Da insensibilidade à destruição precoce das Pontes de Machatine. E agora?

DESTAQUE EDITORIAL

A tempestade destruiu infra-estruturas precárias. É assim que foram descritas centenas de casas destruídas pela tempestade tropical Ana. Na lista das infra-estruturas precárias está a Ponte sobre o rio Licungo, na Zambézia, um investimento público com um custo de perto de mil milhão de meticais, inaugurado em Dezembro último, que também foi destruída pela fúria das águas. Ninguém a nível mais alto lembrou que a Ponte foi inaugurada em Dezembro passado, muito menos o empreiteiro foi (ou será) chamado à responsabilidade, a chinesa CRBC.

A margem da inauguração, Machatine prometeu que a infra-§estrutura era resiliente. Mas foi desmentido pela natureza e, como aqui não há pudor, não se dignou prestar quaisquer esclarecimentos sobre a precariedade da obra e muito menos fingir investigação.

Consta da lista de infra-estruturas precárias a Ponte sobre o rio Revúbuè, que separa os municípios de Tete e Moatize, na província de Tete, inaugurada em Outubro de 2020. Esta foi orçada em 3,7 milhões de dólares, pagos à construtora portuguesa Mota Engil, para fazer reparos de uma Ponte de 400 metros, construída em 1965, e tinha, pela primeira vez, sido destruída pelas cheias registadas durante a passagem do ciclone Idai. Se com as mãos do colono a ponte durou 50 anos, a reabilitação de Machatine não durou nem dois anos!

Antes da natureza reprovar a resiliência das raras inaugurações do presente Executivo, houve a farra dos fundos da Covid-19 canalizados às empresas, em ajustes directos a empresas dos camaradas do partido, que não foram sequer capazes de concluir as obras. O retrato desse quadro nebuloso está no relatório do Tribunal Administrativo de 2019 e 20, que alista casos de pagamentos sem seu visto.

É o percurso político de Machatine, que em busca desenfreada de algum legado para os dois mandatos pálidos de Filipe Nyusi acabou urdindo obras que não duram mais de um mês. O que interessa é cortar mais uma fita e somar os números que nem sempre são acompanhados de qualidade.

Agora, tem estado até em violações legais para, de forma insensível, extorquir a um povo sofrido, recorrendo a infra-estruturas do consulado de Armando Guebuza, já que as actuais não conseguem sobreviver aos testes do tempo e da própria natureza. É que, se não são os ventos a denunciarem a precariedade das suas obras, são os gasodutos da FIPAG a denunciarem a ausência de manutenção, desde que foram enfiados no subsolo no tempo colonial. Neste ritmo, Machatine passa a ser um dos poucos governantes que constrói infra-estruturas para si, ao durarem menos que o seu mandato.

Moçambique tem problemas cíclicos das cheias que se manifestam sempre nos primeiros meses do ano. Nem as obras e nem a nível mais alto a resposta melhora. É que o único pensamento que vem à memória dos nossos dirigentes neste momento é de mendigar, como se estivessem a construir infra-estruturas precárias com objectivo de as usar para comover e extorquir os parceiros, como se Moçambique fosse dos estrangeiros.

É que é difícil entender que estejamos a crucificar tanto esse belo Moçambique, a ponto de minar o seu desenvolvimento e, até em questões pontuais, ter de confiar na bondade dos outros para a sua resolução. Só melhoramos a forma de pedir, não há resposta até de eventos previsíveis, como cheias, tempestades que nos assolam em princípios de anos. E esse papel ridículo de mendigar é sempre confiado ao primeiro-ministro, nos raros momentos em que sai da sombra de Celso Correia. Tentou inovar, ao afirmar que os parceiros deveriam se comover com a situação e desembolsar as mesmas migalhas de sempre. Mas, pedimos para que essas doações sejam canalizadas ao seu destino e não alimentem negociatas nebulosas, como a farra que vimos das empresas dos camaradas quando foi a vez dos fundos da Covid-19. Dinheiro até existe, só é perdido em remendos naquelas pontes, enquanto a outra margem vai mesmo ser o destino invisível de sempre.

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