A quem interessava uma base de narcotráfico em Moçambique?

EDITORIAL

O tempo está se encarregar de explicar o porquê de o nosso país não mostrar a mínima vontade de combater o narcotráfico e nunca se posicionar como protagonista de grandes apreensões de drogas, detenção e desactivação de redes de crime organizado e muito menos revelar o destino das pequenas apreensões que, afinal, são para simular o comprometimento no combate contra o narcotráfico. Há de se lembrar, o nosso leitor, que as apreensões de grandes quantidades de drogas que passam pelo nosso país são sempre feitas noutros países. Os poucos casos de apreensão feitas aqui desaparecem em arquivos nos tribunais, como é o caso do processo 126/JCCOT/23 da apreensão, no Aeroporto Internacional de Maputo, de perto de 1,5 tonelada de cocaína proveniente de Guarulhos, no Brasil.

Depois de detenção de Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido por Fuminho, no dia 13 de Abril de 2020, a configuração das lideranças do narcotráfico transnacional mudou por completo. Mais nomes relacionados a ele foram presos. É o caso de croata Kristijan Palic, líder de clã balcã – a região dos Balcãs constava como destino de Fuminho, caso conseguisse escapar de Moçambique – procurado no seu país e no Brasil, preso na Turquia em 2023. Mais membros foram detidos em diferentes países nesse intervalo, mas interessa-nos aqui partilhar o último, por ser a partir dele que temos uma outra lucidez da inserção desta máfia em Moçambique: O milionário Willian Agati – que fora supostamente imposto pela Embaixada de Moçambique na Brasília capital do Brasil para ser funcionário do consulado do nosso país no Belo Horizonte – depois de ser dado como fugitivo em Dezembro de 2024, entregou-se à polícia no mês passado (Janeiro).  Ele é apontado como um dos líderes de quadrilha que actuava, para além de América Latina, na Europa e África. Engana-se quem pensa que este é um assunto dos gringos. Não é.

O Primeiro Comando da Capital (PCC), que integra também a máfia italiana, tinha no Consulado de Moçambique em Minas Gerais o seu quartel general e pelo menos quatro membros da facção tinham um vínculo contratual com o consulado. O dinheiro que recebiam como funcionários devolviam ao consulado. Interessava-lhes apenas a inviabilidade do consulado e os títulos.

É em nome do nosso país que viabilizavam as suas operações criminosas, ao mesmo tempo que tencionavam abrir a sua base em Moçambique para garantir a passagem segura da droga. Um detalhe curioso: as nossas autoridades não eram problemas para as operações do grupo, pelo contrário, é deles que tinham o conforto para se sentirem em casa. Serve de exemplo esta constatação o facto de o PCC ter trabalhado no sentido de manter Fuminho em Moçambique, ou seja, a nossa justiça parecia mais favorável que a justiça do país deles.

Portanto, fica aqui sólida a ideia de que há governantes nossos metidos até ao pescoço no narcotráfico. Alguns nomes são citados sem hesitação nas conversas de bar, salão e chapas, o que, de imediato, lança uma luz sobre a real situação em que estivemos nos últimos dez anos.

Não faz sentido que o assunto Fuminho tenha sido encerrado logo após a sua extradição, sem qualquer processo aberto, sem uma audição num fórum judicial e tudo tenha terminado em medidas administrativas que, em termos rigorosos, não se enquadrou como extradição. Logo, pode se concluir que a ideia de o expulsar veio do receio de este falar o que não devia. Todos esses contornos deviam suscitar curiosidade à nossa cega Procuradoria-Geral da República.

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