Mulheres beneficiárias do DDR dizem estar arrependidas

POLÍTICA
  • Dois anos depois não receberam ainda pensões, nem os meios prometidos
  • Chegam a dizer que nas matas viviam melhor

Lançado no dia 29 de Julho de 2019, em Satungira, o processo de Desmilitarização, Desmobilização e Reintegração (DDR) das forças residuais da Renamo continua, mais de três anos depois, envolto a muita polémica. Quando tudo parecia encaminhado, fazendo fé a discursos do Presidente da República, Filipe Nyusi, e do líder da Renamo, Ossufo Momade, eis que, semana fina, um grupo de mulheres, ex-guerrilheiras da Renamo, decide colocar a boca no trombone para denunciar falta de pagamento de pensões e incumprimento das promessas de reintegração. O facto foi manifestado na Beira, província de Sofala, durante a Conferência Nacional de Mulheres, Paz e Segurança, organizada pelo Instituto para Democracia Multipartidária (IMD).

Jossias Sixpence – Beira

Em Agosto último, durante o encerramento da antiga base da Renamo em Montepuez, província de Cabo Delgado, o enviado especial do secretário-geral da ONU, Mirko Manzoni, revelou que o processo de DDR já havia atingido cerca de 77% dos beneficiários. No entanto, nem todos os referidos beneficiários estão satisfeitos.

Recentemente, um grupo de mulheres veio ao terreno denunciar o incumprimento das promessas do Governo no âmbito do DDR, afirmando que preferiam continuar nas matas ao invés de integrar o processo que apenas pariu decepção.

ʺDurante o processo do DDR, várias promessas foram feitas, das quais criação e financiamentos de projectos, apoio em material de construção, mas até agora só tivemos oito chapas, sete barrotes e catanas. Prometeram, por outro lado, pagar subsídios durante 12 meses, mas tal ainda não aconteceu. Nenhuma das promessas foi cumprida, acho que teria sido melhor se tivéssemos continuado nas matas”, disse Antonieta Gonçalves, para depois lembrar que ainda falta, também, cumprir a promessa de integrar antigos guerrilheiros às fileiras da Polícia de República de Moçambique.

Por sua vez, Virgínia Tauzene Chifenga mostrou-se indignada com a falta de seriedade do Governo no que respeita ao acordo assinado com a Renamo. Ao Evidências, contou que viu nas promessas do Governo uma soberana oportunidade para mudar de vida, mas debalde, pois tal não veio a acontecer.

ʺNo âmbito de DDR, um grupo está a dois anos sem receber e outro grupo já está a um ano. Fizeram muitas promessas, mas ainda não cumpriram nada. Vendi o grosso dos bens que me deram quando saí das matas para pagar a renda. Pedimos a quem de direito para resolver a nossa situação porque não queremos voltar as matas”, desabafou.

Quem ouviu de perto as reclamações das mulheres que estão de costas voltadas com o Executivo foi a embaixadora da Suécia, Mette Sunnergren, que observou que a exclusão das mulheres no processo do DDR pode comprometer a ambição da paz douradora no país.

Para Sunnergren, que falou da necessidade de se encerrar as últimas três bases da Renamo, ʺa igualdade de género é essencial para o alcance de todos objectivos do Governo, como paz, segurança e desenvolvimento sustentável. Estamos cientes de que não é possível alcançar a paz duradoura enquanto as mulheres, que são a maioria, forem excluídos no processoʺ, destacou Sunnergren.

Ainda na conferência das Mulheres sobre Paz e Segurança, o director executivo do IMD, Hermenegildo Mulhovo, observou que apesar de Moçambique ser signatário da Agenda 1325 sobre mulher, paz e segurança, e possuir um plano de operacionalização do envolvimento das mulheres no processo de paz e segurança, a participação da mulher no processo da paz ainda é muito fraca,

“Com essa conferência pretendemos contribuir através de reflexões baseadas em evidências e desenhar acções robustas com vista a melhorar a participação de mulheres no DDRʺ, declarou Mulhovo.

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