- Comunidade Mahometana em polvorosa
- Actual presidente não presta contas há mais de cinco anos
- Muçulmanos querem novo rosto para remoralizar a instituição
- Salim Chanya visto como bóia de salvação
A Comunidade Mahometana de Moçambique vai a eleições no próximo dia 20 de Maio corrente, numa altura em que se regista uma onda de descontentamento dos membros e sócios em relação à direcção actual, presidida por Saleem Ahmed Abdul Karim, acusado de desvirtuar os princípios da organização, de não prestar contas desde 2015 e de ter um fraco engajamento no relacionamento com outras forças vivas da sociedade. Neste momento, para além de Saleem Karim, que concorre a sua própria sucessão, entra na corrida Salim Omar, conhecido na comunidade indiana e paquistanesa, como Salim Chanya, respeitado advogado, membro activo da Ordem dos Advogados, professor universitário e membro de uma família tradicional daquela comunidade, sendo por isso visto por muitos como um forte candidato ao posto mais cobiçado neste momento na congregação.
Reginaldo Tchambule
Através de um anúncio publicado esta segunda-feira, no Jornal Notícias, o actual presidente da direcção da Comunidade Mahometana, Saleem Karim, também conhecido por Saleem Mikel, acaba de convocar uma Assembleia-Geral Ordinária, que terá lugar no próximo dia 20 do mês em curso, pelas 19.30 horas, na sua sede social.
A reunião tem como agenda três pontos, nomeadamente: aprovação do Relatório e Contas dos Exercidos de 2015/2022; aprovação dos Estatutos e eleição da Direcção para o Quinquénio 2022/2027.
Até o momento há duas listas de candidaturas dadas como certas, sendo a primeira liderada por Saleem Ahmed Abdul Karim, que concorre à sua sucessão, e a segunda que tem Salim Chanya, conhecido advogado, membro activo da Ordem dos Advogados e professor universitário, à cabeça, que é visto como sendo a provável solução para a mudança de paradigmas na instituição actualmente considerada letárgica.
No entanto, as candidaturas ainda não estão fechadas, podendo ser submetidas até 5 dias antes da realização da Assembleia Geral Ordinária, segundo consta do regulamento eleitoral.
As eleições numa das comunidades mais respeitadas do país acontece numa altura em que o actual presidente da direcção, Saleem Karim, vem sendo alvo de alguma contestação no seio da comunidade que dirige.
Em causa está uma suposta gestão danosa dos fundos e património da comunidade, falta de prestação de contas e fraco engajamento no relacionamento com outras forças vivas da sociedade. Mas há quem aponte conexões criminosas que mancham o bom nome da congregação.
Dono do imponente projecto Beach Front, um complexo habitacional e comercial, localizado na marginal da Cidade de Maputo, avaliado em pouco mais de 225 milhões de meticais, Saleem Karim, de origem paquistanesa, assumiu a presidência da Comunidade Mahometana em 2015, e de lá a esta parte ainda não se dignou a apresentar o relatório e contas.
Aliás, só agora, já em fim de mandato, é que a direcção presidida por Saleem Karim vai apresentar o seu relatório e contas do período que vai desde 2015 a esta parte, tal como consta do anúncio feito esta segunda-feira, o que, segundo os membros da congregação, viola os estatutos e minou a confiança depositada no grupo que agora tenta a sua recondução ao cargo.
“É absurdo uma comunidade não apresentar as contas durante anos, isto é uma empresa individual ou sociedade anónima?”, denunciou um dos membros agastados com a direcção de Saleem Karim, para depois desabafar que “chegou a hora de mudarmos nossa comunidade. Isto é só possível quando houver união entre nós, mostrando que nós somos uma comunidade, é preciso que a frente dessa comunidade exista um elenco com experiência, honestidade, criatividade, vontade de ajudar, compartilhar bons e maus momentos com nossos irmãos da nossa comunidade e outros que também não pertençam à nossa comunidade”.
Tentativa de alterar estatutos com base em pressupostos raciais
Os membros da comunidade dizem estar fartos de ouvir promessas que nunca são concretizadas por parte da actual direcção.
“Infelizmente, não vimos nada feito, neste momento nossa comunidade está parada no tempo, se dizem estar a fazer algum trabalho é para só os que beneficiam de algo. Paremos com isso, é o momento para virar a página do livro da comunidade, recordar o que os nossos antepassados fizeram por esta comunidade, sem muito recurso que hoje temos e infelizmente a ganância não deixa fazer o melhor”, sublinha um outro.
Outro pecado que pesa sobre a direcção de Saleem Karim é uma suposta tentativa de alterar os estatutos da Comunidade Mahometana tendo como base pressupostos raciais, inspirado no radical sistema de castas da comunidade paquistanesa de que ele faz parte.
Aliás, Saleem Karim é presidente da IMO ( International Memon Organization), que, segundo especialistas, promove a casta Memon como a superior e consideram surtis, canamias, damanias e outros como pessoas de castas baixas, especialmente aos negros.
Liderança de Karim nunca condenou ataques em Cabo Delgado nem apoia vítimas
Conhecida pela sua filosofia filantrópica e promoção de valores como a paz, a Comunidade Mahometana sempre foi um actor activo na sociedade moçambicana, sendo parceiro do governo em várias vertentes. Contudo, segundo denunciam os membros da comunidade, de um tempo a esta parte a direcção distanciou-se dos desígnios da congregação.
Um dos aspectos que mais deixa indignada a comunidade Mahometana em Moçambique é o facto de haver um silêncio profundo da direcção de Saleem Karim sobre o terrorismo em Cabo Delgado, que nunca apareceu publicamente a condenar os actos bárbaros protagonizados em nome do radicalismo islâmico.
Como se tal não bastasse, apesar de ser uma comunidade conhecida pela filantropia, a direcção actual não tem estado a encetar nenhum esforço com vista a assegurar apoio às vítimas do terrorismo em Cabo Delgado.
Entendem as fontes que devia ser papel da direcção da Comunidade Mahometana condenar de forma veemente os actos terroristas protagonizados por radicais que usam a capa do islão em Cabo Delgado, visando mostrar que aquela religião não se funda em valores nobres como a paz.
Curiosamente, uma série de artigos publicados por supostos membros da comunidade em diversos portais da internet, sobretudo no período entre 2018 e 2019, traçam um perfil tenebroso de Saleem Karim e com conexões estranhas, chegando mesmo a apelar uma profunda investigação das autoridades moçambicanas aos negócios deste.
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