- É o primeiro moçambicano a receber a distinção
- Sibindy foi reconhecido por causa do Projecto Novo Moçambique
- “Em 2016, avisei o Governo de Nyusi (sobre o terrorismo) e desprezou”
O presidente do Partido Independente de Moçambique (PIMO), Yaqub Sibindy, foi, recentemente, reconhecido com o título Doutor Honoris Causa em Filosofia pelas Nações Unidas (ONU) em reconhecimento do Projecto Novo Moçambique, iniciativa que visa desenvolver o país, através da bancarização dos recursos, ou seja, criar o Banco de Desenvolvimento das Famílias, ou seja, transformando as famílias em empresas e, sobretudo, acionistas do Estado. Numa entrevista concedida ao Evidências, Sibindy falou da sua recente distinção e acabou desembocando em crítica à governação de Filipe Nyusi, mas também aos partidos políticos, que no seu entender estão a vender ilusões, uma vez que ao invés de um projecto sólido para o desenvolvimento pretendem continuar a endividar o país além fronteiras. Nas entrelinhas, Yaqub Sibindy referiu que avisou o Governo sobre a possível escalada do terrorismo em 2016, por sinal no primeiro ciclo de governação de Filipe Nyusi, mas foi ignorado. Segue-se a entrevista.
Duarte Sitoe
Os partidos extraparlamentares têm sido criticados por aparecerem somente em períodos eleitorais e alguns funcionarem praticamente nas pastas dos seus presidentes. Como está a saúde do PIMO actualmente?
– A saúde do PIMO é a melhor que existe no mundo, não só em Moçambique e África para a resolução de todos problemas de África, do terceiro mundo e particularmente de Moçambique.
Agora, de quem é a responsabilidade pela carência financeira dos partidos políticos? Os partidos políticos sobrevivem através dos seus membros que contribuem pagando quotas. Agora, qual é o cidadão moçambicano que paga quota do seu partido? Qual é a fonte de riqueza que ele tem para pagar a quota? Desde 1975 temos défice de emprego neste país. O protocolo da soberania financeira recebemos de Portugal, o protocolo da cidadania perante ao mundo somos país com cidadania própria, mas o protocolo de fundos de receitas do Estado colonial da província ultramarina não recebemos nada. Desde 1977 estamos a gerir um país sem dinheiro.
Conclusão: o povo está pobre e não tem capacidade para suportar o luxo da democracia multipartidária. Aceitamos porque queríamos uma saída pacífica para acabar com a guerra.
A ideia de diabolizar os partidos porque não têm escritórios é uma marginalização de má fé, uma propaganda que não pode continuar a sair da boca. A Frelimo deve condenar este tipo de atitudes dos seus membros, eles estão a insultar a oposição e isso pode trazer uma revolta que não ajudará o país. Parabéns aos partidos sem sede própria que participam desde 1998 nas eleições autárquicas sem fundos do Estado.
Falou que o PIMO tem um projecto para a resolução dos problemas de Moçambique. Como pretende implementá-lo?
– Através da bancarização dos recursos minerais de África para torná-los numa liquidez em moeda bancária e então fortificar a renda dos africanos. Chama-se Banco de Desenvolvimento da Família (BDF). Esta terra é do povo, isso significa que a riqueza que nela existe pertence ao povo.
“Novo Moçambique já não é só de Moçambique, é um projecto aprovado e homologado pelas Nações Unidas”
Moçambique caminha a passos largos de completar 50 anos como um país independente. Contudo, a pobreza ainda faz parte do quotidiano dos moçambicanos, apesar da abundância dos recursos naturais. Como é que olha para esta situação?
– Há uma clara falência do projecto da independência, porque quase 50 anos depois o povo não come a sua independência. De quem é a obrigação para evitar a falência do Estado? É do cidadão? É do político? É por isso que nasce o PIMO, fundado por Yaqub Sibindy, que entra com um projecto de distribuição das riquezas.
O PIMO é o primeiro partido a criar um projecto de governação, aceite até pelo próprio partido no poder. Temos um projecto aceite por África inteira. O projecto Novo Moçambique tem como objectivo a distribuição das riquezas entre o povo e o Estado por intermédio da transformação da família como empresa. Temos 36 milhões de hectares, se cada família é empresa perguntamos quantas famílias existem, a resposta é que no mínimo temos 3,6 milhões de famílias, significa que é possível cientificamente definir que 10 hectares é a quota de cada família.
Este pensamento desaguou nas Nações Unidas. O PIMO e o seu projecto Novo Moçambique foram matriculados nas Nações Unidas. Esse projecto já não é só de Moçambique, não é de África, é um projecto aprovado e homologado pelas Nações Unidas. Não foi um departamento qualquer que reconheceu isso, é uma academia das Nações Unidas que estudou o projecto passo a passo. Desde que iniciamos a nossa maratona, em 1994, somos objecto de estudo por sábios da academia da ONU, composta por um grupo da elite do saber. Reconheceram que este projecto é científico, serve de modelo para África e para o terceiro mundo.
Se foi reconhecido pela ONU, o que falhou efectivamente para não ser implementado em Moçambique?
– Não falhou nada. Se Moçambique não quiser implementar é com eles. Yaqub Sibindy não ficou afectado com isso. Queríamos trabalhar com um projecto científico e saiu. O povo vai dizer que temos projecto reconhecido perante ao mundo, podemos ser accionistas do Banco de Desenvolvimento Familiar porque o Governo não aceita. O país deve andar com modelo sem agenda, enquanto temos um documento reconhecido pelas Nações Unidas em Maio de 2024. Sibinde é doutor honorífico em Filosofia por causa do PIMO e do seu pensar por causa do projecto Novo Moçambique. O cão não mordeu o homem, o homem é que mordeu o cão.
“Projecto Novo Moçambique pode acabar a democracia do mendigo”
Como é que se sente depois de ser reconhecido com Doutor Honoris Causa em reconhecimento do Projecto Novo Moçambique?
– As Nações Unidas seguiram passo por passo, conhecem bem o projecto. Lamento quando os moçambicanos dizem que o PIMO não existe ou que o PIMO está falido. A resposta está aí, o próprio Governo está a dar o reconhecimento que nunca deu a Renamo e MDM. Apesar das cabeçadas políticas, existe o projecto.
Estamos diante de um raiar do sol e alguém diz que não existe sol. O partido PIMO não é uma pessoa. Se não vou às eleições, esta é minha estratégia.
Se Chapo quer ser presidente da mudança geracional, que abrace o projecto Novo Moçambique, que é das Nações Unidas. Este projecto é propriedade da nação moçambicana, não é do PIMO e de Yaqub Sibindy. Foi a academia da ONU que deu este título e vou entregar à nação moçambicana. Na África sou o segundo a receber, depois do presidente do Zimbábwe, Emmerson Mnangagwa, porque conseguiu fazer um país fora do ocidente, hoje tem ouro na África em relação a outros países, mas sob sanções.
Referiu anteriormente que pretende assaltar o poder. Não participando nas eleições, como é que pretende tornar isso possível?
– A minha forma de conquistar o poder não é nas urnas. A urna é para dar oportunidade ao cidadão para dizer se o senhor quer ser governado por esta ou outra agenda. O cidadão vota na agenda que quer. Mesmo sendo da Frelimo teria coragem de recusar ser accionista das riquezas do Estado? Na prática, o PIMO quer dar 10 hectares infra-estruturados, com estrada, energia e com água a título permanente a cada família.
Esse é o quinhão que o povo ganhou em nome da luta e libertação contra o colonialismo português. Não se negocia democracia com barriga vazia, o PIMO não quer ir às urnas para perguntar ao povo se quer ser accionista da terra que é deles, do gás, grafite, ouro. Nunca se pergunta ao escravo se quer ser livre, é abrir as algemas e o deixar viver livremente. O PIMO não vai às eleições para sufragar o projecto Novo Moçambique porque toda a gente quer ter acesso às terras em nome de Estado.
O povo quer formar um Governo sem cores políticas, sem derrotados e sem vencedores para transformar as riquezas de Moçambique em liquidez e fazer que cada família ganhe um estatuto de ser acionista de Banco de Desenvolvimento Familiar.
Com isso pretende dizer que o Projecto Novo Moçambique traria independência financeira ao país ao invés de viver mendigando?
– A democracia do mendigo acaba. África faliu por causa deste projecto. Ninguém alimenta a casa do vizinho enquanto morre a fome. Portugal não tem para dar Moçambique, Europa não tem para dar Moçambique porque eles também têm seus problemas. O grafite é de Moçambique e não da Europa, os recursos minerais são daqui, por que não temos dinheiro para sustentar o Estado?
“As eleições desde 1994 são tipicamente uma ilusão”
O País caminha a passos largos das eleições gerais. Alguns candidatos já começaram a falar da sua agenda de governação. Qual é a análise que faz das mesmas?
– As eleições desde 1994 são tipicamente uma ilusão. A Frelimo vai cair porque o pecado é maior, mas Venâncio Mondlane, Ossufo Momade e Lutero Simango se vencerem irão ao clube de Paris, irão para o Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional para endividar o país e tudo continuar na mesma. O FMI não dá porque tu queres, ele determina responsabilidades aos seus clientes no mundo.
Os que ganharem terão que sentar comigo para dar o PIN da economia do país aceite pelas Nações Unidas. Como Doutor Honoris causa, tudo que carimbo passa, é esse lucro que o país vai ter. Tudo que Moçambique precisar ao nível do conselho das nações no mundo islâmico financeiro, ocidental vai conseguir. O projecto Novo Moçambique tem como objectivo financiar ou tornar o Estado como cliente da família.
“Em 2016 avisei o Governo de Nyusi (sobre o terrorismo) e desprezou”
Alguns analistas apontam para a pobreza e, sobretudo, as desigualdades sociais como uma das causas do terrorismo na província de Cabo Delgado. Se tivesse sido implementado o Projecto Novo Moçambique o país teria fintado este fenômeno?
– Não é a primeira vez que trabalho com a ONU. O Governo sabe que faz muito tempo. Em 2016 recebi uma notificação das ONU para chamar atenção ao Governo. Disseram que a África Austral está a dormir numa mordomia tão sossegada. Desde que acabou a guerra da UNITA e da Renamo nunca mais houve armas de fogo, mas avisa os governos que vai haver problemas.
Em 2016 avisei o Governo de Nyusi e desprezou. Depois apresentei uma companhia na qual Borgis Johnson é um dos accionistas que se ofereceu para combater os terroristas antes de serem uma grande dor de cabeça, o Governo não aceitou e depois veio o Ruanda.
A Guerra de Cabo Delgado, o Governo e o partido Frelimo conhecem muito bem. Podíamos ter estancado com esse projecto porque não teríamos desigualdades sociais se as famílias fossem empresas e accionistas do Estado. O problema do terrorismo é alimentado porque os que lutaram para libertar o país não estão a comer nada, a partir daí quando vem um terrorista de má fé explorar esse desiquilíbrio ele apanha a protecção da parte que está a em desvantagem que são os que não estão a comer nada.
Num passado recente defendeu que o país deveria adiar as eleições gerais. Ainda defende essa ideia?
– Os fundos disponibilizados para as eleições gerais deviam alimentar outros sectores. Anular eleições e levar os candidatos para uma mesa redonda, posso avaliar e moderar o debate, não ao Governo. Temos que unir para a transformação dos recursos que temos com transparência através do banco de todos moçambicanos. No dia que tivermos empresas tributárias que pagam imposto ao Estado e este imposto vai para o Orçamento do Estado.
Este Orçamento vai pagar os salários da função pública, este imposto vai garantir que os partidos que concorrem não percam tudo, vão ter fundos para fiscalizar o Governo. Isso chama-se a criação da terceira república. A primeira República foi com Eduardo Mondlane e Samora Machel. A segunda com Chissano e agora é a terceira, com Yaqub Sibindy e os jovens. Esse Governo seria de reconciliação e perdão, ou seja, esquecer as dívidas ocultas e que Nyusi governou mal.
Os outros partidos estariam dispostos a aceitar essa proposta?
– Eu vou propor porque estamos num país democrático. Se eles não quiserem, não será problema. Para o PIMO, é referendo se a manutenção da segunda república que tem agenda da democracia da gestão de conflitos, essa agenda o PIMO quer uma agenda do desenvolvimento sustentável através de uma governação de consenso nacional.
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