As novas matrizes da antagonização eleitoral

OPINIÃO

Deonildo Tamele

A história da política moçambicana foi sempre caracterizada por um sistema partidário dominado pela Frelimo e Renamo, apesar do MDM ter entrado na dinâmica do poder político nacional. A suposta dualidade partidária fez com que os membros dos partidos políticos sempre mantivessem uma lealdade com as suas organizações e dos seus líderes na perspectiva de não os contrariarem.

O presente artigo procura, de forma sinóptica, retratar os últimos cenários que nos últimos dias tem marcado a conjuntura política no que tange a preparação das próximas eleições autárquicas quiçá presidências, todavia um cenário que merece atenção profunda dos moçambicanos, desde o religioso, político, econômico, cidadão comum e com maior destaque para o acadêmico, mas é preciso sublinhar que a intenção está relacionada com a postura que o actual presidente da autarquia de Quelimane, Manuel de Araujo, tem tomado no campo político nacional.

Propomos esta discussão na esfera pública por acharmos muito interessante a nova postura política dele, tendo em conta que nunca havia o feito antes de ir se filiar ao MDM, tal como com seu regresso na Renamo quando o líder carismático, Afonso Dhlakama, estava. Cinco premissas podem explicar essa posição, nomeadamente a busca de novos horizontes, frustração no partido, colocar-se a serviços dos eleitores e por último a sua capacidade de lidar com os desafios impostos à oposição em Moçambique.

Esta nova postura do actual edil de Quelimane, à luz das premissas avançadas, pode-se depreender que o mesmo respeita os seus eleitores que o colocaram no poder. Não obstante denotar também um ambiente de frustração no seio do partido e por fim achar que pretende novos horizontes porque presumimos que a autarquia já não responde aos seus anseios.

Alguns cientistas políticos e académicos não têm dúvida que o edil da cidade de Quelimane, Manuel de Araújo, é o único político que no actual cenário político pode trazer uma nova dinâmica nos partidos políticos da oposição em Moçambique, nomeadamente Renamo e MDM. Sustentam ainda que Manuel de Araújo é uma pessoa carismática, visionária e compreende a política em duas dimensões, teórica e prática, sendo ele capaz de fazer frente às investidas do partido Frelimo nos próximos pleitos eleitorais.

Manuel de Araújo, não resta dúvida que nos últimos tempos tem transformado numa estrela da política doméstica desde as viagens que fez fora para Europa e das suas intervenções nos meios de comunicação social, mostrando de certa forma a hipóteses de frustração em termos de voos políticos, talvez no seu imaginário esteja a cogitar a sua ida para a presidência do partido, não obstante criar uma organização política, porque não se filia em outras forças políticas, até porque o seu comportamento mostra que não tem de maneira alguma uma disciplina partidária e é um de ideias livres.

Araújo, em diversas vezes que se pronunciou na imprensa doméstica e internacional, negou vezes sem conta que tenha a pretensão de ser presidente da Renamo, mas acreditamos que, em função daquilo que temos presenciado nos últimos dias na esfera pública, ele queira liderar o partido numa dimensão maior.

Apesar dos factos mostrarem que ele quer a liderança do partido, se na pior das hipóteses a imprensa questionar em torno desta pretensão, naturalmente que ele vai dizer que não tem ambições políticas a não ser que os membros o sugiram. Com isto, pretende-se dizer que ele vai falar o politicamente correcto.

Estamos cientes que, de certa forma, com esta argumentação, estamos a fazer uma associação abusiva do estar na política e do lutar pela presidência. Porque compreendemos de certa forma que são vários e múltiplos os factores que podem levar um agente a entrar e lutar no campo político.

Nada está claro, apenas são conjecturas que arrolas.

É preciso perceber que o poder local que Manuel de Araújo tem na autarquia de Quelimane não só pode ser usado como trampolim para se chegar ao poder nacional, assim como  pode ser usado para outros fins, como por exemplo aceder a recursos a nível local ou para conservar uma posição localmente. Apesar de termos Alguns exemplos de líderes que se apropriaram de poder local para as suas projecções individuais, não pretendemos com este artigo partir de casos particulares, principalmente de fora, para generalizar para todos os contextos, independemente das suas peculiaridades.

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