Camaradas exigiam que Chapo fosse dado poderes plenos como secretário-geral

DESTAQUE POLÍTICA
  • Nyusi negou eleições e socorreu-se de um arranjo
  • “Então, vamos tirar interino… também fui a campanha sem poder”, impôs Nyusi

A II Sessão Ordinária do Comité Central da Frelimo, realizada, recentemente, em Maputo, tinha como único ponto da agenda a aprovação do manifesto eleitoral para as eleições de Outubro próximo. No entanto, alguns membros do Comité Central sugeriram ao presidente do partido que incluísse na agenda o ponto sobre a eleição do Secretário-geral do partido, ou melhor, legitimar Daniel Chapo no cargo para melhor preparação do processo eleitoral, porém Filipe Nyusi não concordou, alegando que mesmo ele foi a campanha eleitoral sem nenhum cargo de relevo quando foi escolhido para ser o candidato presidencial da formação política no poder desde a proclamação da independência nacional.

Duarte Sitoe

De acordo com os estatutos da Frelimo, a vigência do cargo de Secretário-Geral interino é no intervalo de 45 e 180 dias. É visando sanar qualquer chance de incorrer a irregularidades que alguns camaradas pretendiam que o partido elegesse, na sessão da passada sexta-feira, um secretário-geral para melhor preparar o pleito eleitoral que já está à porta.

Na verdade, a ideia era reconduzir de forma efectiva Daniel Chapo ao cargo de secretário-geral, de facto, e não de forma interina, tendo em conta as necessidades do partido, em pleno ano eleitoral. No entanto, Nyusi voltou a adoptar uma postura ditadora e abriu outras feridas que o podem perseguir depois do mandato.

“Gostaria de pegar essa última parte da intervenção do camarada presidente em relação ao camarada Daniel Chapo como secretário-geral interino porque está reunido o Comité Central, órgão competente, gostaria de sugerir para que de facto este órgão nomeasse secretário-geral, tenho consciência que se trata do ponto único porque trata-se de sessão extraordinária, mas seria um ponto só de oficialização”, disse um membro do Comité Central.

A seguir foi secundado por um outro membro do CC, que referiu que não faz sentido o partido ir à campanha eleitoral sem um secretário-geral efectivo.

“Não se faz bem para nós ir a campanha com um secretário interino, estando reunido o Comité Central, não é questão do prazo, não impede. O prazo de 180 dias, se formos a fazer contas, acaba no dia 12 de Novembro, mas isso não impede que antes de acabar esse prazo possa se fazer uma votação, sobretudo quando está reunido um Comitê Central”, rematou.

Na resposta, na qualidade do presidente daquela formação política, Filipe Nyusi assobiou para o lado, referindo que mesmo ele não tinha nenhum cargo de relevo quando foi escolhido como candidato presidencial do partido.

“O ponto não constitui entrave porque mesmo eu fui candidato e não era secretário-geral interino, fui a campanha com a população, como militante penso que esta questão podemos superar, mas também não esqueçam que temos possibilidade de uma e outra vez deixar de ser presidente”, declarou Nyusi, antes de sugerir o arranjo de se retirar o interino sempre que se for a dirigir a Daniel Chapo.

Por sua vez, Mety Gondola alinhou com o discurso do presidente do partido, referindo que não estão a ser violados os estatutos da Frelimo.

“Não estaríamos em situação de violação alguma. O número quatro do artigo 87 dá clareza sobre a indicação de que o intervalo vai de entre 45 a 180 dias, o que significa que não precisamos de estar preocupados sob o ponto de vista do enquadramento dos nossos estatutos. Filipe tirou a palavra interino”, disse Gondola.

Refira-se que na sessão em alusão a Frelimo aprovou por unanimidade o seu manifesto alicerçado em cinco prioridades.

“O manifesto traz cinco prioridades e são essas prioridades que norteiam o documento, questões como defender a soberania e integridade territorial; consolidar a unidade nacional; investir no capital humano para o crescimento das instituições, na saúde, educação, igualdade de género, juventude, desporto e cultura, bem como transformar a estrutura da economia e melhorar a qualidade de vida do povo moçambicano. Questões como economia azul, banco de desenvolvimento focado na juventude, trabalho, emprego e autoemprego, micro, médias e microempresas, gestão sustentável dos recursos naturais, desenvolver infra-estruturas resilientes, mudanças climáticas e por fim consolidar relações com a região, continente e o resto do mundo, são outros aspectos constantes do manifesto”, referiu Ludmila Maguni.

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