Felisberto S. Botão
No artigo passado discutimos aqui o tema “medo da verdade”, que pretendo usar como transição para um outro aspecto muito importante na nossa sociedade, que é o assalto espiritual nas instituições da nossa nação, que estão a definir o rumo desta nação. E tratando-se maioritariamente de espíritos das trevas, explica-se o caos que este país se tornou.
Uma oportunidade de carreira no estado tornou-se a coisa mais apetecível na sociedade moçambicana, tendo na Assembleia da República a cereja no topo do bolo. As lutas e disputas para entrar no Estado estão no seu mais alto nível, e estando lá, as pessoas fazem o impensável para não saírem. Em boa parte das diligências escolhidas estão os arranjos espirituais, através do feitiço e drogas. Isso inclui os que estão em posição de liderança, onde a relevância é maior, pois implica o exercício, proteção e manutenção do poder.
A feitiçaria é um assunto sério, e está a tornar-se uma praga na nossa sociedade. Há mais homens de facto e gravata e mulheres de salto alto a praticar a feitiçaria, do que se pode imaginar, e abundam nos escritórios e sectores públicos, que estão a inviabilizar a construção da nação moçambicana. Quando você é ignorante ou negligente em relação à matéria da feitiçaria, ou ainda lhe induzem a ter vergonha de abordar o assunto, corre o risco de se tornar um “lixo espiritual”, onde os feiticeiros depositam espíritos maus para parqueá-los por anos, até que você um dia descubra e devolva a proveniência, se não morrer antes disso.
As mortes de empreendedores, a falência de negócios e decadência das instituições do Estado provocadas pelo feitiço está a crescer exponencialmente, e a nossa “civilização” impede que o problema seja tratado, pois as estruturas social e legal herdadas do colono não reconhecem este problema. A AMETRAMO não está a fazer o seu papel, o Conselho Cristão também não, e o estado não tem nenhuma instituição que vela pela integridade espiritual da sociedade, mesmo sendo este o principal factor determinante da vida do país.
Regra geral, o feitiço envolve espíritos, e nem sempre os que o procuram sabem exactamente com o que estão a lidar, apenas estão focados nos resultados. Isso faz com que as pessoas carreguem consigo muitos espíritos, que foram buscar ou trazidos para as suas vidas pelos espíritos que foram buscar. Os espíritos passam a mandar nas suas vidas, ou são manipulados por curandeiros, e, neste caso, estes agem com a cabeça dos curandeiros, que infelizmente, regra geral, não tem o alcance dos contornos de negócios e de governação. Resultado, as acções são conduzidas de forma ad-hoc, não há estratégia nenhuma…
As pessoas já não estão a pensar por si, perderam completamente a sua humanidade. Isso explica em parte o desdém dos funcionários nas repartições públicas, e o desligamento dos dirigentes com o povo, e a insensibilidade dos mesmos com os problemas deste povo. O povo passou a ser um empecilho que desvia os líderes do seu foco, que é fazer acordos vantajosos para si e acumular riqueza, porque é sua vez.
Os espíritos pedem sangue, e os homens obedecem cegamente. Há entidades transcontinentais que estão tomando conta da nossa nação, são satânicos, e usam os homens de espírito e personalidade fracos. O genocídio de cerca de 1 milhão de vidas em Ruanda era de sangue que se precisava, milhares de mortes no Sudão, centenas de milhares na Ucrânia, são necessidades do sistema satânico que controla o mundo. Engana-se quem pensa que os 400 e poucas mortes em Moçambique, na sequência das manifestações pós-eleitoral, impressionam ao mundo. Esqueçam isso, não será surpresa se isso vier a piorar…
Ninguém mais entende a lógica básica da humanidade. Para onde estamos a caminhar? Esta condição afecta a estrutura cognitiva e emocional, a ponto de formular os problemas de forma desestruturada e lutar lutas que não deviam ser, em que o vencedor nunca é você, e nem o seu semelhante. Instituições que deviam ser o garante da coesão do estado e garante da soberania, agem como cartéis de gangsterismo por ter no seu comando pessoas completamente destituídas de sua essência humana – os espíritos estão no comando.
Não pode ser normal mandar matar pessoas porque estão a manifestar-se, e isso ser declarado ao mais alto nível de um governo e estado, como se se tratasse da coisa mais natural do mundo. Nem que fosse só uma pessoa, por conta de algum tipo de distúrbio da ordem pública, não é aceitável para seres humanos.
O facto é que estamos a operar num sistema dito democrático que ninguém entende absolutamente nada do mesmo, a começar da liderança da República.
O ocidente ama ajuda humanitária, faz parte da sua estratégia imperialista, de roubar e devolver 1% para o dono em forma de solidariedade, e Moçambique está a abrir espaço para uma crise humanitária, que poderá ser exacerbada por interferência externa, na medida que estamos a perder controlo da situação.
“A libertação das mentes do povo africano será a batalha mais dura do que a erradicação dos regimes coloniais” – Patrice Lumumba, primeiro ministro legalmente eleito da República Democrática do Congo, foi assassinado pelo governo americano, em conjunto com o governo da bélgica, a 17 de janeiro de 1961.
Como implicação directa deste aprisionamento mental, não falamos das nossas diferenças culturais e tribais, não falamos da nossa tradição, não falamos do feitiço, não falamos das drogas de mulheres para fechar homens, não falamos de “kukhenga” dos pais, que usam os filhos para manter riqueza ou um certo tipo de poder. Nós preferimos fazer de contas que somos um povo único, com uma cultura, a europeia, com uma língua, a europeia; e tudo o resto, que vem da diversidade da nossa origem africana, representa um desvio que nós não reconhecemos. Entendemo-nos na superfície, mas lá no fundo, estamos em guerra permanente, por conta da identidade reprimida.
Na democracia não é o voto que vence, mas o controle do sistema e as narrativas. Porquê acha que o Donald Trump “surtou” em 2021, e mandou invadir o Capitólio, sede do Congresso americano em Washington? Ele percebeu que estava a acontecer um golpe de estado democrático. É isso o que acontece na democracia ocidental, quem vence não é o voto popular, mas, sim, o controlo do sistema. O Trump já aprendeu isso.
Os golpes de estado democráticos acontecem a cada ciclo eleitoral, não só em África, mas em todo mundo, incluindo a chamada maior democracia, o EUA, como citei acima. Por que acha que a União Europeia não está a posicionar-se com firmeza no caso actual de Moçambique? Naturalmente que está a pesar as variáveis que cada parte introduz na equação? Não é, e nunca foi uma questão de votos.
A ordem mundial actual não privilegia a verdade, mas, sim, a conveniência. Mas o domínio da análise das variáveis, incluindo a “opinião das massas”, é fundamental para a tomada de decisões assertivas.
Na democracia, o medidor de desempenho é a satisfação do povo. Se o povo não está satisfeito, não há argumento que justifique desempenho.
Na monarquia, o povo tinha posses e usava a riqueza das suas terras, mas devia dar ao rei parte da sua produção. Na democracia, quando a sua terra é valiosa, o estado arranca de si em nome do desenvolvimento e redistribuição de renda, mas na verdade, arranca de si e entrega ao capitalista, branco, porque não acredita que você pode tornar-se um, e ganha apenas ajuda para reassentamento em condições desumanas e de pobreza. A democracia é o topo do esquema de roubo aos povos, encoberto de alto nível de propaganda.
É verdade que há casos de exagero, quando a democracia se torna uma ditadura, em casos de líderes sem carisma e sem argumentos para comunicar com o seu povo, isso preocupa os promotores ocidentais, pois há risco de expor todo um esquema global.
Já dizíamos no artigo passado, Venâncio deve entender que a Frelimo está muito comprometida, e largar o poder não é uma opção, sob o risco de choverem escândalos económicos e financeiros envolvendo pessoas e instituições impensáveis a nível nacional e internacional. Ela sabe que não ganhou, e sabia que não iria ganhar, e nunca esteve preocupada com isso, tendo o sistema sob seu controlo. A Frelimo deve entender que o Venâncio Mondlane apresenta uma tese válida ao povo, aproveitando-se de uma lacuna grande deixada pela própria Frelimo, e já foi muito longe com esta luta, e desistir ou recuar não é uma opção, sob o risco de ser linchado pelo povo. É isso com que a Frelimo tenta jogar, ao alimentar narrativas de fuga, de manipulação de massas para interesse próprio, etc.
As perseguições de pessoas, intimidação e assassinatos já não são uma opção, precisamos parar com isso. Estamos a abrir espaço para pessoas externas entrarem, e ficarmos a dever favores que pagaremos durante anos com sangue e a nossa riqueza. É sempre melhor dividir com um irmão do que forasteiros.
Na altura, eu afirmei: “Se o Daniel Chapo não for capaz de chamar o Venâncio Mondlane para negociar, numa conversa genuína, não terá outra opção se não governar o país através de uma ditadura, porque pacificamente, sem legitimidade, o povo não vai deixar nunca mais; este privilégio acabou na era de Filipe Jacinto Nyusi”. E parece que estamos a começar a assistir a este cenário, e os promotores ocidentais já começam a mostrar preocupação pelos exageros do caso moçambicano.
A alienação mental e espiritual está por detrás deste comportamento africano. Muitos líderes sabem e tem consciência deste mal, mas não sabem como trazer isso à consciência colectiva do seu povo. O maior medo dos líderes africanos está nas consequências políticas de uma acção de conscientização das massas, vinda das próprias massas com a sua mentalidade alienada, e do ocidente com medo de perderem o domínio e controlo sobre o nosso povo.
Precisamos de líderes que o activo político não é a sua maior aspiração, mas, sim, a autodeterminação do seu povo e da sua terra.
O que faz um líder não querer deixar legado para o seu povo, seus próprios irmãos, como está a fazer o Ibrahim Traoré? Será só medo, ou é captura espiritual? Quem vai ajudar a resolver este problema espiritual, se tanto a ametramo como o conselho cristão também querem tirar proveito?
A consciência africana está a crescer, e cada vez mais os jovens começam a perceber que a razão do seu sofrimento não é a pobreza do seu país, mas, sim, a servidão dos seus líderes ao sistema colonial, por conta da desumanização por espíritos das trevas. E quanto mais cresce a consciência, mais os governos africanos se vêem confrontados a reprimir de forma directa o seu próprio povo, incluindo assassinatos daqueles que acham que tem liderança. Que direito é esse, e quem lhes concedeu?
Não podemos continuar a assistir a crianças e adolescentes a deambularem nas valas de drenagens para se lavarem, nas ruínas para dormir, e no lixo para comer, e no meio disso, se tocando uns aos outros na intimidade, para aprenderem das sensações e da sexualidade, enquanto nós, os líderes democráticos, passamos desdenhosos nos nossos carrões e comitivas cheias de sirenes, para ir discutir regalias parlamentares, discutir Unay Cambuma, discutir acomodação política, de amigos e compadres, até de inimigos que incomodam, discutir novas leis para proteger nosso poder conquistado.
Quem deu esse direito?
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