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- Enquanto o grande público se entretém com “caçada” a Álvaro Massingue
- Lineu Candieiro é apenas a barriga de aluguel, o plano é colocar Maria Assunção no poder
- Seria o regresso indirecto de Salimo Abdula, depois de ter colocado Rogério Manuel e Vuma
A corrida à presidência da Confederação das Associações Económicas (CTA), para suceder Agostinho Vuma, ganhou, nas últimas semanas, contornos polémicos após o Conselho Directivo da organização instaurar um processo disciplinar contra a Câmara de Comércio de Moçambique (CCM) e o seu representante, Álvaro Massingue, por alegados atropelos aos estatutos da CTA. O desfecho desse procedimento foi a suspensão da CCM da disputa eleitoral marcada para 14 de maio. A decisão suscitou críticas de falta de transparência e de eventual favorecimento à candidatura de Lineu Candieiro, mas é na figura menos exposta que está o jogo de mestre. Longe dos holofotes, Maria Assunção Abdula é quem está efectivamente a ser preparado sorrateiramente o terreno para ser a próxima presidente da CTA, numa espécie de regresso indirecto de Salimo Abdula que, em termos práticos, controla os destinos daquela agremiação.
Evidências
Após o seu afastamento na sequência de uma deliberação do Conselho Directivo da CTA, Álvaro Massingue continua a alimentar as esperanças de poder ainda concorrer para a sucessão de Agostinho Vuma, tendo para tal arrastado o caso para uma disputa judicial que parece não ter fim breve.
Depois de se ver afastado do processo por via de uma deliberação do Conselho Directivo da CTA, datado de 17 de Abril, Álvaro Massingue não desarmou e recorreu à 5ª secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, para solicitar uma providência cautelar visando a suspensão de eficácia da deliberação.
No passado dia 23 de Abril, o Tribunal judicial da Cidade de Maputo, através da sua 5ª sessão, decidiu manter Álvaro Massingue na corrida ao suspender os efeitos da deliberação que impedia Álvaro Massingue e a CCM de exercerem direitos sociais. No entanto, houve um erro na digitação do tribunal.
No despacho, o Tribunal determina a suspensão da deliberação do Conselho Directivo da CTA de 17 de Abril de 2017, em vez de 2025, facto que está a ser usado pela direcção actual da CTA para sustentar que a decisão judicial se baseia numa deliberação inexistente, pois esta só iniciou funções em Dezembro de 2020 e não existe nos registos internos qualquer deliberação com a data indicada.
Informações na posse do Evidências indicam que, apesar da comissão eleitoral ter-se recusado de receber a candidatura de Álvaro Massingue, sob pretexto de incumprimento do requisito de pré-marcação, este e seu grupo seguem firmes na luta usando, para o efeito, a via judicial para repor o que consideram serem os seus direitos. É do entendimento da Câmara de Comércio de Moçambique, que suporta esta candidatura, que as decisões do tribunal são de cumprimento obrigatório.
Uma das reivindicações é o facto de o Tribunal ter ordenado o actual Conselho Directivo para abster-se de tomar decisões estruturantes e permitir que todas as associações e potenciais candidatos que tivessem a situação regular até 31 de Março pudessem participar do processo.
Quem é o principal beneficiário da disputa sem quartel na CTA?
Desde que surgiram os primeiros sinais de um suposto “combate” à candidatura de Álvaro Massingue, o nome de Lineu Candieiro, candidato suportado pela ANJE, tem sido apontado como aquele que goza de protecção e que parte para a corrida com o estatuto de candidato “oficial” do actual Conselho Directivo, mas as coisas não são como parecem.
Tudo está meticulosamente pensado para proteger a principal pretensão do grupo que actualmente controla a CTA. Tudo indica que Lineu Candieiro é apenas uma “barriga de aluguel”, ou seja, aquele que aparece nos holofotes, mas a verdadeira candidata (única) é Maria Assunção Abdula, esposa do renomado empresário e antigo presidente da CTA, Salimo Abdula, associado a negócios nebulosos com o Estado, incluindo o de fornecimento de contadores de energia eléctrica a preço largamente subfacturado à EDM.
Maria Assunção Abdula tem-se mantido calma e serena, surgindo apenas como “alternativa” enquanto os principais adversários se atiram pedras e desgastam a sua imagem. Lineu Candieiro, cuja campanha vem esfriando nos últimos dias, poderá mesmo desistir à boca da urna para deixar o caminho aberto para a esposa de Salimo Abdula.
Apesar de ser uma empresária que dispensa apresentações tanto a nível nacional como internacional, a sua candidatura é ligada ao esposo, Salimo Abdula, fundador e Presidente do Conselho de Administração do (império) Grupo Intelec Holdings, que por sinal, liderou a CTA entre 2005 e 2011.
Aliás, nos corredores da corrida eleitoral há informações de que Assunção Abdula será testa de ferro de Salimo, ou seja, em caso de ser eleita vai ser presidente no papel, mas será o esposo quem vai liderar a agremiação que chancela o sector privado em Moçambique.
Pela sua dimensão e conhecimento dos meandros da CTA, Salimo Abdula não meteria a sua esposa para perder, daí acreditar-se que seja a principal mente por detrás de todas as démarches em curso para afastar outros concorrentes, como são os casos de Félix Machado, da Associação Comercial da Beira, e Álvaro Massingue da Câmera de Comércio de Moçambique.
Lineu Candieiro, após cumprir o seu papel de “barriga de aluguel” poderá ser acomodado num dos pelouros como Vice-Presidente e garantias expressas de apoio no futuro.
Os laços estreitos entre o actual presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) e a família Abdula são conhecidos e não são de hoje. Só para se ter uma ideia, o Conselho Directivo da ANJE inclui um membro (filho) da família Abdula, no caso, Jahyr Abdula, que é presidente do pelouro de Turismo e Entretenimento.
Há um longo histórico de “sucessão articulada” na CTA
Historicamente, os presidentes cessantes da CTA têm procurado “escolher” o seu sucessor de confiança, ou seja, aquele que melhor servirá os seus interesses. Salimo Abdula é acusado de estar a controlar a casa dos patrões desde 2005, pois, quando saiu da presidência, apoiou o falecido Rogério Manuel em 2011, que viria a liderar a organização, enquanto ele presidia a mesa da Assembleia-Geral.
Em 2019, Manuel transmitiu o bastão a Agostinho Vuma, considerado o seu “pupilo”. Agora, cumprindo o mesmo ritual, algumas correntes de opinião entendem que Vuma vai manter o poder no mesmo círculo de Salimo Abdula, por via de sua esposa.
Aliás, o mesmo que se assiste hoje, rumo à presidência da CTA, e reflecte aquilo que foi a ascensão do Agostinho Vuma ao poder da agremiação empresarial.
A votação do Vuma decorreu depois do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo suspender o processo eleitoral, aceitando uma providência cautelar interposta pela candidatura de Quessanias Matsombe.
Este último recorreu à justiça, em contestação da decisão da Comissão eleitoral da CTA de rejeitar a sua candidatura alegadamente por irregularidades. (situação replicada em Álvaro Massingue).
No caso deste ano, o próprio Conselho Directivo que sancionou Álvaro Massingue para afastá-lo da corrida eleitoral conta, entre os seus membros, tanto com Lineu Candieiro, como Maria Assunção Abdula, os dois principais candidatos. Essa dupla posição, em parte, mais uma vez, suscita dúvidas sobre a transparência do órgão.
Refira-se que para as eleições que terão lugar no dia 14 de maio do ano em curso, 193 associações terão direito a voto em virtude de ter as quotas em dia, sendo que em 2020 votaram mais de 115 associados. Alguns associados denunciam uma suposta preparação de fraude, através da admissão de 75 novas associações como eleitores, quando, em princípio, não deveriam ter direito a voto, por imperativo dos estatutos que impõem o período de seis meses para o novo membro gozar de direitos eleitorais.

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