Num contexto do fim do mandato e da palpável descredibilização das instituições do nosso Estado decorre uma campanha de anticorrupção com vista a acabar com um grupo de máfia, que em pelo menos cinco anos movimentou cerca de 20 mil milhões de meticais.
De acordo com a PGR, neste âmbito, o Gabinete Central de Combate à Criminalidade Organizada e Transnacional instaurou vários processos, dentre os quais “o registado sob o número 3/GCCCOT/2022 em que foram constituídos em arguidos um total de 40 (quarenta) cidadãos nacionais e estrangeiros e 15 (quinze) empresas, indiciados, entre outros, da prática dos crime de: Branqueamento de Capitais; Falsificação de Documentos; Fraude Fiscal; Abuso de Confiança Fiscal; Associação Criminosa e Uso de Documento Falso”.
Apesar de todo o triunfalismo na forma como campanhas dessa natureza são hasteadas, alguns pontos prévios sugerem que estamos a aplaudir uma justiça que pode estar em busca de proteger os maiores beneficiários destes esquemas de tráfico de drogas, do que desfazer esta teoria e responsabilizar os envolvidos. Ora, essa conclusão consolida-se se termos em conta que é mais credível a justiça de fora do que de dentro.
É que uma das formas de proteger de facto os facilitadores destes esquemas, senão cabecilhas, é mesmo antecipando a resposta. Em contas com a justiça de casa, não poderão responder noutras jurisdições, afinal, não podemos extraditar. O Chang é o maior exemplo do que acontece quando são os de fora a dar um passo maior que o nosso, pior naquela caixa negra dos assuntos mal parados da podridão da nossa política.
O primeiro facto curioso é o momento que a justiça desperta para mostrar o seu compromisso de combater o branqueamento de capitais, quando seus indícios existem há anos. Por exemplo, o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), que aponta o aumento de tráfico de drogas de 2022 para 2023, dando exemplo de cannabis sativa, cuja quantidade apreendida aumentou de cerca de 1542 quilogramas para 1850, traçou as rotas preferenciais para introduzir drogas no país, que são o Paquistão e Afeganistão, sendo que as províncias de Cabo Delgado, Nampula e Zambézia são as portas de entrada.
Os dados daquela instituição apontam ainda a rota preferencial dos traficantes, que é a de São Paulo, no Brasil, que vai até Etiópia (Adis Abeba), e é introduzida a droga na Cidade de Maputo, caminho para África do Sul. Neste trajecto trafica-se com maior frequência a cocaína. Quénia-Nampula é outra rota usada pelos traficantes.
Em vários sectores, incluindo a própria PGR como fonte, entre os beneficiários destes negócios ilícitos estão os quadros do nosso poder político, que está em fim do mandato, se o reduzirmos ao consulado de Nyusi. Tendo em conta o momento e com memórias recentes da demostrada grande influência que o poder político tem sobre a nossa justiça, como se viu no decurso das dívidas ocultas, e não seria especulativa a possibilidade de estarmos aqui diante de uma campanha de limpeza, em mais um favor da justiça ao poder político.
Segundo porque estamos diante de uma campanha que surge em resposta ao trabalho do FBI, (Federal Bureau of Investigation) também conhecida como Departamento Federal de Investigação, aquando da detenção do Nuro, então, antecipar-se a estes, é uma forma de proteger os nossos. A não ser seja aqui partilhada o indício que tenha pesado para que só agora a nossa justiça se interessa por um tema até denunciado no informe da PGR, e conotado como veículo de financiamento ao terrorismo, torna-se difícil separar, desta campanha, os interesses dos criminosos dos interesses do Estado.
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