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O académico e membro sénior da FRELIMO, Hélder Jauana, proferiu duras críticas ao seu próprio partido, desafiando-o a abrir-se “às vozes críticas” e a liderar uma transformação profunda em Moçambique. O pronunciamento foi feito durante as celebrações dos 63 anos da FRELIMO e dos 50 anos da independência nacional, realizadas nesta quinta-feira (12.06), em Maputo.
Jouana apontou a necessidade urgente de renovar a liderança política, combater o nepotismo, a tribalização da política e promover a independência económica, alertando que “mudar Moçambique é mudar o contexto de miséria e pobreza em que o país se encontra”.
“Este é o desafio de um líder. A quem eu busco que tenha a capacidade de ouvir, aprender e mudar o mundo. Mudar o mundo é mudar Moçambique no contexto que nós conhecemos. Um contexto de miséria, um contexto de pobreza, um contexto em que mesmo dentro do partido, este partido que celebra os sessenta e três anos, há luta de interesses, interesse de grupos e há assassinato de carácter entre os próprios membros, principalmente em períodos eleitorais”.
O sociólogo defendeu ainda a necessidade de uma reforma de mentalidade, que qualificou como “a mais estruturante de todas”. Segundo ele, Moçambique não poderá avançar com líderes e técnicos “presos à lógica da repetição, da conveniência e da imobilidade”.
“Vivemos com muito medo do pensamento crítico. O maior perigo de qualquer que seja o líder é a qualidade dos assessores que se tem. Os assessores é que capturam os presidentes, capturam as lideranças, constroem um discurso de que há o nosso e há os outros, aqueles outros que são perigosos”, afirmou Jouana.
Num apelo directo ao partido, Jouana sugeriu uma inversão na composição dos órgãos dirigentes, propondo uma lógica de 80% de renovação e 20% de continuidade: “Não se trata de descartar os veteranos, mas de equilibrar com novas ideias e práticas”, sublinhou.
Independência económica e desenvolvimento distrital
Jauana também defendeu a nacionalização dos recursos minerais como passo essencial para alcançar a independência económica. O académico tomou exemplo concreto os distritos ricos em recursos, como “Namanhumbir (Cabo Delgado), onde crianças vivem em extrema pobreza: “Não faz sentido um país com minerais tão importantes como o Rubis, uma criança de Namanhumbir, viver na miséria com barriga de fome. Quando falo de Namanhumbir, falo doutros distritos. Aquela criança devia ter um ensino primário com computador de início ao fim”,
A proposta inclui transformar distritos em polos de desenvolvimento, com as “melhores mentes do país” liderando localmente, sob uma missão clara de transformação.
Lutar por uma nova mentalidade nacional
Segundo o académico moçambicano “A nova luta é pela independência económica e por uma reforma da mentalidade nacional”, frisou Jauana. Para ele, é necessário romper com o “modelo assimilado” herdado do passado colonial e apostar na juventude, na descentralização e na justiça social.
No encerramento do discurso, Jauana destacou que a FRELIMO deve assumir a responsabilidade de liderar essa mudança, começando por si mesma: “Não basta mudar estruturas. É preciso mudar mentalidades. A luta continua, e a vitória será da inovação, da juventude, da justiça e do pensamento disruptivo”, concluiu.

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