Lutero Simango acusado de nepotismo, perseguição e caça às bruxas

DESTAQUE POLÍTICA
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A escassos meses do arranque da campanha eleitoral parece estar para romper algum barulho no seio do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), com epicentro na província de Sofala. É que à medida que vão sendo reveladas as listas que concorrem à Assembleia da República e às Assembleias Provinciais, uma onda de agitação vai tomando conta de uma ala que acusa o presidente do partido, Lutero Simango, de nepotismo e perseguição. Um dos pontos da discórdia tem a ver com o facto de o antigo secretário-geral e actual candidato a governador pela província de Sofala, Manuel Domingos, ter sido colocado como número quatro na lista dos candidatos à Assembleia da República, uma posição que lhe garante poucas chances para poder renovar o seu mandato na casa do povo pois em 2019, o MDM só conseguiu eleger dois deputados naquele círculo eleitoral, o que é interpretado como sendo a continuidade de uma suposta perseguição a que é alvo desde que tentou concorrer à presidência do partido. Por conta da situação, consta que Manuel Domingos pondera colocar a vaga de cabeça de lista por Sofala à disposição.

Jossias Sixpence – Beira

Naquele que pode ser mais um capítulo nas cíclicas crises internas que o MDM tem vindo a experimentar desde a morte do seu líder, Daviz Simango, o actual presidente do MDM está a enfrentar uma onda de contestação por parte de alguns membros seniores daquela formação partidária.

Em causa está um suposto nepotismo na composição das listas dos candidatos à Assembleia da República e às Assembleia Provinciais, sobretudo em Sofala, onde é acusado de ter privilegiado pessoas próximas e familiares nos primeiros três lugares da lista que concorre à Assembleia da República naquele círculo eleitoral.

Trata-se de Silvia Cheia, que ocupa a primeira posição e que, segundo o que se diz, caiu nas graças de Lutero por ter sido uma das pessoas que endossou apoio à sua candidatura no Congresso passado. É a segunda vez que Silvia Cheia, actualmente deputada, concorre depois de ter ficado suplente em 2019, como número três, entrando posteriormente na Assembleia da República, em substituição de Albano Bulaunde.

O número dois da lista é Maria Virgínia dos Reis, esposa do académico Samuel Simango, que tem ligações com a “família Simango”, uma situação que vem reforçar a ideia de que o MDM é um regulado. Já o número três é ocupado por Eliseu de Sousa, membro da comissão de jurisdição que também endossou apoio à candidatura de Lutero Simango.

Manuel Domingos, antigo número dois do MDM e deputado da Assembleia da República, foi colocado como o quarto da lista, neste caso, com poucas chances de renovar a sua candidatura tendo em conta que nas últimas eleições não foi para além de dois assentos naquele círculo eleitoral.

Esta situação está a gerar um grande descontentamento no seio de alguma ala do partido em Sofala e, segundo apurou o Evidências, tem estado a pressionar Manuel Domingos para renunciar a sua candidatura ao cargo de governador de Sofala, por supostamente não estar a ser amparado pela direção do partido.

Como condição para avançar com a candidatura ao cargo de governador provincial, os apoiantes de Manuel Domingos exigem que o mesmo seja colocado num dos dois primeiros lugares da lista, estando, neste momento, em curso uma negociação nesse sentido.

“É estranho porque o candidato a governador sempre é privilegiado na lista, veja que nas eleições de 2019, o candidato a governador provincial foi Albano Bulaunde, e este foi o número 1 na lista do MDM, agora não sabemos qual é o critério de eleição desenhado e isso mostra que o partido MDM virou uma gang de amigos, que já não promove debates de ideias mas sim debates de pessoas. Estamos a ser marginalizados, pode ser o mesmo plano para marginalizar a carreira política do Manuel Domingos, por isso estamos a negociar para este passar para o número 1 na lista de eleição de deputados na Assembleia da República. Caso não se respeite esta decisão o candidato vai renunciar”, ameaçam alguns membros que contactaram o Evidências na última semana.

A direcção do partido Movimento Democrático de Moçambique, quando contactada para se pronunciar sobre o assunto, escusou-se a prestar qualquer esclarecimento. Idem, todas as tentativas de ouvir a versão do próprio Manuel Domingos redundaram no fracasso.

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