Chapo escorrega para um campo minado

EDITORIAL

O Presidente da República, Daniel Chapo, cujas acções sugerem estarmos diante de um Governo de gestão, já formou por completo o seu Executivo. Foi necessário quase um mês para formar toda a sua equipa, que inclui conselheiros que assumiram funções executivas nos seus pelouros. É neles onde encontramos nomes polémicos, como são os casos de Mateus Magala, responsável por acelerar destruição na LAM e, possivelmente, influenciador da solução de transferir o fardo desta para as poucas empresas publicas sólidas. João Machatine, conotado como pai ideológico das portagens que, mesmo sacrificado no auge do barulho deste assunto, no executivo de Filipe Nyusi, o problema mantém-se até hoje, é hasteado como alguém de reconhecido mérito na concepção e gestão de projectos de grande impacto social, carrega um fardo de escândalos mormente à gestão do dinheiro da Covid 19 e obras de má qualidade.

Mas o que cria várias correntes, incluindo aquelas conspiratórias, é a indicação de Beatriz Buchili, famosa por arrastar toda Administração da Justiça a servir de protecção do antigo Chefe do Estado, no processo relacionado com as dívidas ocultas, tratado como político. Na corrente guebuziana, é-lhe atribuída a traição à pátria, aquando da abertura de portas para que a Kroll, uma firma internacional de auditoria, penetrasse nas entranhas do SISE, uma marcha interpretada como a exposição das nossas fragilidades castrenses, num contexto de ameaças, como as vistas em Cabo Delgado.

Mas a politização da justiça não se limitou à aparente protecção de Nyusi, tanto a nível externo, quando se recusava a notifica-lo do processo de Londres sob o argumento de que não conseguia o localizar, como a nível nacional quando o Ministério Público, em conluio com o Tribunal, baniram qualquer chance de este ser chamado para corrigir as incongruências como aquelas em que afirma que não tinha conhecimento das mesmas, quando afinal assinou documentos determinantes para a viabilização do processo.

Antes disso, Armando Guebuza já afirmava de bom tom que não acreditava mais na justiça conduzida pela Beatriz Buchili. Traça um retrato de uma justiça a serviço de Nyusi para o fragilizar, através de perseguição de seu filho Ndambi Guebuza, da sua secretária e do seu conselheiro. A palavra perseguição não está em aspas porque o Evidências tem na sua posse documentação sólida de outra batalha, liderada por Florindo Nyusi, para retirar a mina de Mussumbuluko Guebuza.

A parcialidade da PGR, no tempo da Buchili, consolidou a ideia de que esta recebia de Nyusi comandos directos para perseguir pessoas que não alinhavam com ele. Ora, o dossier das dívidas ocultas não esteve isolado no critério de indicação do sucessor de Nyusi, aliás, pode ter pesado para que este fosse até às últimas consequências nos banimentos dos candidatos indesejáveis.

Estes factos são conjugados com o pedido expresso do próprio Presidente Chapo a Guebuza, de que este devia fazer campanha. E Guebuza fez. Mas Chapo não fez o seu pedido apenas para este. A ideia de que a Frelimo estava diante de um candidato de consenso, ao chegar à corrida pelas mãos de Nyusi, e forçado a não renunciar e manter-se na corrida pelos opositores da Frelimo – estava a 50%, foi de toda uma vantagem para Chapo que bem usou a seu favor. Mas a indicação de Buchili, o instrumento de luta de Nyusi contra um Guebuza que nunca desfarcou a decepção, para um cargo de extrema influencia, expõe novas tendências e a inclinação do terreno.

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