- Renamo e Frelimo colidem na antevisão dos impactos da candidatura de VM
- Mas Frelimo quer VM na corrida para “dispersar votos da oposição”
A Renamo sente-se ameaçada com a candidatura de Venâncio Mondlane, que pode colocar em causa a configuração política nacional. Foi movido com aquele sentimento que tentou, de forma disparatada, impugnar o símbolo da Coligação Aliança Democrática (CAD), formação que serve de umbrella do projecto político do candidato a Presidente da República, Venâncio Mondlane, recorrendo ao argumento de que os eleitores podem confundir a “ave” do símbolo da coligação com o da Renamo. Mas aquela não foi a última tentativa, a Renamo teria manifestado à Frelimo a disponibilidade para trabalhar em conjunto com vista a “baralhar”, expressão usada pelo mensageiro do partido, a candidatura de Mondlane. Mas a Frelimo tem uma interpretação diferente e considera a candidatura daquele que é tido como maior fenómeno político da actualidade como “um problema da oposição”, confiante na máquina eleitoral que está mais ao serviço do cinquentenário ou na mobilização de seu candidato. Na verdade, a Frelimo tem sua própria estratégia. Quer usar a popularidade de Venâncio Mondlane para castrar a oposição e reduzir ainda mais a sua representatividade parlamentar. O último recurso da operação para “baralhar” VM é a Comissão Nacional de Eleições (CNE), que semana passada solicitou à CAD uma série de requisitos, dentre os quais provas de averbamento da coligação.
Venâncio Mondlane submeteu a sua candidatura ao CC para disputa da Presidência da República a 06 de Junho corrente e para garantir uma bancada da Assembleia da República, decidiu avançar com suporte da CAD.
Ossufo Momade, que conseguiu controlar as internas da Renamo e impedir a candidatura de Venâncio Mondlane, não gostou de ver o seu ex-assessor, com personalidade carismática, a concorrer e, como tal, tratou de mobilizar aliados para a corrida.
Inconformado com a candidatura, Ossufo Momade requereu, no dia 14 de Junho, ou seja, uma semana depois, junto do Conselho Constitucional, conforme atesta este acórdão dos juízes conselheiros, a impugnação do símbolo da candidatura de Venâncio Mondlane, com o argumento de que:
“O símbolo do candidato Venâncio Mondlane é uma ave, nomeadamente um pombo, que, feitas as devidas análises, pode conduzir a uma confusão irreparável no eleitorado, no momento da votação, pois o símbolo do ora requerente é também uma ave, concretamente uma perdiz (..)”, refere o acórdão do “Constitucional”. O documento indica ainda que: “E não só: é que o símbolo da CAD e do candidato Venâncio Mondlane são mais recentes, daí se deduzir que foram adoptados com o fito de roubar os votos da Renamo e do seu candidato (…), porque como se sabe, ao dizer “votem na ave”, ainda que se diga a espécie, pode ser difícil dizer ou identificar sobre qual ave se refere no momento do voto”.
O que sugere logo de primeira tratar-se de uma impugnação com fundamentos “pobres” e movido de ânimos é o facto daquela coligação ter concorrido, em 2023, com o símbolo da mesma ave. Ademais, para além da pomba da CAD, existem vários partidos políticos representados por Aves, como é o caso do MDM.
O expediente de Ossufo Momade, feito de forma atabalhoada e com bastantes inconsistências, segundo apurou o EvidCncias, estava ancorado na crença de que ambos tinham um inimigo comum, e por via disso podiam juntar esforços e trabalharem num plano que embargasse a candidatura do candidato da CAD. Mas não deu certo.
Frelimo não comprou proposta da Renamo
Pelo que o Evidências apurou, os dois partidos reconhecem o capital mobilizador e a ameaça que representa o candidato da CAD, mas divergem na antevisão dos efeitos da candidatura. Para o maior partido da oposição, o avanço de Venâncio Mondlane ameaça a sua hegemonia do tradicional segundo lugar.
Por outro lado, a Frelimo não o vê como uma ameaça suficiente para colocar em causa a sua vitória e a do seu candidato. Antes pelo contrário, vê no Venâncio Mondlane um activo relevante para desperdiçar votos da oposição e reduzir o peso da Renamo na Assembleia da República.
Mas, as movimentações de Venâncio Mondlane, com banhos de multidão em cidades, vilas e até localidade, estão a fazer uma parte dos membros acreditarem que pode ser um erro de cálculo que pode custar caro ao cinquentenário.
CNE pode ser último recurso do plano proposto pela Renamo
O excesso do zelo da CNE na verificação do processo da CAD, facto denunciado pelo mandatário desta formação política, sugere que o plano de baralhar aquela candidatura continua em marcha. A CNE tem na sua configuração elementos da oposição em condições de dar seguimento ao plano de Momade, bastando apenas o apoio de três ou quatro vogais da Frelimo
É curioso que já são no total 22 dias depois do encerramento da fase de entrega das candidaturas a deputado da Assembleia da República, a CAD ainda não viu as suas listas publicadas no lugar de estilo pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Na semana passada, a CAD foi notificada pela Comissão Nacional de Eleições para sanar algumas irregularidades na candidatura de Venâncio Mondlane. Para Elvino Dias, advogado da CAD, a instituição liderada por Dom Carlos Matsinhe está a tentar, a todo custo, sabotar a candidatura de Mondlane.
O advogado que se notabilizou por defender Venâncio Mondlane no diferendo com a Renamo e Ossufo Momade jura de pés juntos que a Coligação Para a Aliança Democrática (CAD) cumpriu todos os procedimentos, daí que considera que a exigência da CNE é infundada.
“Eles ligaram-nos a notificar que tínhamos irregularidades por suprir no processo das candidaturas, o que não constitui verdade. Nós temos expedientes submetidos à CNE, com carimbo de protocolo e tudo”, declarou.
Ainda no rol dos argumentos para provar que aquela instituição da Administração Eleitoral está a tentar sabotar a candidatura de Venâncio Mondlane, apoia-se no princípio de aquisição progressiva dos actos eleitorais, referindo que a Comissão Nacional de Eleições não tem competências para impugnar a mesma, uma vez que já foi aprovada pelo Conselho Constitucional.
“Não faz sentido que uma comissão Nacional de Eleições, composta por vogais com mais de vinte anos de experiência, venha nesta altura do processo eleitoral notificar-nos sobre a questão relacionada com a Inscrição dos partidos políticos, quando eles têm consciência de que esta fase terminou no dia sete de maio. A própria CNE publicou na sua página quais são os partidos que estão regularmente inscritos e no rol desses partidos, a CAD está lá”, declarou.

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