- PODEMOS inferiorizou a mulher e Roberto Tibana não gostou…
- Introdução da pena de morte também pesou para a decisão do economista
O conceituado economista Roberto Tibana recuou no seu apoio incondicional à candidatura presidencial de Venâncio Mondlane. De acordo com Tibana, a inviabilização da Coligação Aliança (CAD) e a entrada em cena do PODEMOS pesaram para a sua decisão, uma vez que a força política que agora suporta a candidatura trata a mulher “como um ser inferior, puramente dedicado ao cuidado do homem e à reprodução biológica de força de trabalho”. Por outro lado, o economista mostrou-se contra a ideia do PODEMOS de “recuperar” a pena de morte como forma de reduzir os índices de corrupção no país.
Em Maio do corrente ano, Venâncio Mondlane anunciou, em Nacala, província de Nampula, que seria candidato à Presidência da República, sendo que no mês seguinte, ou seja, em Junho viu o economista Roberto Tibana a endossar apoio a sua candidatura.
Tibana refere que decidiu apoiar incondicionalmente VM pela sua forma aberta e inclusiva de tratar assuntos da nação envolvendo e ouvindo todos cidadãos.
“Após que ele se afastou da Renamo, e na continuidade das relações de amizade e colaboração que vinha mantendo com ele pessoalmente mesmo quando ainda deputado por esse partido na Assembleia da República, ofereci-me (e até insisti) em ajudar-lhe a desenvolver o seu manifesto como candidato presidencial independente, ao que ele acedeu. Tal como esclareci no programa “De frente com o Povo” da TV Sucesso no dia 12 de Julho passado, a minha associação com este projecto baseou-se fundamentadamente no princípio de participação política apartidária e de exercício de cidadania, para dar corpo às minhas convicções e contribuição para a construção de um Moçambique de progresso. Estou grato ao Engenheiro Venâncio Mondlane por me ter dado essa oportunidade ao aceitar-me como apoiante activo do seu projecto político. Foi extremamente instrutivo para mim trabalhar com ele e com os seus colaboradores na preparação do Pré-Manifesto que serviu de base para as consultas públicas, num acto inédito por sinalizar uma maneira aberta e inclusiva de tratar os assuntos da nação envolvendo e ouvindo a todos os cidadãos que queiram contribuir”, lê-se na publicação de Roberto Tibana nas redes sociais.
No entanto, a Comissão Nacional de Eleições, alegando que ouvi irregularidades na inscrição, decidiu retirar a Coligação Aliança Democrática das Eleições Legislativas e das Assembleias Provinciais, deixando Venâncio Mondlane órfão de apoio.
Para colmatar a lacuna deixada pela exclusão da CAD, Mondlane aliou-se ao PODEMOS. Esta mudança pesou para Roberto Tibana recuar da decisão de apoiar incondicionalmente VM para não castrar a sua capacidade de fazer juízo independente e tomar posições desinibidas no debate de assuntos importantes que configuram desafios existenciais sobre o futuro do nosso país.
Introdução pena de morte para os corruptos (também) pesou para a decisão de Tibana
Aliás, um dos pontos que fez com o conceituado economista retirasse o seu apoio à candidatura Presidencial de Venâncio foi o facto dos apoiantes da PODEMOS terem inferiorizado publicamente a mulher.
“A primeira linha vermelha foi atravessada pelas declarações retrógradas e repudiáveis acerca do papel da mulher feitas por um militante ou dirigente do PODEMOS, tornadas públicas em câmaras televisivas. Essas declarações, que tratam da mulher como um ser inferior, puramente dedicado ao cuidado do homem e à reprodução biológica de força de trabalho familiar, rejeitando completamente a emancipação política, económica e social da mulher, vão contra os valores que eu defendo, e constituem um ataque inaceitável contra as conquistas (ainda que parcas) da mulher moçambicana desde que o nosso país ficou independente. Foi repugnante ouvir tais declarações de um partido político que pretende dirigir o nosso país, numa fase em que a mulher é vítima das formas mais repugnantes de violação dos seus direitos perpetrada pelos homens, incluindo a sua escravização sexual e o assassinato”
No seu manifesto eleitoral o PODEMOS pretende reintroduzir a pena de morte para crimes de corrupção, observando que com esta decisão haverá uma redução drástica dos índices de corrupção em Moçambique. Contudo, Tibana não se revê na proposta da força política que suporta a candidatura de VM.
“Não vou aqui sequer esperar que me sejam trazidos os fundamentos e evidência de que a pena de morte possa ter tal efeito. Simplesmente quero lembrar que já tivemos pena de morte em Moçambique (introduzida pela Frelimo depois da independência e abolida em 1990) e que esta foi também usada com esse mesmo argumento (entre outros). Porém, alguns dos maiores corruptos da actualidade neste país, aqueles que de facto trouxeram a mais recente desgraça económica e social em que o país se encontra, foram mesmo esses que instituíram a pena de morte e a executaram inclusivamente em público e obrigando a população a ir assistir a essas execuções, em autênticos actos de barbárie. É preciso lembrar que nesses anos foram executadas em público pessoas alegadamente por terem sido apanhadas a atravessar a fronteira com alguns quilos (não toneladas!) de camarão, por ordem de indivíduos que depois enriqueceram a vender cimento contrabandeado das fábricas nacionais e roupa de 2ª mão (vulgo “xicalamiodade”) doada ao país para socorrer as vítimas da guerra civil, levada para países vizinhos em aviões que deviam na altura estar a cumprir outras missões”, refere Tibana para depois reiterar que é insustentável continuar a apoiar VM.
“O que tem isto a ver com a candidatura do Engenheiro Venâncio Mondlane? Tem muito a ver, porque estando ele num acordo com o POFDEMOS, fica a incerteza de qual é o seu posicionamento em relação a estas (e potencialmente outras matérias) que constituem compromissos daquele partido. Fica-se sem se saber que partido tomará o Engenheiro Venâncio Mondlane se (ou quando) chegar ao poder e o PODEMOS no parlamento fizer avançar propostas para implementar essas ideias sobre a mulher e a pena de morte. Nestas circunstâncias (que são radicalmente diferentes daquelas em que estávamos em 20 de Maio passado ou até o momento em que a plataforma CAD foi arbitrariamente inviabilizada e o candidato se aliou ao PODEMOS), é insustentável o carácter incondicional do apoio que eu publicamente declarei em relação ao Engenheiro Venâncio Mondlane como candidato presidencial independente”.
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