- Terá feito acordo no passado para acomodar fraude eleitoral?
- Momade tenta escapar da ideia de que vive de acordos, com objetivos não confessos, com a Frelimo
- O líder da Renamo já foi acusado de ter sido comprado pela Frelimo
O Presidente da Renamo, Ossufo Momade, escorrega em comício e deixa escapar em seu discurso expressões que sugerem que tem feito acordos com a Frelimo para aceitar resultados fraudulentos. Falando em comício realizado em Cabo Delgado, no decurso da campanha eleitoral na qual iniciou sete dias depois de arranque, disse que não fará nenhum acordo de estabilidade com a Frelimo se houver fraude eleitoral. “Desta vez, se eles (Frelimo) provocarem fraude, não vão fazer acordo comigo, terão que fazer acordo com a população moçambicana”, afirmou Momade, que em vários momentos foi acusado de fazer acordos não vantajosos à Renamo. Nas últimas eleições, Momade chegou a gazetar nas manifestações que buscavam pressionar a Frelimo a devolver as autarquias que Renamo reivindicava ter ganho. Em entrevistas, o líder do maior partido da oposição já assumiu que “temos engolido sapos porque queremos paz”.
Evidências
Ossufo Momade nunca foi uma figura consensual dentro da Renamo. Em vários momentos, o líder do principal partido da oposição no país foi acusado de ter sido comprado pela Frelimo, acusação que foi ganhando eco com o fraco desempenho da Renamo que se vem mostrando incapaz de capitalizar o eleitorado num contexto em que a Frelimo não se mostra melhor opção. Mas, Ossufo Momade já reagiu publicamente que não foi comprado pela Frelimo e que está a “engolir sapos (da Frelimo)” porque quer “a paz para os moçambicanos”.
É no decurso deste contexto que o recente discurso da Renamo não foi visto, e nem pode, de forma isolado. Apoiando-se no histórico das eleições em Moçambique, o candidato da Renamo à Presidência da República, Ossufo Momade, já veio ao terreno deixar um sério aviso à navegação, ou seja, referiu que desta vez será implacável a fraude.
“Quando vamos às eleições, eles (Frelimo) provocam fraudes, e desta vez, neste ano de 2024, se eles provocarem fraude não vão fazer acordo comigo. Terão que fazer acordo com a população moçambicana. Eu não vou aceitar fraude porque nós não nascemos para estar na oposição, também queremos governar”, declarou Momade, para depois prometer reestruturar o sector empresarial do Estado.
Historicamente, a referência do líder da Renamo a um novo acordo com a Frelimo tem a ver com o facto de em Agosto de 2019 ter rubricado o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional para pôr fim a surtos de violência armada entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Aquela força política nunca aceitou os resultados das eleições, levando a crises que provocaram confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Renamo.
Ossufo Momade e as promessas de praxe
As eleições presidenciais de 9 de outubro vão decorrer em simultâneo com as legislativas e dos governadores e das assembleias provinciais.
Na pessoa de Ossufo Momade, a Renamo promete melhorar a qualidade de diálogo com o sector privado, visando atender às suas preocupações e resolver os constrangimentos que os investidores enfrentam; promover um regime fiscal transparente e amigo do investimento; realizar uma política monetária consistente para o investimento e consumo; combater, energicamente, a corrupção em todas as instituições, aprofundando as medidas de transparência para prevenir ou controlar a sua ocorrência; melhorar os salários da Função Pública, introduzindo medidas de actualização permanente do valor dos salários e das pensões; reestruturar o sector empresarial do Estado, privatizando as empresas deficitárias e economicamente inviáveis; promover a estabilidade política e social, bem como a segurança nacional.
Ainda no rol das promessas, o candidato suportado pela Renamo prometeu renegociar os megaprojectos em caso de granjear a simpatia dos moçambicanos para dirigir o país nos próximos quatros anos.
“Quando chegarmos à presidência, vamos renegociar os megaprojetos para podermos beneficiar aos moçambicanos, é ou não é?”, questionou, acrescentando “o gás que existe em Inhambane vai à África do sul, mas é extraído aqui, e pouco nos beneficia. Os megaprojetos instalados na província de Cabo Delgado também não beneficiam aos moçambicanos, então, nós vamos mudar isso. Só um punhado de gente se enriquece em Moçambique, enquanto isso a maioria fica na pobreza”, disse.
O candidato presidencial da Renamo falava no sábado, num comício, inserido na campanha eleitoral, no distrito de Namuno, província de Cabo Delgado, norte do país.
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