Alexandre Chiure
Moçambique está na ressaca das comemorações dos 49 anos da independência nacional. Por estas alturas, deviamos mostrar ao mundo que, no fim de quase meio século, crescemos. Reduzimos para para o mínimo a necessidade do apoio externo para o Orçamento Geral de Estado e estamos a andar com os nossos próprios pés.
Passados 49 anos, deviamos falar de autosuficiência alimentar, pelo menos em algumas culturas. Que, por via disso, precisamos cada vez menos de importação. Que já temos um sistema de educação e saúde eficientes que respondem às necessidades das populações.
Deviamos dizer que reduzimos, para o mínimo, as assimetrias regionais. Mostrarmos que já somos adultos e temos capacidade de dirigir os nossos próprios destinos.
Infelizmente, o balanço que se pode fazer não é esse. Para começar, estamos perante um país sem agenda nacional que estabeleça as grandes linhas orientadoras de desenvolvimento do país, com prioridades, prazos e metas claras a atingir.
Com a falta desse instrumento, Moçambique fica a reboque do presidente que lá estiver. Ficamos sem saber, a dado momento, para que direcção vamos, quais são as causas a abrançar e onde pretendemos chegar.
Doi dizer que continuamos a ser um país que vive com mão estendida, a depender de donativos ou de ajuda externa. Não somos autosuficientes em nada. Importamos quase tudo com tanta terra fértil (36 milhões de hectares aráveis), água abundante e mão de obra barata à disposição. As estratégias agrárias morrem nas gavetas.
O distrito de Chókwè, que era considerado o celeiro da Nação e que, em 1975, chegou a atingiu o pico na produção do arroz ao colher 75 mil toneladas, hoje é irreconhecível. Os seus índices de produção baixaram drasticamente, situando-se em pouco mais de 10 mil toneladas. Estamos perante um caso de regressão.
Depois de uma política agrária que conduziu o país à bancarrota, caracterizada pela expropriação de terra dos farmeiros brancos, o Zimbabwe, abraço ainda com sansões económicas impostas pelo Ocidente desde os tempos do regime de Robert Mugabe, é hoje autosuficiente em trigo.
Na saúde, a cantiga é a mesma: falta de medicamento nas farmácias dos hospitais. Além disso, as unidades sanitárias carecem de equipamento para o diagnóstico e tratamento dos doentes, Os serviços que prestam são de fraca qualidade e as elites políticas buscam assistência médica nas clinicas privadas.
A rede viária está quase toda rebentada, tirando um e outro caso. Os produtos, nos centros de produção, apodrecem por falta de escoamento. Não há estrada para o efeito. A ligação entre sul, centro e norte, via rodoviária, é um martírio. A EN1 é uma autêntica vergonha. Tudo degradado.
O país tinha todo o tipo de indústria herdada dos colonos, desde ligeira a pesada, alimentar, vestuário e calçado. Produziamos pilhas, baterias de automóveis, pneus de veículos com padrões internacionais, cobertores e outros produtos. Todos estes sectores já não existem por falta políticas apropriadas para o estímulo da produção industrial.
Os serviços básicos oferecidos pelo Estado às populações, nomeadamente educação, saude, abastecimento de água deixam muito a desejar. O saneamento básico é precário. Ciomo consequência disso, a qualidade de vida do moçambicano piorou.
Em pleno século XXI continuamos a ter crianças a estudarem sentadas no chão por falta de carteiras com tanta madeira que o país tem e que é contrabandeada para China, para além de petizes que estudam debaixo de árvores.
Este sector não consegue ser bom sequer na alocação do livro escolar, de distribuição gratuita, nos estabelecimentos de ensino. Há escolas que até agora que estamos no fim do primeiro semestre do ano ainda não receberam este material. A situação é encarada com normalidade. Ninguém foi demitido e ninguém demitiu-se do cargo.
A corrupção transformou-se numa forma de ser e estar no país. Afecta até instituições vistas como reserva moral, nomeadamente tribunais, polícia e outros, para não falar de instituições públicas e privadas. As desigualdades sociais acentuaram-se. O sistema de justiça é ineficiente e dominado pelo regime do dia.
As estatísticas sobre o crescimento económico no país que nos têm estado a vender está longe de se reflectir na mesa do cidadão. Famílias inteiras debatem-se com o que comer em cada dia que nasce.
No fim de 49 anos da independência, Moçambique tornou-se cada vez mais pobre, figurando no top 10 a nível mundial. Nos últimos dez anos, a pobreza aumentou 87 por cento. Hoje, 65 por cento dos 30 milhões de moçambicanos são pobres.
Conclusão: no lugar de progredir, o país regrediu em muitos aspectos, apesar de inaugurações de torneiras de água, tribunais, escolas aqui e acolá e outras realizações reclamadas pelo governo.
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