A força silenciosa da diplomacia em Moçambique: quando mãos estendidas moldam o futuro

OPINIÃO
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Nilza Dacal

Num tempo em que a política global se move ao ritmo de confrontos, rupturas e ruídos de autoridade, Moçambique faz uma escolha rara e corajosa: o caminho da diplomacia silenciosa. Essa força discreta, quase imperceptível aos olhos apressados, é hoje uma das expressões mais nobres da maturidade política nacional. Não é uma diplomacia que fala alto, mas uma que escuta com profundidade, que constrói pontes onde antes se erguiam muros, que entende que o poder duradouro nasce mais da convergência do que da imposição.

Essa escolha, serena e estratégica, marca uma nova era na história política moçambicana. Numa conjuntura em que as democracias de todo o mundo enfrentam polarizações e crises de confiança, o país aposta na força do consenso e na paciência do diálogo como instrumentos de soberania. O Diálogo Nacional Inclusivo surge, assim, não apenas como um exercício político, mas como um acto fundador de reconciliação e de visão partilhada, o maior símbolo de um Estado que amadurece ao reconhecer que o poder, sem escuta e inclusão, perde legitimidade.

Concebido sob a liderança do antigo Presidente da República, o Engenheiro Filipe Nyusi, que lançou as bases deste compromisso pela paz e pela coesão social, o processo ganhou um novo impulso com o actual Presidente da República, o Dr. Daniel Chapo, que em Setembro de 2025 abriu a fase de auscultação pública em todo o país e junto da diáspora. Este gesto não é apenas institucional, é simbólico. Reafirma a continuidade do Estado e, ao mesmo tempo, sinaliza uma mudança de paradigma, o poder a abrir-se ao cidadão, o Estado a estender a mão à sociedade, e o Governo a reconhecer que ouvir é também governar.

O Diálogo Nacional Inclusivo é, portanto, mais do que uma política, é uma cultura. Uma nova forma de fazer política num tempo em que a pressa, o populismo e o radicalismo tentam substituir a reflexão e a responsabilidade. É um convite para que Moçambique aprenda a discutir o futuro sem medo, sem preconceito e sem exclusões. Porque a democracia não se esgota nas urnas, ela renasce todos os dias, no espaço público, nas instituições, nas famílias e nas ruas, sempre que cidadãos escolhem conversar em vez de confrontar.

A paz, no entanto, não tem preço. Ela é o alicerce sobre o qual qualquer nação se ergue, e, sem ela, nenhum sonho colectivo pode florescer. A História de Moçambique carrega cicatrizes profundas que lembram o custo devastador da sua ausência, desde vidas ceifadas, aldeias destruídas, famílias separadas e até gerações marcadas pela dor. Ainda assim, entre as ruínas e os silêncios, permanece uma verdade inegável: a paz exige sinceridade, sacrifício e, sobretudo, vontade política.

Hoje, Moçambique vive um momento decisivo. No campo diplomático, o país tem-se esforçado para fortalecer laços internacionais, consolidando sua imagem como uma nação estável e aberta ao diálogo. Esses esforços são valiosos, mas a verdadeira paz, aquela que pulsa nas ruas, nas aldeias e nos corações, não virá de fora. Ela nascerá do interior, da capacidade dos moçambicanos de dialogarem entre si, de ouvirem com humildade, de perdoarem com coragem e de reconstruírem a confiança.

Mas este processo não pertence apenas à Presidência. Ele requer o envolvimento e a grandeza de todos os líderes políticos, religiosos, empresários, sindicalistas, jovens, académicos, sociedade civil e comunidades locais. Nenhuma força política deve ficar de fora, e nenhum cidadão deve sentir-se sem voz. Porque o destino nacional não pode ser obra de uma elite, mas resultado de um esforço colectivo. Uma nação reconstrói-se com a sabedoria dos seus mais velhos, com a energia dos seus jovens e com o compromisso de todos aqueles que acreditam que o diálogo é a verdadeira medida da força de um povo.

É tempo, portanto, de superar as desconfianças históricas, de deixar para trás a política de suspeitas e de abrir caminho para um um pacto nacional de confiança. O país precisa de reencontrar-se consigo mesmo, não através da imposição, mas através da escuta. Não com o olhar voltado para o passado, mas com o horizonte fixo no futuro.

A diplomacia interna que Moçambique pratica hoje é também uma mensagem ao mundo: a de que a paz não é apenas ausência de conflito, mas presença de entendimento, e que o verdadeiro poder não se mede pela capacidade de vencer adversários, mas de os transformar em parceiros de construção nacional. A estabilidade que daí decorre é, em si, uma das maiores vitórias do Estado moçambicano e a base indispensável para o desenvolvimento económico, a confiança dos investidores e o fortalecimento das instituições democráticas.

Moçambique começa, assim, a apresentar-se como um exemplo africano de diplomacia de soberania, onde o diálogo não é sinal de fraqueza, mas de coragem política. Num mundo fatigado por guerras, sanções e intolerâncias, o país oferece uma alternativa: a da política da escuta, da palavra ponderada e do consenso responsável. Por isso, o apelo é urgente e patriótico, para que todas as forças políticas, sociais e económicas abracem o Diálogo Nacional Inclusivo como um projecto de Estado e não como bandeira de ocasião. Porque o diálogo só cumpre o seu papel quando é visto como causa comum e não como instrumento táctico de circunstância.

Moçambique é uma obra inacabada, mas possível. Um país que se constrói com paciência e que cresce cada vez que escolhe conversar em vez de se dividir. O povo moçambicano merece uma política que una, não que exclua, uma liderança que escute, não que imponha, e uma diplomacia que inspire, não que intimide. A diplomacia silenciosa que hoje se pratica é, na verdade, a força mais eloquente da República. É o gesto de um país que aprendeu que as mãos estendidas não são sinal de fraqueza, mas de coragem. E é através delas que Moçambique reafirma uma verdade universal: o poder duradouro não é o que domina, mas o que integra. Porque, no fim, o destino de Moçambique não será escrito por um partido, um líder ou uma geração. Será escrito por todos os moçambicanos, no mesmo idioma da esperança, da paz e da pertença comum. Mais agora do que nunca, Moçambique deve escolher o caminho da paz, não como uma palavra bonita, mas como uma prática diária, um dever moral e um pacto de esperança nacional.

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