nova configuração retrata a empresa: tem uma integridade beliscada a todos níveis. Há fortes indícios de que os dados de autoavaliação partilhados pela FMA são viciados. Em termos funcionais, a empresa parou no tempo, os serviços de catering foram suspensos, os atrasos são comuns e sem qualquer informação antecipada.
Se os funcionários não recebem salários pontualmente, o caso dos fornecedores é mais aterrador, pois não recebem nada. A FMA não tem plano estratégico e nem orçamento para 2024, o que faz com que tudo seja feito por cima do joelho.
Aviões estão a apodrecer no hangar e servem como sucatas de reposição de peças
No entanto, as garantias de que a FMA era uma empresa séria foram dadas pelo ministro, que até o último momento dava garantias de renovação do contrato, justificando resultados positivos, sem ao menos mostrar o balanço. Os trabalhadores fizeram o próprio balanço, enumeraram os pontos que ilustravam uma gestão problemática e levaram a Magala.
Para balanço superficial, em Abril de 2023, a LAM tinha dois Boeing 737-700, três Q400 e três Embraer 145 da subsidiária MEX. Até esta segunda-feira, apenas um Boeing, um Q400 e um Embraer estão operacionais, enquanto outros estão ancorados no Hangar por falta de manutenção ou devolvidos (Boeing 737-700).
Os aviões, na sua maioria alugados, estão a apodrecer e nalguns casos são usados como sucatas para reposição de peças dos poucos aviões que ainda desafiam os céus. Em resultado da falta de aviões suficientes, viajar de avião no país virou uma incerteza, devido à constante reprogramação de voos, que já afectou vários ramos de actividade.
Uma das imagens mais emblemáticas da crise instalada nas LAM por falta de aviões viu-se, há dias, quando a equipa de futebol da União Desportiva de Songo pernoitou durante quase uma semana no aeroporto à espera de um voo para seguir viagem. O mesmo aconteceu com outros passageiros em Nampula. Uma outra equipa ficou presa por dias em Maputo.
A FMA prometeu trazer 14 aviões próprios, mas não trouxe nenhum. Pelo contrário, alugou da CEM Air dois CRJ-900, em regime de ACMI. Em termos numéricos, dos oito aviões que a LAM tinha há um ano, apenas três estão a funcionar e mais dois novos da CEM Air, pilotados pelos próprios pilotos sul-africanos.
Só essa gestão sobrecarrega as despesas da LAM, que deve pagar uma equipa sem nada fazer, afinal, não tem aviões. Administrativamente, paira desconfianças depois de orientações directas de Theunis para algumas delegações limitar a partilha de informações financeiras com alguns departamentos-chave da LAM, a nível central.
Peter Hill na lupa de Magala
Magala já partilhou na LAM o futuro nome a integrar na lista dos consultores. Trata-se de Peter Hill. Segundo o mesmo, não vai acarretar custos à empresa porque vai ser pago com fundos do Banco Africado de Desenvolvimento (BAD). É um ponto não claro, que se espera que venha ser partilhado publicamente, à semelhança do que decorreu aquando da entrada da FMA.
Lembre-se que aquando da contratação dos gestores sul africanos, no caso a FMA, o ministro deu garantias de que a FMA não seria paga pela LAM, mas que ia trazer próprios meios, operativos e financeiros, e só em função dos resultados é que haveria “partilho de lucros”. A realidade é outra, a empresa recebe perto de cinco milhões de meticais por mês, tirados dos cofres da LAM. O valor continua a ser pago até ao momento em que decorre o levantamento por sector, para se apurar a real situação da empresa.
Fontes internas afirmam que o relatório vai dar uma visão real da gestão da FMA. E tudo indica que a decisão sobre o futuro da FMA poderá ser conhecida entre Junho e Julho, refém dos resultados deste do levantamento em curso, conduzido por consultores nacionais e internacionais, e que se espera que venha a ser interpretado por Peter Hill.
Hill é um veterano da aviação comercial, com grande experiência em companhias de primeiro plano mundial, nomeadamente na área geográfica do Médio Oriente e da Ásia.
O executivo e investidor britânico tem cinquenta anos de carreira na aviação.
Contrariamente a Theunis Crous, tido na África do Sul como caçador de oportunidades, Hill conhece a aviação comercial, mas a sua passagem pela TAAG não enalteceu o seu nome. Ele viria ser demitido e teve o visto suspenso naquele país irmão.
Uma gestão que só prevalece graças a protecção política
No primeiro de maio, celebração ao dia dos trabalhadores, os funcionários das LAM, que estão em constantes diálogo com o ministro Magala, depois de ameaçar suspender actividades, partilharam publicamente insatisfação com a actual gestão e partilharam dísticos, onde pediam a saída imediata da Fly Modern Ark.
Aqueles trabalhadores escolheram camisetas pretas como forma de evidenciar o luto que se vive no seio daquela empresa pública, estendendo o seu desfile até o Ministério dos Transportes e Comunicações para exigir os seus direitos.
O titular do pelouro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, não estava no seu gabinete, mas os trabalhadores da companhia de bandeira fizeram de tudo para que as suas exigências fossem ouvidas, cantando “socorro, socorro, socorro, socorro… e FMA fora, FMA fora, FMA fora”, como forma de alertá-lo sobre o mau ambiente instalado na empresa.
Assumindo uma postura política não acolhedora, o ministro dos Transportes e Comunicações desdramatizou a insatisfação manifestada, afirmando que as reivindicações da massa laboral são normais num processo de reforma. “É normal, quando há uma reforma, que haja muitas questões que aparecem à superfície e que devem ser resolvidas. O nosso compromisso é que sempre que tais questões surjam, pautamos pelo diálogo para resolvê-los”, afirmou Magala.
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