Em protesto contra as irregularidades detectadas na Tabela Salarial Única, os médicos, encabeçados pela Associação Médica de Moçambique, decidiram paralisar as actividades durante 21 dias, ou seja, entre o dia 07 e 28 do próximo mês de Novembro. No seu caderno de reivindicações, a classe médica alega que o Governo a faltou com o respeito a classe, uma vez que não cumpriu com as suas promessas.
De acordo com Gilberto Manhiça, Bastonário da Ordem dos Médicos de Moçambique, O Executivo não cumpriu com as promessas que fez a classe médica na reunião realizada entre as duas partes no dia 26 de Agosto do ano em curso.
“Está claro que não há vontade da parte do Governo de melhorar as condições da classe. Está na hora de não continuarmos tentar falar e recuperar soluções. Significa que vamos, mais uma vez, falar sozinhos. Tomamos uma decisão de uma forma unida, vamos paralisar as actividades como foi sugerido aqui e nós vamos estar unidos para representar a nossa classe. Não vamos mais aceitar a falta de respeito. Nós exigimos respeito e nós temos que nos dar ao respeito”, declarou Manhiça para depois que os médicos sem sentem traído pelo Executivo, tendo igualmente aberto uma janela para o diálogo.
“Vamos enviar uma lista dos serviços que serão paralisados sempre tentando não prejudicar a nossa população. Não queremos que violem os nossos estatutos e direitos. Queremos que cumpram com o que prometeram. Sentimos que fomos traídos. Nós estamos abertos ao diálogo, mas se chegamos a esse ponto é que não estamos a ter dialogo. Enviamos uma carta para o Primeiro Ministro com conhecimento do Presidente da República, do Ministro da Economia e Finanças, do Ministro da Administração Estatal e Função Pública e do Ministro da Saúde, mas até hoje não tivemos a resposta.
“Existem uma ilusão de que os médicos ganham muito dinheiro”
Por seu turno, Milton Tatia, presidente da Associação Medica de Moçambique, referiu que com a entrada em vigor da Tabela Salarial Única alguns médicos passaram salário abaixo do que auferiam embora esteja contemplada a cláusula da irredutibilidade salarial, tendo igualmente falado da estranha redução do subsidio de risco de 30 para 5%.
“Esta irredutibilidade cria condições para que tenhamos duas classes de médicos a fazer o mesmo exercício, mas o que estão no sistema iam beneficiar da irredutibilidade, mas o recém-contratados não porque este instrumento havia de afectá-los. Constatamos que de uma forma estranha, os subsídios de risco que caracterizam a profissão médica tinham inicialmente estipulados na ordem dos 30%. Na primeira proposta foi reduzida para 15% e nesta última proposta foi reduzida para 5% o que significa que que legislador entendeu que foi reduzido o risco do trabalho do médico subitamente de 30 para 5% isto nos preocupa”.
Indo mais longe, Tatia lançou duras críticas ao Executivo, uma vez que, ao seu ver, pensa que os médicos ganham muito dinheiro.
“A maior parte dos médicos não está em condições de financiar o seu próprio tratamento. Se precisar de algum tratamento médico ele não está em condições de financiar o seu próprio tratamento, não está em condições de o tratamento da sua família. Existem uma ilusão de que os médicos ganham muito dinheiro o que não é verdade porque o grosso dos médicos não tem esses rendimentos que se pretende passar. Sabemos que os médicos tinham rendimentos que estavam muito abaixo de outras profissões”.
Nas entrelinhas, presidente da Associação Médica de Moçambique compara a formação da classe médica com os demais sectores do Estado para exigir equilíbrio nos salários, justificando que os médicos investem muito na sua formação douradura.
“O que foi a filosofia propalada quando começamos com essas discussões é que efectivamente se estava a criar uma tabela que iria contemplar de uma forma justa todos os funcionários do Estado, ora sabendo que tinham outros que estavam a ganhar a acima esperava que uma ascensão para suprir esse desiquilíbrio. Esperava que houvesse uma consideração para os médicos e famílias que investem na sua formação. Os médicos fazem lineciactura em seis anos e outros em três. Enquadrar esses dois profissionais no mesmo no mesmo patamar não nos parece que seja um enquadramento correcto”, rematou.
De lembrar que, em Julho, logo após a divulgação da Tabela Salarial ora revista, os médicos não esconderam a sua insatisfação e chegaram a convocar uma greve que no entanto não aconteceu devido ao recuo do Governo na implementação da TSU, mas, na altura, deixaram claro que caso a revisão da Tabela Salarial Única não resolva as suas preocupações iriam sair à sua.
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