Alguns membros acusam a Liderança do partido Renamo de marginalizar a família Dhlakama

POLÍTICA
  • Esposa do falecido líder tentou (sem sucesso) concorrer à presidente da Liga da Mulher
  • Viúva de Dhlakama foi deixada em terra com as malas na mão
  • “Ela não tinha cartão de membro, não pagava cotas e nunca chefiou no partido” –  Angelina Enoque

A 3ª Conferência Nacional da Liga da Mulher da Renamo, que culminou com a eleição de Maria Celeste Canchite como nova presidente daquele órgão social da perdiz, em substituição de Maria Inês Martins, está a ser alvo de alguma contestação por parte de alguns membros que apoiavam a candidatura de Rosária Dhlakama, viúva do falecido e mítico líder do partido, Afonso Dhlakama. Acusam a direcção liderada por Ossufo Momade e André Majimbiri de falta de transparência no processo, desde o dia em que ela submeteu a candidatura e não recebeu o respectivo protocolo, muito foi informada do estado do seu processo, até o dia da partida à cidade da Maxixe, província de Inhambane, local da conferência, em que acabou ficando em terra com malas na delegação do partido, enquanto os outros já haviam partido, sem sequer ter sido avisada. Contactada, a comissão eleitoral diz que a sua candidatura foi desqualificada porque ela não tinha cartão de membro, não pagava cotas e nunca desempenhou um cargo de chefia.

Jossias Sixpence – Beira

Apesar de tentativas de sabotagem por parte do partido Frelimo, que orientou, mais uma vez, os empresários ligados à área de restauração para não cederem salas de reuniões e até mesmo espaço para montagem de tenda, o partido Renamo esteve em festa na semana passada, em Maxixe, província de Inhambane, local onde decorreu a III Conferência Nacional da Liga da Mulher, que culminou com a eleição de Maria Celeste Canchite como presidente do órgão.

Maria Canchite, que é deputada da Assembleia da República e delegada provincial em Sofala, venceu o escrutínio com cerca de 102 votos, contra 08 de Marta Boas Matavel, 06 de Helena António da Silva e 02 votos em branco.

Sobre o lema a ʺMulher na luta pela justiça socialʺ, durante a sessão, as mulhres da perdiz vincaram a continuidade dos ideais de André Matsangaissa e Afonso Dhlakama. No entanto, o processo não foi de todo transparente e abriu mais um capítulo negro na história da família Dhlakama, que há muito já se queixava de marginalização.

Tudo porque quando foram abertas as candidaturas, sob proposta de uma parte dos membros do partido, Rosária Dhlakama, que para além de esposa de Dhlakama foi guerrilheira, aceitou candidatar-se à presidência da Liga da Mulher, tendo tempestivamente submetido a sua candidatura. Estranhamente, não recebeu na hora o respectivo protocolo, mas mesmo assim nunca desconfiou que pudesse se tratar de alguma cabala.

O tempo foi passando e sempre que solicitava informação era informada que tudo estava conforme e nunca foi solicitada para suprir qualquer irregularidade relaccionada com a sua candidatura. Nunca foi, inclusive, informada da reprovação ou não da sua candidatura.

Deixada em terra com as malas na mão

Maior surpresa teve na passada quarta-feira, quando, à hora que foi informada na convocatória, chegou à delegação da cidade, local da partida, e foi informada que a delegação da cidade de Maputo já havia seguido viagem e ela teve de recolher as suas malas de volta a casa, sem nenhuma informação precisa do que teria acontecido.

Os membros que apoiavam a sua candidatura acusam a direcção do partido de ter “montado” uma equipa que se encarregou de desenformá-la sobre a hora da partida, tendo em vista evitar que ela seguisse viagem para o local da conferência.

“Como promotores da democracia, o que aconteceu não nos dignifica. Não custava nada dizer que ela não vai, em vez de mandar vir, enquanto sabiam que ela não viajaria, e ter que ficar na sede com pastas, enquanto os outros haviam saído”, repudiou uma das apoiantes.

O Evidências procurou esclarecimento da direcção do partido. Contactado, o secretário-geral, André Majimbiri, disse não ser a pessoa certa para se pronunciar, tendo indicado a deputada Angelina Enoque.

Contactada pela nossa equipa de reportagem, Angelina Enoque, que esteve à frente do processo, fez saber que a candidata Rosária Dhlakama não reunia requisitos para ser seleccionada, por não ter cartão de membro, não ter a situação de cotas em dia e nunca ter assumido cargo de chefia no partido. No entanto, não conseguiu explicar por que razão esta não foi informada da situação da sua candidatura.

“Ela não tinha cartão de membro, não pagava cotas e nunca chefiou no partido. Com isso, não reunia requisitos para que a candidatura dela fosse aceite”, disse Angelina Enoque, que, quando questionada sobre falta de comunicação, escusou-se a pronunciar-se, alegando que não compete a ela falar em torno do assunto, mas reconheceu a falha de comunicação.

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