O fardo para quem segue

EDITORIAL

Estamos diante de todas as evidências possíveis de uma Administração Pública doente, insensível às aspirações colectivas e desvinculada dos seus valores. A cura mostra-se cada vez mais distante, e seus actores, tanto dos que os executam (servidores públicos), como os que regulam (Tribunal Administrativo), até os que se beneficiam (todos), não falam a mesma língua e não têm qualquer comunicação saudável. Fecham-se ao público e recusam, ornados de toda arrogância, qualquer solução despida de motivações políticas e centrado na racionalidade.

 

A greve dos profissionais de saúde, dos professores, dos magistrados, dos jovens configura sinais inequívocos de uma Administração Pública disfuncional e refém de reformas profundas, desde a concepção até a materialização da razão da sua existência. É que ela existe para servir, para viabilizar as aspirações políticas e dar rumo ao nosso Estado de Direito Democrático, criando uma base sólida para que todos, independentemente do seu status social, tenham acesso à educação básica, à saúde, à justiça. No entanto, o retrato actual mostra claramente que no lugar de prover os mínimos serviços sem mancha, vai servindo de reflexo de servidores desprovidos de sensibilidade de uma consciência colectiva, de gestão inclusiva e políticas públicas eficientes. É grave.

 

E a generalização da insatisfação não pode ser vista com arrogância, como se pode depreender da fala de Mateus Magala, quando reage à fúria pública devido às subidas das taxas de internet. Os servidores públicos têm na satisfação das necessidades colectivas a realização do seu trabalho e quando o trabalho exercido por estes não satisfaz as aspirações dos servidos estamos diante de um fracasso e deve se identificar a causa, no lugar de insistir na banalização das instituições públicas.

 

Há mortes nos hospitais, isso é um facto. Ninguém está lá para contar, mas para ocultar os números com vista a esconder o caos. Há um retrocesso na educação, isso é prejudicial à nação, que o diga o futuro. Na defesa, a insatisfação é palpável. E os juízes já deixaram o recado. Ora, não devia aqui o poder político tentar medir forças, pelo contrário, devia é dialogar, sem emoções de motivações políticas que ofuscam a qualidade e a racionalidade dos debates.

 

O Estado está doente, uma doença que começou por alguns membros e agora vai se alastrando para os demais órgãos do mesmo. É que ontem eram apenas os médicos, depois seguiram-se os profissionais da saúde que optaram por renovar a greve porque não viram seriedade nas nossas autoridades. Os professores, principal braço operativo da Frelimo em período eleitoral, não bastou ilustrar toda sua insatisfação nas eleições passadas (autárquicas), precisa recorrer de novo à greve. Tudo consequência de uma administração ineficiente, de compadrio, despido da técnica, e resumida a satisfação de grupinhos fragmentados em células dentro das instituições que, a princípio, deviam servir milhares e não dezenas.

 

Enquanto se manifestam as consequências, os erros administrativos continuam, com os estrangeiros, a garantir a soberania nacional em Cabo Delgado, a serem gestores de empresas nacionais como LAM e sem qualquer eficiência administrativa basta pagar férias do ministro do pelouro, ou seja, destruímos cada rastilho da nossa moçambicanidade enquanto exaltamos as várias intervenções externas. E nada trazem para além de expor a incompetência de líderes que acreditam nos liderados por aquele do que por si. Enfim, o futuro é ali.

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