Será que não interessa a FMA desvalorizar a LAM?

EDITORIAL

A FMA apresentou na semana passada o relatório dos três meses de intervenção na companhia da bandeira. O documento traz uma “correcção contabilística”, que desde o início da intervenção reduziu a dívida das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) em 61.6 milhões de USD, tornando-a solvente. Lembre-se que a primeira correcção foi feita nos primeiros 30 dias, e 90 dias sem nada a oferecer recorre ao único triunfo, sem fazer referência às metas da intervenção. 

A explicação dos gestores da FMA é de que essa redução consistiu no lançamento correcto de transacções em conformidade com as normas internacionais de contabilidade, às práticas contabilísticas geralmente aceitáveis e às directrizes contabilísticas do Tesouro Nacional.

O erro verificado nas transações tem a ver com o enquadramento das canalizações financeiras do IGEPE na rubrica do passivo, ou seja, os antigos gestores financeiros da LAM colocavam as capitalizações do sócio da LAM na dívida. Estranho que isso tenha escapado a Ernst & Young, o auditor da LAM, que se mantém mudo e indiferente a actuação da FMA.

E do nada essa descoberta passou a ser o objecto de triunfo da FMA, o gestor que encontrou a fórmula matemática de projectar a LAM por fora, enquanto afunda por dentro. E por esse trabalho milagroso factura cinco milhões em meticais, com direito de terceirizar o serviço a custo de uma outra factura à LAM, afinal a FMA não tem quadros, o ministro Magala já mentiu por eles, e não pode pagar pelos seus contratos quando gere uma vaca leiteira cujo futuro é incerto. Não pode, por isso, esperar pela partilha de lucros como foi antes anunciado, eles demoram e ainda vão demorar. Os sul africanos estão cientes, não de devolver à LAM a curto prazo à estabilidade, mas principalmente da sua incapacidade em alcançar esta meta, e é por isso que enquanto nos entretém com as correções matemáticas e umas denúncias de esquemas que pululam em quase todas empresas públicas em jogos de perseguição e intimidação para encobrir a incapacidade, somam e seguem a facturar por mês, num pagamento com fortes indícios de fraude fiscal.

O resultado da mão mágica da FMA são 60 milhões de dólares. Mas, onde estão? Ah, eles são só números e não podem pagar pelos serviços cuja tendência da dívida mostra-se crescente. E isso não interessa a FMA partilhar. Não interessa partilhar que chegou a ter dificuldades de pagar uma IATA, que as dívidas com a empresa da manutenção chegaram a ameaçar a pronta intervenção no caso de avaria na África do Sul, que a previsível ruptura com a Boeing tem mais a ver com arrogância nas negociações do que com vontade de romper, que até os riscos de falhar com os salários começam a ganhar tom nos corredores da LAM. Sem falar dos atrasos nos voos, da falência, bem calculada, da MEX e agora, a boca pequena, do pedido de injeção ao Governo (já não são mais os gestores internacionais a trazer dinheiro e meios).

Assim como não interessa lembrar que as promessas iam muito além da intervenção administrativa, envolvia aspectos operativos que até aqui não tiveram avanço, não interessa partilhar que aquele relatório não teve consenso por se mostrar exequível e que o ministro foi dito isso em uma reunião do conselho cultivo um dia depois da publicação do mesmo.

Interessa apenas partilhar relatórios à moda praça dos heróis, com uma tendência de crescimento de receitas, ocultando os custos operativos cujos resultados não são proporcionais aos esforços feitos. Nem o populismo de voos baratos compensa o buraco que pode estar a se abrir, é preciso mesmo muita precipitação para vender bilhetes a menos do que a Flysafair, em resposta a este quando o mesmo não oferece os mínimos serviços como a LAM.

É justamente neste momento que é importante que se partilhe os custos operacionais, de repente estamos diante de receitas que em termos proporcionais, independentemente das receitas, é um buraco que teremos dimensão quando os próximos 17 meses terminarem. Permanece a pergunta, a quem interessa aniquilar a LAM? 

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