Atraso de pagamentos de salários arrasta agentes da PRM ao mundo do crime

DESTAQUE POLÍTICA
  • Denuncia Associação Nacional dos Polícias

No seu último informe na Assembleia da República, a procuradora-geral da República, Beatriz Buchili, voltou a queixar-se do crescente envolvimento dos agentes da Lei e Ordem na criminalidade, incluindo a organizada. Para o presidente da Associação Nacional dos Polícias, Nazário Muanambane, os recorrentes atrasos no pagamento dos salários contribuem para que membros de várias unidades da Polícia da República de Moçambique entrem no mundo do crime.

Esneta Marrove

Actualmente, reina uma incerteza no grosso dos Funcionários e Agentes do Estado (FAE) em relação ao dia que recebem salários, gerando precariedade do estilo de vida dos funcionários, sobretudo agentes da lei e ordem, que muitas vezes usam as habilidades e armas dadas pelo Estado para encontrarem uma saída, ainda que de forma ilícita.

Confrontado no quadro das celebrações do dia da polícia, o presidente da Associação Nacional dos Polícias, Nazário Muanambane, mostrou-se indignado com o desvio comportamental de alguns agentes, mas entende que os atrasos salariais podem estar por detrás do envolvimento dos agentes da lei e ordem no crime organizado.

“Temos ainda problemas muito sérios. Deparamo-nos com colegas que mancham a corporação e isso pode estar associado à demora de pagamentos de salários bem como outras injustiças”, apontou sem deixar de lado os retroactivos devidos, que o Governo sequer fala deles actualmente.

Para além do atraso de salários, Muanambane acrescentou que os descontos injustos continuam na corporação, o que de certa forma corta a moral dos membros da corporação.

“Assistimos polícias que estão moralmente afectados em termos de logística e não têm o direito ao seu salário mensal, por vezes passam dois meses ou mais sem salário, o que influencia negativamente no comportamento e comprometimento com a lei. Há quem sofre descontos a muito tempo”, denunciou.

Para evitar comportamentos desviantes dos homens da lei e ordem, o presidente da Associação Moçambicana dos Polícias defende que é preciso olhar-se para as condições de trabalho, de modo que agentes da PRM “sintam-se enquadrados no seu sector de trabalho”.

“Enquanto continuarmos a assistir a demora de salário teremos esta situação. Os policiais são seres humanos, têm família e precisam manter o bem-estar dela, mas quando não recebem podem envolver-se em crimes como raptos. Se queremos melhor trabalho da polícia precisamos de apetrechamento, porque ele suporta muita coisa”, advertiu.

No entender da agremiação que dirige, o problema de pagamentos de ordenados dos agentes da PRM começou com a implementação da Tabela Salarial Única (TSU). É que, os militares e polícias tinham um sistema de processamento de salários paralelo e foi decidido que eles tinham também de migrar para um processamento único do Estado.

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