Os empreiteiros nacionais têm perdido os concursos para a execução de obras para estrangeiros por falta de certificado de qualidade. No entanto, o presidente interino da Federação Moçambicana de Empreiteiros, Justino Chemane, defendeu que os seus filiados têm a capacidade de executar as obras que são confiadas aos estrangeiros, tendo, por outro lado, lamentado o facto das Organizações Não Governamentais usarem a legislação dos seus países de origem na contratação de bens e serviços em Moçambique.
O Estado continua a perder muito dinheiro com as obras edificadas com pouca qualidade. Aliás, este facto foi assumido pelo antigo ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, João Machatine.
A corrupção e favorecimento de empresas aliadas aos governantes estão por detrás da qualidade das obras executadas pelos empreiteiros nacionais que nos últimos anos têm sido preteridos em detrimento dos estrangeiros.
O presidente interino da Federação Moçambicana dos Empreiteiros, Justino Chemane, não tem dúvidas de que os empreiteiros nacionais têm qualidade para executar obras de vulto, tendo dado exemplo das obras executadas pelos estrangeiros que não resistiram aos desastres naturais.
“As pontes e estradas feitas por estrangeiros estão ai destruídas. Porque gostar do estrangeiro e não gostar de si próprio? O empreiteiro nacional faz aquilo que está no projecto. Se o projecto já está feito não há como dizer que não tem qualidade, o fiscal deve exigir a aplicação do conhecimento de técnicas que estão no projecto. A culpa não pode ser imputada aos empreiteiros nacionais que tem a mesma qualidade que os estrangeiros. Quem está lá no sol são os moçambicanos, mas como é que dizem que são incapazes de executar as obras? ”, questionou Chemane.
Durante a reflexão sobre o sector da construção em Moçambique, evento organizado pela Federação Moçambicana dos Empreiteiros, nesta quarta-feira, 12 de Abril, os empreiteiros denunciaram a falta de seriedade de algumas organizações que cancelam os concursos públicos sem prévio aviso e não ressarcem as empresas que concorreram. Justino Chemane advoga que os empreiteiros estão a enriquecer os estrangeiros em massa.
“O empreiteiro recorre a banca para pagar garantias e do nada o concurso é cancelado. Para onde vai aquele dinheiro? Será que esta pessoa conhece os custos dos empreiteiros para fazer parte daquele concurso? Acho que não sabe. O banco exige garantia, ganhou ou não ganhou é seu problema. Numa obra concorre entre 20 e 30 empreiteiros, mas no final vai ganhar só um. Hoje estamos a endinheirar os estrangeiros em massa”.
Nas entrelinhas, o presidente interino da FME referiu que os empreiteiros preferem abandonar as obras devido a falsidade que está instalada no sector, defendendo que os estrangeiros não podem continuar a fazer de Moçambique um país de “deixa andar”, uma vez que os mesmos continuam a usar a legislação dos seus respectivos países na contratação de bens e serviços.
“As pessoas devem entender que não podemos continuar a viver na base da falsidade ´porque quem paga com isso é o povo moçambicano, não é só o empreiteiro que tem fornecedores de material e os trabalhadores por pagar (…) As Organizações Não Governamentais que lançam obras no país ignoram as leis nacionais e usam as leis dos seus respectivos países. O processo de contração é da lei da terra deles. Isso não é justo, estamos a fazer esforços para que? Já temos a legislação, mas eles não aplicam. Não podemos continuar a ser um país de deixa andar, não podemos estar aqui para servir a vontade dos outros”, concluiu.

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