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- Moçambique permanece entre os últimos países no Índice de Desenvolvimento Humano
- Relatório aponta desigualdades e desafios no desenvolvimento humano
- Há ligeiros progressos em áreas-chave como educação, saúde e tecnologia
Cerca de 18 milhões de moçambicanos, correspondendo a 60% da população, vivem em situação de pobreza, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2024–2025, lançado na última quarta-feira pelo Ministro da Planificação e Desenvolvimento, Salimo Valá. O documento, produzido com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), revela que o país se mantém na faixa debaixo da linha de desenvolvimento humano, ocupando a posição 182 entre 193 países, com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,493.
Luísa Muhambe
Com uma subida de um ponto, Moçambique subiu da posição 183 para 182 no Índice Global de Desenvolvimento Humano de um total de 193 países avaliados, saindo assim da lista dos 10 países com o pior índice para a 11ª posição.
Embora tenha havido uma ligeira melhoria na sua posição no ranking (subindo de 183ª para 182ª), o país permanece entre os países mais pobres do mundo, embora o relatório ressalte avanços em saúde, educação e economia, mas ainda enfrenta grandes desafios como a pobreza.
Apesar de representar uma ligeira subida em relação ao ano anterior, os dados reforçam as profundas desigualdades sociais e territoriais existentes no país.
“A pobreza multidimensional continua a afectar mais de 70% da população, o que reflecte disparidades ainda persistentes, especialmente nas zonas rurais e periféricas”, afirmou Valá durante a apresentação.
Mesmo diante do cenário desafiador, o relatório apresenta indicadores positivos em sectores cruciais. A esperança de vida em Moçambique ultrapassou os 60 anos, e a taxa de escolarização primária tem vindo a crescer, sinalizando avanços na educação básica.
No sector da energia, o acesso à electricidade registou um crescimento expressivo: passou de apenas 6,6% em 1997 para 60,1% em 2024. O acesso à água potável também melhorou significativamente, saindo de 19% em 2020 para 62% actualmente.
Na área da saúde pública, o relatório destaca a expansão da cobertura vacinal infantil, a redução da mortalidade materna e infantil, e o fortalecimento de programas de prevenção e tratamento de doenças transmissíveis, como o HIV/SIDA e a malária, com impacto directo nas comunidades mais vulneráveis.
“Estamos a trabalhar para que os números não sejam apenas estatísticas, mas representem uma transformação real na vida das pessoas”, reforçou o ministro.
Um dos pontos críticos destacados pelo relatório é a desigualdade de género. As mulheres moçambicanas, embora apresentem uma esperança de vida superior à dos homens, continuam a enfrentar uma qualidade de vida inferior em vários indicadores, nomeadamente no acesso a emprego digno, educação superior e protecção social.
“É necessário um compromisso mais forte para eliminar as barreiras que impedem o pleno desenvolvimento das mulheres e garantir equidade nos serviços públicos e oportunidades económicas”, apontou Valá.
O relatório de 2025 chama atenção para o potencial da transformação digital, com especial ênfase na inteligência artificial (IA) como instrumento de inclusão social e desenvolvimento sustentável. O país começa a explorar esta tecnologia em sectores como a educação, agricultura, saúde e modernização de serviços públicos.
O representante do PNUD em Moçambique, Edo Strok, reconheceu os avanços registados, mas alertou para a necessidade de uma acção coordenada e sustentada para transformar os dados em resultados concretos.
“A IA e outras tecnologias podem revolucionar Moçambique, mas isso só será possível se forem adaptadas às realidades locais, com investimento em recursos humanos, inclusão digital e políticas públicas eficazes”, afirmou.
Strok garantiu que o PNUD continuará a apoiar o Governo e as universidades na promoção de competências digitais e no desenho de políticas inclusivas, que permitam um desenvolvimento humano mais equitativo.
O reitor da Universidade Pedagógica de Maputo (UP), Jorge Ferrão, destacou que o relatório serve como “espelho da realidade nacional” e deve orientar as instituições académicas a contribuírem activamente para as soluções.
“As universidades têm um papel central. A IA deve complementar o conhecimento, não substituí-lo. A nossa missão é garantir educação de qualidade, diversidade e inclusão, como simboliza o nosso hino institucional, cantado em quatro línguas nacionais”, disse Ferrão.
O Relatório de Desenvolvimento Humano 2024–2025 surge como uma ferramenta estratégica que, mais do que medir indicadores, propõe caminhos. Um documento que reafirma um compromisso: o de colocar as pessoas no centro das políticas públicas, com especial atenção às mais vulneráveis.



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