O Governo de Daniel Chapo foi indicado 48 horas depois da sua tomada de posse. Esta morosidade não disfarça a ingerência do partido que foi apanhado de surpresa no discurso de investidura que anuncia ruptura, ao apontar males que para além de ser promovidos pelos membros da Frelimo, alguns nascem no consulado do qual é sucessor. Chapo impõe um “chega” em vários males e, compromete-se, por exemplo, a “combater os cartéis que lucram” com a revisão desnecessária do livro escolar e tantas “outras burocracias e actos corruptos que não fazem chegar o livro às nossas crianças a tempo e hora”. Ora, o atraso de livros escolares, só existiu no consulado de Nyusi, ou seja, é um male do Executivo que cessa que deverá ser combatido.
O mesmo partido que, não pessoa do seu presidente, tem uma grande influência na distribuição de pastas ministeriais. As lições disso são extensivas a outras interpretações internas dentro do partido, como a consequência de o anterior continuar a presidir o partido e por via disso influenciar no desempenho do seu sucessor, consolidando desta forma a especulação de que estamos diante de uma continuidade com mudança de actores apenas, como se não bastecem as nomeações, noutras esferas, que ocorreram até dois dias antes da tomada de posse de novo timoneiro da Ponta Vermelha. E se no próximo Comité Central (14 de Fevereiro) não haver mudanças na presidência do Partido, a materialização dos compromissos assumidos na investidura será uma incógnita. A mudança de presidência vai reduzir a resistência do partido às mudanças anunciadas pelo Governo, num contexto em que a própria sobrevivência do partido está dependente da sua capacidade reinvenção. Resistir às mudanças revelara-se fatal a cinquentenário.
Neste seguimento de formação do governo, os nomes para os ministérios críticos tiveram avaliação e remodelação da lista proposta pela Comissão Política, presidido pelo Presidente do partido, Nyusi. No fim, triunfaram os 13 nomes apresentados logo no fim da reunião, com a Bemvinda Levy e Cristóvão Chume, provenientes do consulado anterior, a assumirem pastas de Primeira-Ministra e Ministério de Defesa, respectivamente. Apesar de ingerência do Partido, não se deslumbra qualquer rosto maculado nos demais 12 nomes que ocupam ministérios críticos.
Bemvinda Levy é uma figura que vem desde Executivo de Armando Guebuza, e teve uma passagem discreta no consulado de Nyusi, onde ocupou a pasta do conselheiro jurídico do antigo PR, seus contactos com Chapo podem ter iniciado na UEM. Chume, indicado no cimo do conflito de Cabo Delgado, tem uma continuidade estratégica tendo em conta a sensibilidade dos dossiers naquela província. Além de que demostrou maior eficiência na gestão daquele conflito quando comparado com os seus antecessores. Nas manifestações que desgraçaram a economia e ceifou mais de 300 vidas, os militares mostraram-se preparados na sua interação com os manifestantes. E toda a repressão violenta do poder castrense, foi atribuída a UIR e não aos militares.
Os sinais de ingerência criam preocupação sobre a autonomia de Chapo, mas até aqui, estamos diante de níveis de interferência toleradas, com sinais de que as próximas sete nomeações, terão a mão plena do Presidente da República, cuja vontade de incluir sociedade civil e outras forças politicas já foi manifesta nos bastidores, afinal, é preciso dar coerência ao seu compromisso de ser inclusivo.

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