Bombas com escassez de diesel e gasolineiras sem previsão para reposição do stock

DESTAQUE POLÍTICA
  •    Alguns Postos de Abastecimento de Combustíveis não têm diesel (gasóleo), enquanto as gasolineiras aguardam pela decisão do Governo para requisição

Gasolineiras estão a colocar o Governo em teste do fogo. Há bombas sem diesel (gasóleo) e algumas gasolineiras informaram que só podem abastecer (requisitar) depois de uma “nova ordem”. Essa “nova ordem” deve ser emitida pelo Governo, que mostra dificuldade de pagar os mais de 120 milhões dólares de dívida, inscrita no Fundo das Compensações às Gasolineiras, ao mesmo tempo que se mostra irredutível a ceder às “chantagens” de mais um aumento de preço de combustíveis. O último reajuste dos preços de combustíveis foi a 24 de Março, era o segundo aumento este ano, mas ainda não satisfaz as gasolineiras, embora já tenha causado um impacto negativo à economia.

A estratégia do Governo tem sido retardar a tomada de uma posição que pode salvar a economia ou afundá-la ainda mais, elevando o custo de vida. Mas com o último stock a acabar, o espaço de manobra vai reduzindo e deve (o Governo) decidir se cede às exigências das gasolineiras ou paga a dívida ou aceita a crise de combustíveis para os próximos meses.

Desde segunda-feira alguns Postos de Abastecimento de Combustível estavam sem gasóleo (diesel), bastante imprescindível para a operação de grandes marcas do sector produtivo. Está quinta-feira a quantidade de bombas sem gasóleo aumentou.  Como se tal não bastasse, não há qualquer previsão de quando é que as gasolineiras terão stock para voltarem a abastecer o mercado com aquele combustível.

Segundo apurou o Evidências, sempre que os operadores dos postos de abastecimento procuram informações junto das gasolineiras recebem a resposta de que ainda estão à espera de “novas ordens”. O governo, por sua vez, decidiu abraçar um silêncio sepulcral.

As dívidas do Governo estavam, até Maio passado, em cerca de 120 milhões de dólares, um valor que continua a crescer com a subida do preço do barril no mercado internacional, em resultado dos impactos da invasão russa da Ucrânia, as gasolineiras têm reduzido a quantidade das importações e há os que simplesmente saíram do mercado, como ilustram os dados que apontam que das 30 gasolineiras registadas, menos de 20 estão no activo.

“Os dados que temos é que todos estão a importar. Realmente, há problemas, mas há ginástica que vai se fazendo para que continuem a trazer combustíveis”, afirma uma fonte autorizada da Importadora Moçambicana de Petróleos (IMOPETRO). Mas não é o que se verifica no mercado.

Para importação de combustíveis, o mercado está liberalizado em termos de financiamento, neste sentido, cada gasolineira paga individualmente as suas facturas de requisição de combustíveis. Mas, para tal, é preciso uma garantia bancária, um pedido que nem sempre é acolhido pelos bancos comerciais, uma vez que as limitações financeiras dos importadores afectam o compromisso destes com os bancos.

É que cada gasolineira deve abrir uma garantia bancária correspondente e só assim o fornecedor traz a quantidade.

“Isso sim (problemas de obter as garantias bancárias) tem acontecido, mas acabam sendo emitidas, mas há demoras em termos de emissão da garantia bancária, exactamente por causa dessas dificuldades financeiras que estão a enfrentar, mas não porque não estão a importar ou porque o fornecedor está a exigir o pré-pagamento”, afiança a fonte.

Aliás – prossegue a fonte – neste momento, “apesar das dificuldades”, as gasolineiras continuam a importar, embora reconheça que “pode, um e outro diminuir a quantidade, mas estão a importar, estão a abrir garantias”. Reconhece também que por conta das dificuldades podem atrasar na abertura das garantias.

Recorde-se que o governo tem em cima da mesa uma proposta das gasolineiras para controlar o “choque externo”, que passa por aumento do preço de combustível para a casa dos três dígitos, no entanto, o executivo, através da ARENE (Autoridade Reguladora de Energia), não tem acolhido.

Aliás, neste momento, o governo está a gerir outro “barulho” dos transportadores, depois do último reajuste, que pressionam para a subida dos preços de transporte.

Sobre isto, a IMOPETRO escusou-se de comentar, afirmando que ela não lida comos preços, “não apela nada sobre os preços, a ARENE é que trata isso. A IMPETRO pode facultar dados, mas a decisão compete a ARENE”.

“Estamos preocupados em satisfazer a nossa cota no mercado”, Hélder Chambisse

Financeiramente instável à semelhança das muitas empresas participadas pelo Estado, a Petromoc lidera o mercado de combustíveis em Moçambique. Ela detém uma cota de mercado de 32,26%, dos quais 8,10% com a Sasol e os restantes 68% disputa com mais de uma dezena de gasolineiras.

Com os choques externos, a Petromoc diz estar a passar pelas mesmas dificuldades que as outras gasolineiras passam. “Nós estamos a fazer um trabalho normal e estamos preocupados em satisfazer a nossa cota do mercado”, afirma o presidente do Conselho de Administração da empresa, Hélder Chambisse, quando abordado sobre os desafios do maior importador face à conjuntura que coloca, não só o sector privado, como também o Governo sob pressão.

“É verdade que os desafios não são só de Moçambique, mas do mercado internacional, os preços estão a subir para todos. Com a guerra na Ucrânia, há problemas em termos de disponibilidade de frota, para trazer o combustível para todos os mercados, é um problema global”, afirma.

Chambisse refuta a narrativa de que a empresa tem sido subsidiada para que se mantenha robusta, sublinhando que a Petromoc “tem estado a procurar importar para satisfazer a nossa cota do mercado, estamos a fornecer os nossos clientes. A nossa relação com o Estado é normal, de accionista e empresa, não recebemos qualquer subsídio e o Estado nem pode. Estamos numa situação delicada por conta da situação global e temos que nos preocupar em fornecer combustível ao mercado”.

De acordo com Chambisse, existem os desafios e são os mesmos das outras gasolineiras e o que tem sido feito é sanar.

A incerteza no mercado de combustíveis aumentou desde a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia. No entanto, para fazer face à subida do barril no mercado internacional e gerir a incerteza que colocou Moçambique e países da região numa situação de vulnerabilidade, devido à competição existente para a mesma carga com diversos destinos, o governo simulou algumas medidas que não tiveram nenhum efeito no mercado.

Promo������o

Facebook Comments