Volvidos sete meses do assassinato macabro do jornalista moçambicano, comentador e director editorial do Jornal Ponto Por Ponto (PnP), João Chamusse, arranca, esta quinta-feira o julgamento do único suspeito do crime, o jovem Elias Ezequiel Ndlate, tido como confesso. No entanto, continuam a pairar muitas zonas de penumbra sobre as razões do móbil e executores do crime que chocou a classe jornalística, pois embora as autoridades de investigação insistam na tese de que possa se tratar de crime comum, as suas peitas de motivações políticas prevalecem.
Na audiência de discussão e julgamento do caso do assassinato de João Chamusse, prevista para 09 horas do dia 08 de Agosto, quinta-feira, na província de Maputo, para além do próprio arguido, estão arrolados 19 declarantes, entre vizinhos, familiares, pessoas próximas da vítima e do réu, entre outras.
Depois de várias tentativas e versões para a explicação e investigação da morte do carismático jornalista e comentador de Jõao Chamusse, o Ministério Público (MP) decidiu submeter ao tribunal o processo com um arguido preso.
Trata-se de Elias Ezequiel Ndlate, o último a ser detido de um total de cinco suspeitos, quatro dos quais foram depois restituídos à liberdade, encontra-se encarcerado nas celas especiais do Comando do Serviço Nacional de investigação Criminal (SERNIC), no Lingamo, na província de Maputo, terá confessado o crime à polícia.
O caso conta com 19 testemunhas e por sinal, vai decorrer com a ausência de algumas cabeças que primeiramente foram apontadas como actores de crime, como é o caso do Nelson Mulanda, vizinho de Chamusse, uma das últimas pessoas que o terá visto com vida.
“(…) o Tribunal Judicial da Província de Maputo, manda que sejam devidamente notificados os intervenientes abaixo para comparecerem neste tribunal, no próximo dia 08 de Agosto de 2024, pelas 09 horas, a fim de ter lugar a audiência de discussão e julgamento (…) penal nos presentes autos de processo comum com o numero acima em que o Ministério público move contra o arguido: Elias Ezequiel Ndlate”, lê-se na notificação destinada ao presumível autor do crime e respectivos declarantes.
Refira-se ainda que igualmente, foi notificado o Jornal Ponto Por Ponto (PnP), onde João Chamusse desempenhava suas funções como jornalista e editor, para também comparecer no dia julgamento.
Recorde-se que a Polícia da República de Moçambique aquando da tragédia, apresentou várias figuras envolvendo vizinhos (Nelson Mulanda), inclusive a familiares do malogrado (sobrinho) como autores do crime hediondo, para além de alegar a posse de instrumentos incrimais (telefone e laptop) e detenções temporárias.
Indignação e pressão internacional
Com o móbil e autores do crime ainda por esclarecer, João Chamusse, conhecido pelo seu trato fácil e jeito simples de comunicar-se com os moçambicanos tanto pelo jornal, assim como nos seus habituais comentários no programa Quarto Poder da TV Sucesso, tornou-se símbolo da martirizada classe jornalística.
Logo após a notícia de sua morte a 14 de Dezembro de 2023, personalidades e instituições de defesa dos direitos humanos nacionais e internacionais, exigiram uma célere investigação e punição exemplar aos autores.
Jornalistas moçambicanos marcharam na capital do país em repúdio ao macabro assassinato e através do MISA Moçambique, submeteram, a 18 de Dezembro, na Procuradoria Geral da República uma petição para exigir mais esclarecimentos e repudiar crimes contra jornalistas no país.
“Viemos deixar um apelo ao Ministério Público, para que exerçam as suas atribuições e que façam uma investigação séria e profunda que permita chegar a verdade”, disse Jeremias Langa, presidente do MISA.
Vários organismos internacionais como a Aministia Internacional, a Human Rights Watch e a Unesco juntaram-se a milhares de vozes na busca por justiça pela morte de Chamusse.
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