Ngoenha defende que a falta de vigilância contra “nós próprios” abriu espaço para a proliferação da corrupção

DESTAQUE SOCIEDADE

A corrupção continua um dos calcanhares de Aquiles para o desenvolvimento de Moçambique. Na opinião do conceituado acadêmico, Severino Ngoenha Moçambique tornou-se um antro da corrupção porque falhou no trabalho de vigilância contra os “xiconhocas”. Enquanto o antigo ministro da Saúde, Ivo Garrido, observa que o país foi engolido pela teia da corrupção, ou seja, a corrupção está em todos os sectores da sociedade, Teodato Hunguana, que citou a Constituição de 1975, o ultra – presidencialismo criou condições para a rápida proliferação sistemática da corrupção em Moçambique.

Texto: Duarte Sitoe

Durante a sua intervenção nas celebrações do 18º aniversário do Centro de integridade Pública, Severino Ngoenha lembrou-se do período pôs independência em que a governação estava assentes em três pilares, nomeadamente, Unidade, Trabalho e Vigilância.

Ngoenha, que observa que no passado os moçambicanos faziam jus a unidade porque velavam pelo território independentemente da raça, religião ou idade, não tem dúvidas que Moçambique está dramaticamente oposto quando se olha para o segundo pilar elencado para o desenvolvimento do país depois da proclamação da independência

“O Pilar trabalho é extremamente importante porque significava na altura que Moçambique ia viver na base do trabalho e o nosso futuro como colectividade dependia do esforço que íamos manter na constituição do nosso trabalho. Se olharmos para Moçambique de hoje estamos dramaticamente opostos. Não dependíamos do FMI, o Banco Mundial era uma coisa que aqui não existia, não dependíamos da ajuda dos americanos, canadianos e suíços, havia ideia daquilo que nós decidimos ser com o esforço que cada ia meter”, declarou o acadêmico

Olhando para o actual estágio da corrupção em Moçambique, Severino Ngoenha referiu que o país falhou redondamente no que a vigilância diz respeito o que, de certa forma, facilitou a entrada da corrupção em Moçambique. Aliás, Ngoenha adverte que a corrupção na perola do indico não chegou do exterior, ou seja, nasceu e cresceu intramuros.

“Vigiamos muito contra a África do Sul que depois tomos uma parte da Rodesia do Sul, vigiamos muito contra os xiconhocas internos. Alguma coisa a Frelimo não fez então, é que esta vigilância não foi introspectiva, ela não vigiou a soberania própria sobre os seus próprios elementos e foi da falta da vigilância que entrou a corrupção em Moçambique. A corrupção não chegou do exterior. Quando a UNIMO Chegou ela chegou para ajudar Moçambique a ficar democrático e dolacratizou Moçambique… houve vigilância contra os xiconhocas, mas não fizemos contra nós próprios e isso abriu espaço para Moçambique que temos hoje”.

O antigo ministro da Saúde, Ivo Garrido, observa que o país foi engolido pela teia da corrupção, advertindo que a corrupção não se limita ao Governo mas sim em todos os sectores da sociedade.

“Quando falamos da corrupção estamos a falar do Governo, mas todos sabemos qual é o Governo que temos, mas quando ouço falar de corrupção numa igreja não posso acusar Nyusi disso. Há dias houve confusão numa mesquita que foram acabar num Tribunal e outro dia ouvi que há uma confusão na Igreja Veja Apostólica e que andam a se digladiar por corrupção. O assunto é sério, a corrupção não está limitada ao Governo, a corrupção é sistêmica e está em todos os sectores da sociedade. A sociedade está de facto doente. Bater no Governo está na moda, mas não é a abordagem científica mais correcta, vamos alargar, olharmos para a nossa sociedade”

Por sua vez, Teodato Hunguana referiu que o fenômeno corrupção tem a ver com efeito do poder, advertindo que o mesmo não se combate apenas com discursos. Hunguana citou a Constituição de 1975 para apontar que o ultra – presidencialismo criou condições para a rápida proliferação sistemática da corrupção em Moçambique

Facebook Comments

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *