C. Langa e Samito: Dois pesos e duas medidas

EDITORIAL

Nos últimos oito anos da presidência de Filipe Nyusi na Frelimo, alguns nomes sonantes dentro do partido negaram acovardar-se e esgrimiram-se quando sentiram que parte dos seus direitos como militantes estava a ser beliscado.

Na lista destaca-se Samito, o maior “rebelde” da Frelimo sob o consulado de Filipe Nyusi. Sua afronta ao partido foi documentada e seu discurso não foi nada modesto, chegando até a recorrer a adjectivos que, sim, seria correcto afirmar que atentaram a integridade de Filipe Nyusi, expondo a musculatura de um Samito que deixou claro que não tinha medo de andar com os próprios pés fora da Frelimo. O episódio chegou a confundir-se com o início da descentralização da Frelimo e os ensaios de um processo disciplinar não tiveram seguimento.

Mais nomes, no seu direito bem acolhido de debruçar-se sobre assuntos fora de agenda, colocaram questões que mostravam preocupação pela saúde da Frelimo. Tal é o caso de Óscar Monteiro, quando num tom de desabafo procurou saber dos camaradas sobre os contornos dos Nhangumeles dessa vida. A crítica era mesmo direccionada à direcção do partido, mas foi encaminhada à antiga direcção e não mereceu qualquer comentário do partido.

Na medida em que o espaço da liberdade ia se afunilando reduziu o espaço de afronta, e o que restou são apenas lamentos em voz baixa, como se ouviu de Helena Taipo, que, apesar de não se esperar qualquer comentário diferente para uma pessoa que esteja na sua condição, é grave a forma como descreve(u) o Presidente da Frelimo, a ponto de comparar-lhe a um “crocodilo” e…

Na sequência do afunilamento das liberdades, enquanto se reestruturava a Frelimo, de modo a ter um partido à medida do Chefe, os membros acobardaram-se e deixaram de trazer os pontos temidos por Nyusi, que deverá deixar, no partido, um legado assombroso do assalto à democracia interna, ao definir o tecto dos assuntos que devem ser  debatidos pelos camaradas e engavetar temas fracturantes cuja pontualidade é indispensável, não só para o partido, como também para o país, como seu envolvimento nas dívidas ocultas, o assunto Samito, que acima fizemos referência, os apelos e o conceito de um terceiro mandato, que já manifestou, nos bastidores, o seu desinteresse, num momento em que crescem os apelos para os “próximos cinco anos”, período que mostra uma tímida ambição de continuar na liderança da Frelimo fora do período da liderança nos destinos da Nação.

O ambiente da degradação da democracia dentro da Frelimo foi se reflectindo no ambiente sociopolítico do país, evidenciando que a degradação da democracia é reflexo mesmo da liderança, tanto no partido, como no país, o nosso executivo é alérgico às críticas.

É no meio dessa Frelimo que, numa abordagem inocente, com memórias frescas daquela Frelimo que apregoava a crítica e autocrítica, Castigo Langa, a mais recente vítima da ditadura que assaltou o partido, acreditou que pudesse, com maior cautela, se pronunciar sobre assuntos do interesse do partido e, sem recorrer a formalidades, num fórum apropriado, colocou aquele assunto de interesse colectivo com toda a modéstia necessária.

Mas seus algozes, que se revelaram detractores medíocres, já num fórum mais restrito (Comissão Política), onde o corajoso Castigo Langa não teria a oportunidade de se defender, acharam por bem censurar sua intervenção para deixar claro que não se confronta o Chefe. Alguém deve, pelo menos, apelar ao resgate da democracia interna assombrada por eleições à moda coreana. Mas quem aceitará ser a próxima vítima?

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