França: Do isolamento da Françafrique à contínua ascensão em Moçambique

EDITORIAL

Desde o princípio do sec. XXI que a Françafrique, como é chamada a influência francesa nas antigas colónias espalhadas pela Africa Oriental e Ocidental, mantém-se e, especialmente entre a juventude, cresce o ressentimento contra a antiga potência colonial. Desde os anos 1980, vários candidatos presidenciais prometeram virar as costas à Françafrique, mas são “engolidos” pela agenda francesa logo que ascendem o poder.

Colocando a pretensão em um discurso político que nalguns casos chegou a se concretizar em países curiosamente instáveis e com continuo históricos de golpes de Estados a depender de ajuda francesa para manter estabilidade. Em todos casos, a presença da Frença em Africa constitui a fonte da sua riqueza, afinal sem acesso as entranhas de Africa o país corre risco de ser reduzido como potencia.

Lembre-se que estamos a falar de um país que, até 2020, tinha uma sólida presença no continente com 1.100 grupos empresariais, cerca de 2.100 filiais e a constituir uma terceira maior carteira de investimentos, depois do Reino Unido e dos Estados Unidos.

Mas a abordagem das antigas colonias francesas, alguns em contantes guerras civis e sistemas políticos instáveis, pode ter influenciado para uma nova abordagem da expansão francesa. E Moçambique, que por coincidência ou não, dois anos antes da entrada formal da monstruosa empresa francesa- Total, experimenta a instabilidade forçada pelas acções terroristas, é o novo destino de imperialismo agora comercial da França, acolhendo o maior investimento “privado” de África.

Quando todos estávamos acostumados com um a ideia de uma multifrancesa interessada apenas no gás ao liderar o projecto da Área 1 da Bacia do Rovuma, eis que a TotalEnergies se entranha em todo sector energético. Ontem foi a compra das acções da Anadarko, depois começou a comprar todo activo da BP no ano passado fortificando a posição da Total no negócio de combustíveis a retalho e há meses ganhou o concurso para importação exclusiva de combustíveis e semana passada foi confirmado Concorrente Preferencial (Preferred Bidder) no concurso para a Selecção do Parceiro Estratégico para o desenvolvimento do Projecto de Mphanda Nkuwa.

O comunicado do Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME), através do Gabinete de Implementação do Projecto Hidroeléctrico de Mphanda Nkuwa (GMNK), anunciou semana passada que o consórcio liderado pela Electricidade de França (EDF), que inclui a Total Energies, a Sumitomo Coorporation e a Kansai, como Concorrente Preferencial (Preferred Bidder) no concurso para a Selecção do Parceiro Estratégico para o desenvolvimento do Projecto de Mphanda Nkuwa.

A indicação resulta da avaliação efectuada às propostas técnicas, económicas e financeiras válidas, pelo Comité presidido pelo MIREME, constituído pela Electricidade de Moçambique (EDM), Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), Ministério da Economia e Finanças, Ministério da Terra e Ambiente, Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social e o Banco de Moçambique, diz uma nota do MIREME.

Esses movimentos todos acontecem quando o investimento prioritário, que marca a entrada da TotalEnergies está estagnado e a sua retoma continua incerto. Até o Executivo Nyusi, antes metido em contínuos apelos para que a multinacional retoma as suas actvidades abrandou o tom, e aos poucos vai se acostumando com a ideia de que não será neste consulado que verá qualquer centavo da TotalEnergies. Muitas questões se colocam, como se de facto a TotalEnergies tem dinheiro, está efetivamente interessado em explorar o gás, tem de facto os interesses que prega ou de repente estamos na última lista das prioridades da empresa.

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