Não foi confirmado o ambiente favorável que o Governo tinha garantido à TotalEnergies

DESTAQUE POLÍTICA
  • Total já recebeu o relatório de Jean-Christophe Rufin e não parece animada
  • Documento trancado a sete chaves, mas há suspeitas de desvios de ajuda humanitária

Quando tudo indicava que já estavam criadas as condições para a retoma da Total Energies a Cabo Delgado, eis que a multinacional francesa fez questão de renovar a incerteza, mesmo depois de ter recebido em finais de Fevereiro último o relatório da missão independente de avaliação da situação humanitária na província de Cabo Delgado, produzida pelo especialista Jean-Christophe Rufin. O Evidências apurou que o consultor cumpriu com o prazo estabelecido, no entanto, ao que tudo indica parece não ter sido confirmado o ambiente favorável que o Governo tinha garantido à TotalEnergies, o que justifica o último posicionamento do CEO da multinacional francesa Patrick Pouyanné, que disse ser ainda prematuro o retorno ao projecto.

Evidências

Em Fevereiro passado, o CEO da empresa, Patrick Pouyanné deslocou-se à província de Cabo Delgado, onde por terra perfez o percurso Mueda, Palma e Mocímboa para verificar a situação de segurança e humanitária. Quando tudo indicava para o anúncio do retorno da Total Energies a Cabo Delgado, eis que Pouyanné  resfriou as expectativas dos moçambicanos ao anunciar a criação de uma missão de avaliação da situação humanitária.

Recorde-se que para o levantamento da Força Maior e a retoma das actividades no local do projecto Mozambique LNG, Pouyanné condicionou ao restabelecimento da segurança na região, a retoma do funcionamento dos serviços públicos e o retorno a uma vida normal para as populações da região.

A missão foi confiada a Jean-Christophe Rufin, personalidade reconhecida pela sua experiência nas áreas de acção humanitária e de direitos humanos. Para além da avaliação independente da situação humanitária na província de Cabo Delgado, cabia a Rufin avaliar as acções implementadas pelo projecto Mozambique LNG e propor, se necessário, acções complementares a serem implementadas.

O relatório desta missão, segundo apurou o Evidências, já foi entregue à Total, dentro do prazo, neste caso em finais de Fevereiro. No entanto, as suas conclusões que deviam ser partilhadas com todos os parceiros do projecto Mozambique LNG para decidirem se as condições estão ou não reunidas para uma retoma das actividades do projecto continuam trancadas a sete chaves.

O Evidências apurou de fonte abalizada que o consultor independente não confirmou no terreno o ambiente favorável que o Governo tinha garantido a TotalEnergies, subsistindo ainda algumas lacunas por suprir, sobretudo na questão humanitária.

Embora o conteúdo do documento continue oculto a sete chaves, algumas fontes confidenciaram ao Evidências, que o consultor independente identificou suspeitas de desvios de ajuda humanitária, entre outras irregularidades, que fazem com que dois meses depois de concluído o trabalho e entrega do relatório, a TotalEnergies continue a olhar para o projecto com alguma reserva, tal como deixou a transparecer semana finda Patrick Pouyonné.

Especialista condicionou que todas constatações façam parte do relatório final

Refira-se que, segundo apurou o Evidências, uma das condicionantes colocada à mesa pelo experiente especialista, era que todas as constatações apuradas deviam fazer parte do documento final, sem nenhuma maquiagem.

Refira-se que a TotalEnergies anunciou a sua retirada de Afungi no dia 26 de Abril de 2021, um mês depois do ataque a Palma, tendo em conta a evolução da situação de segurança no norte da província de Cabo Delgado. Na altura, o projecto Mozambique LNG decidiu a retirada de todo o pessoal do projecto em Afungi, o que levou igualmente os parceiros do projecto Mozambique LNG a declarar força maior.

Desde então, Moçambique tem estado a envidar todos os esforços no sentido de convencer a multinacional a retornar em Cabo Delgado. No entanto, a TotalEnergies tem estado de argumento em argumento a encontrar motivos para adiar o seu retorno, o que, segundo alguns especialistas, pode ser um pretexto para deixar o Governo de Maputo desesperado a ponto de ceder a uma renegociação dos contratos, com condições mais favoráveis para aquele player internacional.

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