Foram enterrar, no último sábado, no cemitério da Vila de Marracuene, os restos mortais do artista e compositor moçambicano, por muitos considerado Rei da Marrabenta, Dilon Djindji, que perdeu a vida na madrugada de quarta-feira, 18 de Setembro, no Hospital Central de Maputo (HCM), vítima de doença. A última homenagem ao ícone da Marrabenta decorreu no jardim da Vila de Marracune, numa cerimónia carregada de muita emoção.
Estiveram presente na cerimónia de despedida figuras do governo central, provincial, distrital, figuras políticas, classe artística, amigos e familiares, que presenciaram vários momentos, dentre culturais e religiosos, mensagens de pesar e, claro, exaltação do seu contributo na cultura moçambicana, sobretudo na música.
A ministra da Cultura e Turismo, Eldevina Materula, enalteceu a arte de Dilon Djindji, que foi preponderante na valorização da mulher moçambicana e influenciou as transformações sociais, para além de levar a bandeira nacional além-fronteiras.
“Constitui motivo de orgulho e satisfação o facto de na sua narrativa artística Dilon Djindji ter privilegiado a mulher moçambicana com personagens determinantes que inspirou suas obras para influenciar as transformações sociais que ele próprio sonhou para o nosso país, enaltecendo a resistência dela no processo de libertação, o seu engajamento nas múltiplas dimensões do desenvolvimento do país, bem como na preservação da identidade moçambicana”, referiu.
Por sua vez, Shafee Sidat, presidente do Município de Marracuene, disse na sua intervenção que com a partida de Dilon Djindji “não só chora Marracuene, chora também a cultura moçambicana, chora sua família, mas suas obras jamais serão apagadas pois ficaram na história deste país, logo nunca ira embora” disse.
Ademais, Sidat destacou a necessidade de criar mecanismos com vista a preservar as obras do ícone da marrabenta.
“Nós vamos sentar com a própria família para ver como preservamos as obras que ele deixou. Ele já estava a fazer na sala de casa dele um mural. Também vamos ver em termos de espaços culturais como vamos homenageá-los. Nós temos a sorte de Marracuene ter artistas como Dilon e outros que dão a representatividade da música moçambicana”, destacou.
Artistas lamentam sua partida
Artistas de diversas gerações expressaram sua tristeza e gratidão pelo legado do músico, destacando como sua música transcendeu fronteiras e tocou corações. Compartilharam mensagens emocionantes, relembrando momentos marcantes ao lado de Dilon e reconhecendo sua contribuição inestimável para a identidade musical do país.
Stewart Sukuma descreveu Dilon com uma figura resiliente, pois dedicou seu tempo enquanto em vida para a marrabenta: “o Dilon para mim foi um exemplo de resiliência. Ele resistiu, teve o tempo para dar corpo a música, para dar corpo a marrabenta e para nos deixar um legado riquíssimo. Agora é nossa responsabilidade dar continuidade”, disse.
Para Amável Pinto também músico, disse que é uma perda i irreparável e ao mesmo tempo serve de reflexão para o futuro da música moçambicana, aliás “faltam políticas de promoção dos artistas e não de despedidas” como se tem visto em vários infortúnios.
Para alguns foi mais doloroso porque o tinham também como seu mentor.
“É um sentimento de por para a classe artística e para o povo moçambicano no seu todo, Dilon foi uma pessoa que deu tudo dentro e fora dos palcos. Foi um dos meus principais mestres porque também sou fazedor da marrabenta e espero que seja imortalizada sua obra. Ele sempre escutava minhas músicas e me dava dicas”, disse Tabasily.
“King ya Marrabenta” com direito a uma menção numa das mais célebres ou “Rei da Marrabenta” assim como era singela e carinhosamente era tratado, deixa um vazio nas artes nacionais sobretudo para música Marrabenta, ritmo que era uma parte de si, aliás, tudo quanto dedicou aquando da sua existência a terra dos vivos,
Com uma carreira que se estendeu por décadas, Djindi foi fundamental na popularização da marrabenta, um estilo musical que combina influências tradicionais com elementos contemporâneos. Suas canções, que abordavam temas como amor, resistência e cultura moçambicana, ressoaram profundamente com o povo.
Foi através dos êxitos musicais como “Maria Teresa”, “Angelina”, “Maria Rosa”, “Sofala”, “Marracuene”, “Xitlanwana”, “Podina” entre outras que conquistou milhares de moçambicanos e consequentemente deixar uma marca indelével nas artes moçambicanas.
Dilon Djindji, é um exemplo claro de que o factor língua não é preponderante para o sucesso além-fronteiras. Com apenas uma guitarra e seu ronga (língua predominante na zona sul do país), conseguiu furar fronteiras com a sua Marrabenta. Com sua arte, Djindji conheceu países como, Estados Unidos da América (EUA), Portugal, Inglaterra, Noruega, Alemanha, Emirados Árabes Unidos e diversos.
Nascido a 14 de Agosto de 1927, em Marracuene, na província de Maputo. Djindji e morreu aos 97 anos.
Desde cedo ganhou gosto pela música, tendo aos 12 anos, construindo a sua própria guitarra, com apenas três cordas, a partir de uma lata de óleo. Três anos depois, teve a sua primeira guitarra e com ela começou a tocar em casamentos e em festas particulares.
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