Ibrahim Traoré, Bassirou Faye e a 3ª Revolução Africana _ Parte 6

OPINIÃO

Felisberto S. Botão

Eleições na RSA e o Governo de Unidade Nacional

Para o branco, existe “negro útil” e “negro inútil”, enquanto que para o negro, existe “branco bom”, e “branco mau”. Esta é a premissa fundamental da definição de estratégias de luta, é onde o branco acerta e o negro falha. O caso sul africano é tão importante, que decidi dedicar mais um artigo a ele.

Nas últimas eleições de 29 de Maio de 2024, a história deu aos negros sul africanos uma oportunidade de corrigirem o erro comum que cometeram em 1994, pois, juntos fazem a maioria negra necessária para implementar mudanças, na constituição e na sociedade. Os negros não escutaram a voz do universo e dos ancestrais, e não esqueceram as diferenças fictícias entre eles para lutarem pela sua terra. Optaram por identificarem “brancos bons” e formar aliança. Que desgraça…

Embora muitas das políticas segregacionistas remontassem às primeiras décadas do século XX, foi a eleição do Partido Nacionalista (NP) em 1948 que marcou o início das características mais duras do racismo legalizado na África do Sul, denominado Apartheid, que o seu fim legal foi há 30 anos apenas.

O apartheid dividia locais públicos entre brancos e negros, reservava 87% do território à minoria branca, proibia os negros de morar nas cidades (como voltaram a fazer hoje em Orania, aos olhos do governo do ANC) e ainda classificava a população segundo a raça. No entanto, De Klerk, o último presidente do regime racista, que seguiu os passos da sua tradicional família afrikaner, instalada no país desde 1686, nunca reconheceu o regime que segregava os negros sul-africanos como um crime contra a humanidade, o que mostra que o sistema é uma convicção ideológica até hoje defendida.

O governo também confiscou propriedades de negros e obrigou milhares de pessoas a se mudar para áreas reservadas por etnia. Placas determinavam as áreas para brancos e as áreas para negros — que deveriam, obrigatoriamente, carregar uma caderneta com informações pessoais. O povo negro sofre até hoje as consequências e impactos deste sistema, perpetrado por pessoas que hoje constituem o partido DA.

O cenário da constituição do Governo de Unidade Nacional na África do Sul, mostra claramente o quanto o povo negro ainda não percebeu a luta que está a lutar. A luta de raças nunca existiu para o africano. O branco introduziu esta luta, mas o africano não assimilou ainda. ANC era o partido de consenso quase total entre os negros até 1994, hoje caiu para 40%, e vai continuar a cair, resultando na formação de pequenos outros partidos de negros. O NP, hoje transformado em DA (Aliança Democrática), o partido dos brancos, que preserva os seus valores racistas, continua constante, com todos os brancos leais a ele, sem questionamento, apenas olhando para a cor e raça, pois sabem que não é uma questão de ideologias, mas sim, de raça. Ainda conseguem um ligeiro crescimento, vindo daqueles negros mais radicais que não se vêm na cor preta.

ANC escolheu o DA para fazer aliança, e fica assim amarrada de tal forma que, não vai passar nenhuma política sem este concordar. É uma desgraça. As coisas vão parecer melhorar, se o DA conseguir consolidar sua posição, mas estruturalmente o povo negro voltará ao segundo plano. Vão deixar a Eskom funcionar, vão injectar dinheiro na economia, vão criar empregos, vão melhorar aspectos públicos como a polícia, bombeiros, hospitais, limpeza urbana, etc., e o povo negro vai “perceber” a diferença de ter o branco no poder. Aí, a domesticação do povo negro será inevitável, e a sua riqueza continuará a enriquecer a europa.

Arisco a afirmar que os dados eleitorais foram manipulados matematicamente para chegar-se a esta estrutura governamental. Os brancos apostaram na incapacidade do negro trabalhar junto, e acertaram…

Voluntariamente o negro vai trazer de volta o sistema do apartheid, embora com outra roupagem. O branco tem muita paciência, e tem predisposição de planear a longo prazo. A democracia multipartidária é uma ferramenta perfeita para manter o povo negro dividido e desligado dos assuntos estruturais da nação e da terra, transformando a sua luta na disputa entre grupos de interesse.

Já não há condições de mudar a vida dos negros na África do Sul com base na democracia, ela já está capturada. A 3ª revolução é inevitável na África do Sul, se for para introduzir mudanças, pois o neocolonialismo ganhou mais força com a entrada do DA no governo.  

Os partidos que estão com o povo e pelo povo negro, estão fora do governo de unidade nacional, excluídos por seus irmãos do ANC e do Partido Livre Inkatha (IFP), ambos manipulados e pagos pelo capital branco.

O que fizeram do KwaZulu-Natal é violento. O MK obteve 45% dos votos, e não está no governo. O “speaker” é do ANC, com 18%, e o mayor é do IFP, com 17%. Tudo como resultado de jogadas políticas, e distanciando-se completamente da vontade do povo.

O ANC tem dificuldades em perceber que o foco deve centrar-se no povo negro, e depois discutir mecanismos de inclusão de outros grupos raciais. Esta coisa de “arco iris” não existe. A moderação política, que satisfaz os brancos, mantém o povo negro no mesmo lugar onde estava em 1994. Não faz sentido esta confusão que assistimos na África do Sul, parece que as pessoas pensam que fazem parte da sociedade europeia.

Não é possível dominar um outro povo desta forma, sem que se ataque espiritualmente. O facto é que o dano causado às nossas cabeças e ao espírito, é tão grande que o africano até não acredita na sua própria propalada independência.

A manipulação espiritual e mental do africano condiciona a sua mentalidade e a sua cognição, e a manipulação do sistema, condiciona a realidade do africano, levando-o a tomar decisões contra si mesmo, levando por exemplo a um clima de competição entre africanos, tanto no continente como na diáspora, derivado do sentimento de inferioridade que buscam fugir, para se parecer melhor que o outro irmão aos olhos do branco.

Reclamamos muito sobre o padrão de alguns líderes africanos, que parecem todos terem vindo da mesma escola. A recorrência em pensar sempre contra o seu povo favorecer outros povos, roubar da sua terra para mandar dinheiro para europa, viver como se esperasse sempre ordens da europa para tomar decisões importantes, enfim.

Veja o caso do Conteúdo Local em Moçambique, onde o próprio estado estabelece e permite critérios de contratação excludentes das empresas locais, e distribui contratos para chineses e europeus, que exportam e investem o dinheiro destes contratos nos seus países. E a contribuição fiscal destas empresas é mínima.

A acção destes líderes africanos está quase sempre virada para o empobrecimento do seu povo, o que se pode notar que não pode ser uma acção natural, consciente e voluntária. O nível de manipulação mental é tão alto que o líder africano se encontra encurralado e comprometido com a causa ocidental, que mais parecem gestores ocidentais, que propriamente líderes africanos.

Por outro lado, temos o próprio povo africano, que foge da riqueza por não se sentir merecedor, desinteressa-se pelo ouro, pela prata, pelo diamante, pelo rubi, até pela terra, e só se envolve com esta riqueza quando é para contrabandear para entregar outros povos e ganhar alguma comissão. Comportamentos de ódio de si mesmo e do seu próximo, a autodestruição e a dos seus irmãos, não se deixa prosperar, e destrói a prosperidade do irmão.

A conspiração e a manipulação espiritual e mental, introduziu um medo nos africanos, de uma represália que não sabem virá de onde. É um medo vão e paralisante, mas muito profundo no seu espírito, que ele próprio não sabe explicar.

Este posicionamento está relacionado com os medos mais profundos do homem africano, que assombram o seu espírito, e interferem em todo o seu processo de aprendizagem, de estabelecimento e execução de políticas, e no processo de construção de riqueza.

É sim possível induzir a mente humana e direcioná-la a pensar da maneira que queremos, através de um conceito simples, mas alinhado com a lei natural da criação, que se manifesta em frequências da vibração, que pode ser induzido através de rituais ou fontes electro magnéticas. O cerne do problema africano é espiritual, e é daqui que devemos ataca-lo.

O homem africano precisa entender os seus medos, comuns à toda sociedade, que resultam de factores emocionais que tem causa espiritual, que muitas vezes desconhece. É responsabilidade de cada um de nós, africanos, empreender esforços para buscar elementos para entender estes medos e as suas causas, compreender como o branco se aproveita e exacerba os nossos medos, para contribuir no processo da desconstrução de paradigmas existentes e estabelecimento de novos.

Não devemos amarrar-nos aos sistemas ocidentais, de facto, eles são muito complexos para a nossa realidade, a banca, a fiscalidade, a bolsa de valores, normalização, economia verde, economia azul, crédito de carbono, etc., que não teremos como vencer operando dentro deles. Esta dimensão introduz outros medos na nossa gente, de estragar com tudo o que o branco construiu, e parecermos idiotas aos olhos do mundo, que é onde o ANC se encontra hoje, dai optar por se juntar aos brancos. É aí que precisamos transcender, e se necessário, romper com tudo e começar do zero, se disso depender a nossa liberdade. Na África do Sul, só o Jacob Zuma tem consciência plena desta realidade…

África do Sul é um espelho do que está a acontecer em toda África. Temos casos de nossos presidentes como o William Ruto, Nana Addo, Bola Tinubo, que estão com o colono, assim como Ramaphosa, onde o seu povo vem em segundo plano. O mundo está a dividir-se, o que seria um momento ideal para defendermos nossos interesses, juntos, e não tomar lado, o que levará a guerra dos outros para o nosso quintal, e reeditarmos os casos da península da correia e a Alemanha.

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