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É cada dia com a sua agonia. A história recente das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) poderia servir de enredo para uma tragicomédia corporativa devido às consequências reais que milhares de passageiros são obrigados a suportar. O que se observa é um caso de estudo em má gestão, onde incompetência, falta de transparência e irresponsabilidade se misturam, criando um cenário de caos aéreo digno de “génios da desgraça”.
Nas últimas duas semanas, contar com os serviços da LAM mostrou-se igual a abrir mão de qualquer planeamento pessoal ou familiar. O seu bilhete de viagem, confirmado com previsão de partida e chegada, não tinha qualquer relevância. A viagem dependia de ser o primeiro a fazer check-in, onde ficava exposta toda a desorganização da LAM, com a existência de passageiros acima da capacidade do avião. Num dos voos para Nampula, havia mais de 30 passageiros acima da capacidade do avião. A empresa parecia operar na lógica do “vende-se primeiro, resolve-se depois”, deixando passageiros como figurantes involuntários num jogo de azar aeronáutico. O resultado? Cenas surrealistas de passageiros surpreendidos na hora do embarque com voos superlotados, como se fossem participantes não voluntários num reality show de sobrelotação aérea.
Compromissos de trabalho, encontros familiares ou até mesmo negócios urgentes viram vítimas dessa desorganização crónica. Uma realidade frustrante, que transformou simples deslocamentos em verdadeiras provas de paciência. Estamos a conjugar no passado porque a empresa deu-nos garantias de que o cenário foi ultrapassado, mas sem deixar de admitir que os desafios continuam. Parte dessa desorganização é a disponibilização de um avião menor, quando na hora de venda do bilhete previa-se um avião maior.
A saga das reprogramações tornou-se um ritual de humilhação para os clientes da LAM. Passageiros transformam-se em fantasmas do aeroporto, dias a fio, esperando por uma vaga que nunca chega. A ausência de assistência adequada e a falta de comunicação transparente criam uma sensação de abandono institucionalizado, onde o cliente é tratado como um incómodo, não como a razão de existir da empresa.
Do resto, cada gestão vai expondo a sua genialidade na destruição de uma empresa que já foi orgulho nacional. Os números da frota contam uma história de declínio implacável: de 910 lugares em 2009 para míseros 275 lugares actualmente. A retirada desorganizada de aeronaves, os problemas de manutenção e os incumprimentos contratuais pintam o retrato de uma empresa em colapso técnico. A incapacidade do poder político em gerir a situação transformou a LAM num zombie corporativo – tecnicamente operacional, mas clinicamente morta como empresa viável. As falas recentes do ministro João Motlhombe lembram-nos a FMA, a qual sempre que o fumo dos problemas se mostrava descontrolável, vendia-nos uma bomba para nos distrair. O que os moçambicanos querem são soluções, não acusações dos culpados porque todos conhecemos. Infelizmente, sem concorrência ou fiscalização rigorosa, os usuários seguem reféns de um serviço que parece ignorar o significado de “cumprir prazos”.
Enfim: Enquanto os “génios de desgraça” continuam a lutar na defesa dos seus interesses, o povo moçambicano paga o preço – literal e figurativamente. A LAM, que deveria ser motivo de orgulho nacional, transformou-se num símbolo de má gestão e desrespeito pelo cidadão. Até quando? A resposta, assim como os voos da LAM, continua indefinidamente adiada.

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