Consumada a última manchadada à esperança de um processo eleitoral livre, justo e transparente

EDITORIAL

Nem mais, os resultados não mentem. Fortes indícios de fraude, polícia equipada até a exaustão para reprimir com recurso a balas reais e com uso excessivo da força contra eleitores que denunciavam irregularidades no decurso do processo, eleitores encontrados com boletins pré-votados a favor da Frelimo, “importação” de eleitores fora do círculo ou da autarquia e, no fim, as mesmas consequências previsíveis: uma vitória repudiável e ilegítima, um representante público sem apoio das massas e sem liberdade de caminhar livremente em plena praça sem aparato policial porque tem medo do povo que diz representar.

É o reeditar do que vimos nas eleições do dia 11 de Outubro, que ao tentarmos corrigir com as eleições do dia 10 passado, fracassamos. Um fracasso conjunto, que veio justamente no momento em que tentávamos corrigir o que ontem tínhamos como erro. Um erro que custou ao Estado mais de 40 milhões de meticais, valor suficiente para comprar e abrandar a degradação contínua das nossas unidades sanitárias ou para comprar carteiras que impedem os petizes de assistir aulas condignamente.

Impossível imaginar que a Frelimo foi à correcção com os mesmos vícios de sempre, arquitetados ao mais alto nível. Então, podemos pensar que a Frelimo alimentou uma cultura de roubo, que não está mais no seu controlo gerir. A mão que roubava em nome do chefe agora age em nome próprio, ganhou liberdade e age sem pudor, expondo ridiculamente a degradação ética do seu mentor.

Ali está a morte da esperança de um povo que acreditava que com reconhecimento da fraude pelo Conselho Constitucional, o órgão mãe do nosso Estado de direito democrático, seriam estas as eleições mais limpas e competitivas de forma justa, mas Gurué e Marromeu representaram essa derrota conjunta. O retrato que se tem é de uma polícia que espancava, de pessoas compradas para encher as urnas e de delegados da oposição detidos simplesmente por denunciar a fraude perpetrada pela Frelimo, uma reedição do que se assistiu na Beira, quando membros do MDM foram presos por apontar o autor da fraude, um insólito normalizado.

Não foi isto que foi previsto pela Renamo em Nacala Porto, onde optou por não participar do processo alegando ter ganho no processo passado?

De acordo com o apuramento paralelo realizado pelo Consórcio Eleitoral Mais Integridade, uma das organizações que mais se destacou neste processo das sextas eleições autárquicas, com base nos editais das 18 mesas de Nacala-Porto, a Frelimo venceu com 91% (3.227 votos), contra 6,2% (221 votos) da Renamo e 2,5% (89 votos) do MDM. Votaram 3.694 dos 12.893 inscritos, o que representa uma taxa de participação de 28,7% e uma abstenção de 71,3%. A Frelimo foi sozinha, a Renamo convocou conferência da imprensa para anunciar a desistência, num momento em que seu candidato era chamado para justiça, mas mesmo assim não conseguiu os votos da Renamo, num processo onde apenas um quarto dos inscritos participou do processo.

É a morte lenta de todas as formas pacíficas de fazer política em Moçambique. A pergunta que fica é quais são os outros meios que ficam à disposição da oposição para concorrer em pé de igualdade com a Frelimo?

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