Chineses acusados de usar ONG para lavagem de dinheiro e fuga ao fisco em Sofala

SOCIEDADE
  • Associação Pu Hsein pode ser uma “lavandaria”
  • Usavam isenções aduaneiras concedidas à associação para comprar produtos para posterior venda
  • Moçambicana usada para adquirir um imóvel de 15 milhões de meticais que pertencia a um deputado da Frelimo

Membros da Associação Pu Hsein acusam três indivíduos de nacionalidade chinesa de usar a associação para a lavagem de dinheiro e fuga ao fisco. Ao Evidências, os denunciantes apontaram que os três indivíduos, que respondem pelos nomes de Pu Hsein, Yi Hsu e Chen Mim Tsung, importam material diverso em nome da associação para posterior venda nas ferragens. Igualmente, teriam usado o Bilhete de Identidade de uma cidadã moçambicana para adquirir um apartamento avaliado em 15 milhões de meticais, pertencente a um deputado da Frelimo.

Jossias Sixpence

Em Dezembro do ano passado, a União Europeia incluiu Moçambique na lista de jurisdições de países considerados de alto risco devido a deficiências estratégicas nos seus regimes de combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo.

Enquanto o Executivo aperta o cerco, Organizações Sem Fins Lucrativos baseadas no País proporcionam desmandos sob o olhar impávido das autoridades da lei e ordem e da Autoridade Tributária de Moçambique.

No Distrito de Dondo, província de Sofala, há relatos de uma associação sem fins lucrativos usada para lavagem de dinheiro, fuga ao fisco e para facilitar a entrada de imigrantes ilegais de nacionalidade chinesa. Trata-se da Associação Pu Hsein que foi denunciada por membros descontentes de nacionalidade moçambicana.

Criada em 2017 com intuito de ajudar as pessoas mais carenciadas, a referida associação nunca perseguiu os objectivos para os quais foi fundada. Logo depois da sua fundação, os patronos declararam falta de fundos para manter as portas abertas, só foram reabertas no ano passado.

Ao contrário de 2017 em que não foram realizadas as actividades por falta de fundos, em 2022, segundo os denunciantes, os três líderes andavam na posse de avultadas somas de dinheiro, o que gerou, de certa forma, preocupação aos demais membros.

Inconformados com o modus operandi da Associação Pu Hsein, os referidos associados dirigiram-se à Autoridade Tributária ao nível da Cidade da Beira onde constataram que os três indivíduos de nacionalidade chinesa gozaram das isenções fiscais concedidas a associação para importar bens como viaturas, máquinas, medicamentos e materiais de construção, tudo avaliado em mais de 20 milhões de meticais, sendo que parte do material importado em nome da associação era vendido numa ferragem pertencente a um deles.

De acordo com Isac Farai, antigo contabilista da associação, Pu Hsein, Yi Hsu e Chen Mim mobilizaram financiamento na China, Canadá, Taiwan e Malásia, mas quando chegava o dinheiro mandavam o contabilista cambiar o mesmo para metical e em seguida faziam transferência para as contas pessoais dos três implicados no esquema de fuga ao fisco.

“Quando recebíamos dinheiro da associação, eu era mandado para negociar o câmbio e de seguida o chinês orientava para transferir dinheiro para sua conta particular”, disse Farai, que aponta que transferiu mais de 100 milhões de meticais para as contas dos chineses, para depois referir que desconfia que o valor seja usado para financiar o extremismo violento na província de Cabo Delgado.

“Estou a ter medo porque estamos num momento em que o terrorismo em Cabo Delgado tem estado a ganhar terreno. Eu já fiz transferência de mais 100 milhões de meticais sem no entanto saber a finalidade da aplicação”, desconfia.

Um imóvel de 15 milhões de meticais que pertencia a um deputado da Frelimo

Para além de transferir o grosso dinheiro que entrava nas contas da Associação Pu Hsein para as suas contas, na tentativa de ocultar a identidade do verdadeiro comprador de um imóvel avaliado em 15 milhões de meticais, usaram a identidade da presidente da associação, de nacionalidade moçambicana, para celebrar contratos de compra e venda com um deputado da bancada parlamentar da Frelimo.

No entanto, a referida presidente foi suspensa do cargo depois de efectuar última prestação no acto da compra do imóvel.

“Eu era presidente da associação e fui orientada para ir negociar a compra de apartamentos que culminaram com assinatura de contratos de venda ainda mais em meu nome. Depois das negociações, fez-se o pagamento de uma parte do valor e em seguida mandaram-me embora, sem no entanto saber porquê”, frisou a Nancy Armando.

O Evidências tentou a todo custo ouvir a versão dos cidadãos chineses ora acusados de lavagem de dinheiro e fuga ao fisco, mas, debalde. Nenhum dos três indiciados aceitou dar a sua versão, apesar da nossa insistência durante pouco mais de duas semanas a nossa equipa.

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