Dívidas ocultas: a corrupção que ousou colocar em causa a segurança nacional…

EDITORIAL

Os moçambicanos estão expectantes ao maior escândalo financeiro, que envolve toda a estirpe de gente a quem inocentemente foi confiado o destino do país, desde governantes; assessores; empresários; gente da segurança, os tais guardiões da nossa soberania; até os Zé-ninguém que, por sorte ou azar, cruzaram o caminho na hora do bolo.

É um imperativo nacional termos uma explicação clara do que aconteceu e porquê, mas porque essas questões podem não ter respostas tão já e gerar expectativas frustrantes, vale um breve olhar para os efeitos nefastos de ter no poder dos governantes corruptos ou cúmplices de corrupção, obcecados em ajuntar mais do que o suficiente a qualquer custo.

É do ambicioso projecto de segurança que se chegou à corrupção, que colocou em causa a segurança nacional e não evitou uma ameaça previsível, que hoje se chama insurgência ou terrorismo (nos papeis pensava só nos piratas que saqueiam na nossa costa). Por diversas vezes ouvimos que o Projecto do Sistema Integrado de Monitoria e Protecção (SIMP) das Forças de Defesa e Segurança (FDS), usado para legitimar a contracção das dívidas ocultas para as empresas Proindicus SA, Ematum SA e MAM SA, já extintos, tinha o condão de evitar as ameaças que se tornaram reais, que são, hoje, assistidos em Cabo Delgado.

O que significa que quem sabotou este projecto sabia que estava a pôr em causa a soberania de um país, ao aceitar equipamentos de segurança precários em nome de subfacturação, e hoje somos obrigados a recorrer aos mercenários, aos ruandeses ou outros para garantirmos a nossa segurança.

Foi um pecado capital, mas não suficiente. Afinal, além de colocar em causa a segurança nacional, tratava-se de um empréstimo a ser pago pelos milhares de moçambicanos, sem o seu consentimento, colocando milhares de pobres mais pobres ainda, ao hipotecar o futuro deles.

De mentira em mentira dos Gove, Chang… a verdade veio à tona e nossa vergonha tornou-se pública, a ponto de sermos isolados pela comunidade internacional. Os danos da fraude hasteavam no exterior um país que institucionalizou a corrupção e, por isso, não merecia qualquer doação para o Orçamento do Estado. E os efeitos da corrupção se fizeram sentir.

Isso foi reflectido no custo de vida, que veio a subir 100 por cento. E para cobrir o défice do roubo, os serviços básicos assistiram uma subida sem precedentes, desde alimentação até os serviços. Aliás, o Governo aproveitou para roubar mais para cobrir o défice, as subidas dos documentos como Carta de Condução, Livrete, taxas aqui e mais ali em mais de mil porcento é parte desse roubo, sem contar com os cortes de subsídios em alguns sectores cruciais. Um roubo para cobrir um outro roubo, é assim que se institucionalizou a corrupção e a mentira de que era tudo por força da conjunta internacional.

Em termos de número, ficamos a saber que, afinal, os custos dessa fraude aos moçambicanos, só nos anos 2016-2019, foram de USD 11.3 biliões, uma média de USD 403 por cidadão. Para além deste prejuízo, nos próximos 10 anos, está programado que Moçambique pague cerca de USD 4 biliões adicionais em custos directos (serviço da dívida), sem contar com o incalculável prejuízo económico que continuará. São dados do Centro de Integridade Pública (CIP).

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