“Não se pode tomar uma decisão ou resolver-se um conflito tendo em conta apenas a opinião do homem”

SOCIEDADE
  • Mulheres no processo de reconciliação

Em Moçambique, apesar dos avanços na promoção da igualdade do género, ainda são excluídas na resolução dos conflitos. Os preconceitos continuam por detrás desta decisão. No entender dos activistas sociais, urge a necessidade de dar espaço a mulher na resolução dos conflitos ao invés de tomar decisões com base na opinião dos homens, visto que ela tem papel importante na construção da paz.

Esneta Marrove

No passado, as mulheres não tinham direito de participar em assembleias democráticas, assumir cargos de gestão e tomar decisões políticas. Esta situação já faz parte do passado, uma vez que actualmente há mulheres nos cargos de tomada de decisão. Contudo, as mulheres ainda enfrentam barreiras para dar o seu contributo na resolução dos conflitos.

Segundo Sharon Truzão, oficial de programas da Associação Mulher, Lei e Desenvolvimento (MULEIDE), é uma opinião que deve ser alterada urgentemente porque a mulher tem um papel imprescindível para a construção da Paz, sendo considerada um pilar neste aspecto.

“Quando se fala de paz, harmonia e resolução de conflitos, temos a mulher como principal imagem embora no nosso contexto, a discriminação e exclusão total da mulher é o que se verifica nos processos de tomada de decisão o que torna-se um grande desafio porque olhamos para a exclusão de um dos elementos principais”

Para a oficial de programas na MULEIDE, quanto mais forem incluídas as pessoas envolvidas para a construção da Paz numa determinada sociedade, maior são as probabilidades da paz ser duradoura, daí que apela pela maior inclusão de mais actores.

“É necessário incluir todos, desde mulheres, jovens, pessoas com deficiência por estes fazerem parte da mesma sociedade só assim se chegará a conclusão com base na opinião de todos envolvidos, não se pode tomar uma decisão tendo em conta apenas a opinião do homem”, considerou Sharon Truzão para posteriormente defender que tudo deve começar nas comunidades.

“A nível local, onde se reúnem os líderes comunitários, o processo de discussões nas comunidades, normalmente as mulheres ficam caladas porque o aspecto de submissão está tão enraizado que elas sentem que as suas opiniões não serão ouvidas, por vezes não fazem parte desses processos, se elas estão é por representatividade a sua participação é passiva e não activa, quem tem mais noção de resiliência, soluções” enfatiza.

Por sua vez Ferosa Zacarias, Directora Executiva do Fórum das Rádios Comunitárias (FORCOM), referiu a exclusão da mulher no processo de resolução de conflitos parte desde a base ou seja em casa, tendo apontado para a necessidade da sociedade dar as mesmas mulheres as mesmas oportunidades que tem dado aos homens.

“Se isso acontecer a mulher vai alcançar grandes patamares na sociedade, é preciso continuarmos a investir cada vez mais na mulher desde a sua casa e assim ela estará mais preparada para resolver qualquer tipo de conflito. Se a mulher tiver a oportunidade de intervir activamente, expor suas ideias ela contribuirá de forma significativa para o alcance da Paz no País porque na sua génese ela carrega o lado sensível para paz, reconciliação e desenvolvimento da família e comunidade” declarou.

Prosseguindo, Ferosa Zacarias defendeu que o Governo tem um papel para alterar esta tendência, abrindo mais espaço para a actuação da mulher. “O Governo deve adoptar políticas públicas concretas para que a mulher possa usufruir dos seus direitos”.

Refira-se que Moçambique é signatário de vários instrumentos internacionais relacionados à Resolução de Conflitos, sendo que busca alcançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, nesta componente, que apregoa Paz, Justiça e Instituições Eficazes.

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