A bravura que expôs Bernardino Rafael ao ridículo

DESTAQUE EDITORIAL

Na semana passada, os jovens se destacaram em Xinavane, recorrendo à força para se fazer ouvir. São trabalhadores da empresa Tongaat Hullet que reivindicavam aumento salarial e reclamavam a contratação de mão-de-obra estrangeira e a demissão daqueles que exigem melhores condições.

Os gritos de apelo dos trabalhadores começaram já faz tempo. Mas o Governo a todos os níveis fez ouvidos de marcador, e depois de fracassada a tentativa de reprimir as manifestações iniciou uma marcha, interpretada como simulação, para se inteirar das reivindicações dos trabalhadores. O enviado foi o super ministro, Celso Correia, que desceu à Vila de Xinavane depois que o longo apelo foi simplesmente ignorado pelo Governo que sempre prefere gerir “grandes” problemas no lugar de soluções pacíficas enquanto possível.

Mas já era tarde. As exigências tinham avançado para o estágio de agressão, os trabalhadores que se sentem marginalizados tinham queimado residências, causado tumultos e houve registo de destruição de infra-estruturas públicas e privadas, com destaque para o posto Policial de Xinavane. E, enfim, o Governo se pronunciou. Não se conhece qualquer solução oficial.

No entanto, não passou desapercebida a postura do Comandante Geral da Polícia, que exonerou Inácio Dina, um competente quadro da PRM que não colou os cães de repressão a tempo e não conseguiu reprimir as manifestações violentas de trabalhadores revoltados da Tongaat Hullet.

Além de Inácio Dina, cessaram funções o Comandante Distrital da PRM em Manhiça, o Chefe de operações naquele distrito e o chefe do posto Policial de Xinavane. A medida de Bernardino Rafael, de cessar funções aos comandantes em bloco, foi tomada um dia depois dos tumultos.

A ser somente por causa destas manifestações de Xinavane, é seguro afirmar que foi uma medida precipitada, despida da razão e abre um péssimo precedente para o exercício das liberdades civis, na medida que estimula outros comandantes a reprimir com todos os meios qualquer intenção de exercício desse direito. Ao mesmo tempo que fica cristalino porquê os comandantes colocam cães nas praças sempre que escapa informação de uma possível manifestação pacífica.

Em todo este quadro, quem assume papel ridículo é Bernardino Rafael, que tem sempre assumido uma postura de um comandante determinado, mas até aqui tem se mostrado, em termos práticos, um grande fracasso, assumindo uma postura de um comissário desonesto ao apostar em discursos vazios e em medidas que visam alimentar seu protagonismo.

Fracassou em Cabo Delgado, fracassou nos raptos, fracassou em combater a Junta Militar, fracassou na reestruturação da polícia e apenas triunfou no discurso vazio. A rapidez com que tomou a medida de exonerar o comandante provincial de Maputo revela uma medida desesperada de querer se eximir da responsabilidade em garantir ordem, precipitando-se em apontar o dedo a quem não tem culpa. É pena que o Comandante em Chefe das FDS não pode exonerar o Comandante Geral, apesar de cristalizada a incapacidade deste em garantir a ordem, expondo apenas a musculatura quando são assuntos marginais, mas fracassando em assuntos sérios, afinal entre os dois comandantes, há irmandade que transcende o que os olhos assistem.

A culpa não é de quem se manifesta, e muito menos de quem garante que as pessoas exercem o seu poder cívico, ou mostra-se incapaz de garantir uma manifestação pacífica, é daquele que negou diálogo e permitiu que os trabalhadores encontrassem na violência uma forma de se fazer ouvir.

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