A impureza que transborda do copo

DESTAQUE EDITORIAL

A legitimidade do Executivo Nyusi está a degradar-se com os novos eventos, num país em que começam a escassear representantes com personalidade imune à descrições abomináveis. Duas semanas depois, damos conta que o dia 19 de Outubro, uma data que nos lembra o sentido do Estado de Samora Machel, foi caracterizado por eventos que evidenciam o contraste do discurso dos actuais actores políticos com a integridade.

Naquele agitado dia 19, quando Alexandre Chivale era expulso da tenda da B.O;  em Londres, os bancos envolvidos no escândalo acordavam em compensar os “gringos” pelos danos e; em Moçambique, estava a ser notificado o Presidente da República e mais alto magistrado da nação, Filipe Nyusi para depor em sede do processo das dívidas ocultas que corre termos em Londres. É uma coincidência questionável de eventos que em comum reflectem a fonte da degradação moral de que tanto fala a sociedade e a literatura Moçambicana.

É óbvio que a notificação no Gabinete Presidencial não é a confirmação de qualquer acto criminal, afinal é um processo cível, mas confirma para sociedade sua participação directa no escândalo, o que já o desqualifica como representante exemplar e, dependendo dos interesses, pode se questionar sua legitimidade quando se insurge para falar de corrupção.

O facto é que essa ideia de ter representantes sem mancha está a deixar de ser preferência dos moçambicanos, que não mais falam da virtude, justeza e um bocado de lealdade no compromisso entre representantes e representados, e pouco se indignam quando se rompe o contrato social entre os eleitos e eleitores.

A reacção dos moçambicanos que se quer do bem é de uma indiferença assustadora, por mais grave que seja o escândalo. Uma indiferença que se limita em transformar um crime público em piadas nas redes sociais, e depois a vida segue, como se nada de grave tivesse acontecido, como se os representados tivessem desistido do País e deixado tudo nas mãos dos representantes..

Os exemplos não param de chegar e o deplorável virou moda. Os governantes agem como se de integrantes de uma associação para delinquir se tratassem, e como resultado o Presidente da República é notificado para provar sua inocência em Tribunal internacional; Celso Correia, mastermind que dirige a pasta de Agricultura e Desenvolvimento Rural, é flagrado a mentir em público, ao desmentir sua própria promessa; Adriano Maleiane, um velho ministro de Economia e Finanças, volta a ser descrito como defraudador, ao ter conduzido o processo de venda de títulos da dívida de Ematum fraudulentamente. E a nível municipal, Comiche, um outro eleito público, viraliza nas redes sociais ao falhar o lançamento do fantasiado projecto de Fultran e, como que a reconhecer que não tem estradas dignas, foi buscar tractores para recolherem lixo na cidade. São falhanços que se tornaram marco da sua governação municipal. Mas, tudo pode ser o seguimento do exemplo que vem de cima.

Não é por lapso que, na notificação a Nyusi, a Privinvest aclara que mais figuras do governo serão notificadas. É, no mínimo, grave assistir todo o Governo a despir qualquer traço de integridade, num país já sob embargo internacional e com os piores indicadores em quase todas as leituras internacionais.

Os moçambicanos falam tanto da degradação moral, material e social, mas não conseguem apontar dedo, conscientes de que seus representantes são resultados das escolhas mal-feitas e as consequências estão aí, indiferença política e descrença nas instituições do Estado, ignorando que os nossos eleitos são responsáveis directos pela qualidade de nossa vida, como a educação, segurança, aplicação da justiça, saúde, transportes, saneamento básico, higiene, lazer, vias públicas e outras importantes necessidades sociais.

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