Quando o professor é a vítima de assédio por parte de estudantes

DESTAQUE SOCIEDADE

O assédio sexual nas instituições de ensino é uma realidade em Moçambique. No grosso das vezes são os professores que assediam as alunas com promessas de passagem de classe e privilégios. No entanto, há casos em que os docentes são vítimas de assédio sexual e mesmo conhecendo os mecanismos de denúncia preferem ceder ou encarrar atitudes desviadas de alunas com normalidade. De acordo com o especialista em desenvolvimento humano e educação, os professores não denunciam quando são assediados por vergonha.

 

Jossias Sixpence – Beira

 

Uma pesquisa levada a cabo pelo Centro de Integridade Pública (COP) e Mídia Lab (ML) concluiu que seis em cada 10 alunas que frequentam o ensino superior em Moçambique já foram vítimas de assédio sexual perpetrado pelos seus docentes.

 

Entretanto, há situações em que o professor passa de assediador para a vítima, sendo que mesmo conhecendo os mecanismos de denúncias este prefere abraçar o silêncio.

 

“Sou professor há mais de 10 anos, e a questão de assédio da parte das alunas tem sido recorrente, principalmente nos finais do trimestre ou final do ano, e nos primeiros anos foi difícil lidar com esta situação, mas durante o tempo fui me adaptando para lidar com este tipo de caso, mas nem sempre o assédio é apenas para alunas com baixo aproveitamento pedagógico, algumas delas têm se insinuado para professores com olhares, e forma anormal de ser que o percebemos que estamos perante o assédio e até fingimos como se nada estivesse a acontecer,” disse Ndofa Muchanga, professor secundário.

 

Sérgio Meque conhece os mecanismos de denúncia, mas refere que a sociedade não está preparada para lidar com casos em que o professor é quem denuncia que foi assediado pela sua estudante.

 

“Sofremos calados, mas sinto que a sociedade não está preparada para lidar com denúncias vindo de homens, mesmo quando éramos crianças, quando fossemos queixar aos nossos pais que sofremos assédio eles incentivavam, querendo dizer que para homens é normal, e crescemos com esta concepção”, disse Meque.

 

O director da Escola, que preferiu falar em anonimato, disse que nunca recebeu nenhuma denúncia formal sobre assédio sexual. “Em duas escolas que dirigi nunca nenhum professor já tomou iniciativa de denunciar caso de assédio sexual, mas quando o professor esta perante uma acusação sobre abuso sexual é onde ele diz que a aluna que teve iniciativa de assédio”, afirmou a fonte.

 

Por sua vez, José Gomes, especialista em desenvolvimento humano e educação, diz que muitos professores preferem não falar do assunto para não serem menosprezados pelos amigos e familiares.

“É preciso combater os mitos de que os homens não sofrem assédio sexual, temos que quebrar este tabu e permitir que possamos abordar o assunto sem estigmas, portanto muitos preferem não falar do assunto para não serem ironizados ou diminuídos e menosprezados pelos amigos e familiares, mesmo estes conhecendo mecanismos de denúncias”, declarou José Gomes.

Facebook Comments