Acordo de coligação vs futuro político de VM7

OPINIÃO

Alexandre Chiure

Quando Venâncio Mondlane e o Podemos assinaram o acordo político, a 21 de Agosto de 2024, no distrito da Manhiça, em Maputo, nas vésperas das eleições de 9 de Outubro, era para atingir, de parte a parte, objectivos claros e concretos.

O Podemos, de Albino Forquilha, que, por meios próprios, não conseguiu chegar a lado nenhum, queria aproveitar-se do capital político de Venâncio Mondlane, do seu carisma e credibilidade, do carinho que goza perante o público, para entrar na AR.

Com o casamento, Venâncio Mondlane pretendia ter uma bancada parlamentar para, em caso de vitória eleitoral nas eleições presidenciais de 9 de Outubro em que participava como um candidato independente, defender os seus interesses políticos.

As duas partes não divulgaram o conteúdo do acordo a que chegaram, depois de o VM7 perder a CAD, desclassificada pelos órgãos eleitorais, alegando irregularidades insanáveis, mas, na prática, este era o fim que cada um esperava com a coligação.

Outros partidos políticos lançaram os seus anzóis, mas não conseguiram pescar o VM7, um político cobiçado por todos devido ao seu estilo peculiar de fazer política e aos princípios e valores que defende. O MDM o queria para melhorar a sua posição na AR de um partido com apenas oito assentos.

A Nova Democracia, de Salomão Muchanga, e a Revolução Democrática, de Vitano Singano, que entraram na jogada e perderam para Podemos, queriam um empurrão para entrarem no parlamento.

Hoje, o acordo entre o VM7 e o Podemos, de meter inveja, a vigorar até 2028, à porta das eleições autárquicas, está preso por um fio. Há acusações da parte de Venâncio Mondlane no sentido de que Albino Forquilha e a sua equipa não estão a cumprir com o combinado.

Procurei saber mais sobre o que é que estava em causa na discussão. Não tive acesso ao texto do acordo, mas pude colher alguns detalhes do mesmo. informei-me de que as partes assumiram que tudo que diga respeito ao dossier eleições de 9 de Outubro ficava na responsabilidade do VM7.

O objectivo era evitar dispersão de ideias, choques ou possíveis contradições nos discursos públicos entre Albino Forquilha e Venâncio Mondlane que podiam ser explorados, negativamente, pelos seus adversários políticos, o que é correcto.

Além disso, o VM7 era a cara das manifestações que se seguiram à divulgação dos resultados eleitorais pela CNE, a 24 de Outubro. Fiquei a saber que na base disso, Albino Forquilha estava proibido de fazer pronunciamentos políticos sobre as eleições.

É aqui onde os problemas começam. É que o presidente do Podemos aceitou a aparecer, numa conferência de imprensa, ao lado do comandante geral da Polícia, Bernardino Rafael, na tentativa de o forçar a desconvocar manifestações. Beliscou o acordo.

E mais. Albino Forquilha aceitou participar num encontro com PR sobre eleições. Os convidados eram os candidatos às presidenciais, nomeadamente Daniel Chapo, da Frelimo, Ossufo Momade, da Renamo, Lutero Simango, do MDM. Ele figurava como uma espécie de substituto de Venâncio Mondlane. Beliscou o acordo.

Como se isso não bastasse, Forquilha, em algum momento, assumiu-se, publicamente, como o novo líder da oposição, no lugar de Ossufo Momade, cujo partido, a Renamo, ficou em terceiro lugar. Consciente ou inconscientemente, reconheceu os resultados eleitorais divulgados pela CNE em plena luta pela justiça eleitoral liderada por VM7. Desvirtuou o sentido das coisas. Deixou o VM7 isolado.

Pouco depois do Conselho Constitucional selar os resultados, através de um acórdão, em que o Podemos passou de 31 assentos, na visão da CNE, para 43, o presidente deste partido anunciou que os deputados eleitos, da parte da sua formação política, iriam tomar posse, o que significa capitulação. O reconhecimento tácito de que quem ganhou as eleições foi a Frelimo e o seu candidato, apesar da promessa de continuar com a luta pela justiça eleitoral só para dar a entender que ainda está com o Venâncio.

Com este seu posicionamento, Forquilha provou, mais uma vez, que estava, faz tempo, completamente desalinhado com o VM7, o que, para os seguidores de VM7, configura-se uma traição. Na prática, deixou a perceber que as manifestações não tinham mais sentido.

O que se procurou evitar ao concentrar todo o trabalho reivindicativo dos resultados eleitorais por parte de Podemos à pessoa de VM7, é o que está a acontecer. Os deslizes, propositados ou não, de Forquilha estão a ser muito bem explorados pelos seus adversários políticos para acelerar o divórcio entre as parte que vem sendo promovido há já bastante tempo quando se tenta dar a entender que o único interlocutor, no Podemos, é Albino Forquilha e que VM7 não existe.

Na verdade, Albino Forquilha atingiu os seus objectivos políticos. O Podemos está no parlamento. Ele é o novo líder da oposição, com direito a um gabinete, casa, dinheiro, carros e outras regalias. As manifestações, para ele, já não acrescentam valores naquilo que foram as conquistas destas eleições.

O Venâncio Mondlane, que foi o arquitecto de tudo isto, sai do processo eleitoral sem nada nas mãos. O seu futuro político está desenhado no acordo. Nele, vem escrito o que se deve fazer em caso de vitória ou derrota eleitoral. Mas caso a opção do Podemos, no meio de toda a discussão sobre a violação do convénio, seja de abandonar o VM7, este estaria a condenar-se a si próprio. O Podemos sem o VM7 não tem nenhuma relevância política, o que vale dizer que em 2029 não conseguiria se manter no parlamento.

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