“Fofoca” leva Caifadine Manasse a processar criminalmente 23 deputados da Zambézia

POLÍTICA
  • No círculo eleitoral da Zambézia só escapou Hélder Injojo

Depois de ter sobrevivido, no Comité Central de Março último, a uma tentativa de afastamento do partido, iniciado pelo Comité Provincial da Zambézia, que após um processo disciplinar acabou por expulsá-lo por alegadamente promover intrigas, Caifadine Manasse parece estar disposto a lutar até ao fim. Quando todo mundo pensava que o dossier do seu afastamento na Zambézia estava encerrado, eis que o antigo secretário de Mobilização e Propaganda do partido acaba de esticar a corda, levando para a barra da justiça 23 dos 25 membros do seu círculo eleitoral, num caso que envolve muita fofoca entre os camaradas.

Em Março do corrente, o deputado da Frelimo, Caifadine Manasse, que desempenhava o cargo de secretário para a Mobilização e Propaganda, foi afastado pelo Comité Provincial da Frelimo na Zambézia, acusado de estar a promover intrigas e de ter proferido palavras e acusações contra seus camaradas e superiores hierárquicos no partido e na Assembleia da República.

De acordo com a acusação do Comité da Verificação da Zambézia que o Evidências teve acesso e publicou em primeira mão, Caifadine Manasse era acusado de ter referido diante dos seus pares deputados em Alto Molócue, numa missão parlamentar, que Nyusi está a fazer de tudo para viabilizar um suposto terceiro mandato, numa altura em que se mostra incompetente para acabar com o terrorismo, na própria província onde se viu nascer.

A nota de culpa a que Caifadine Manasse devia responder, antes da tomada de decisão do seu afastamento, dizia ainda que este desqualificou a Roque Silva, proferiu injúrias contra outros colegas e agitou alguns membros do partido para a desobediência aos órgãos da Frelimo, democraticamente eleitos, para além deste ter desqualificado as competências de Damião José. A acusação, segundo se lê no documento, refere que Manasse referiu que a eleição de Damião José representava uma baixa para a província.

Num outro desenvolvimento, Caifadine Manasse é ainda indiciado de ter incriminado os colegas Hélder Ernesto Injojo (actual primeiro vice-presidente da Assembleia da República), Damião José, Momade Arnaldo Juízo, Sábado Alamo Chombe e Deolinda Catarina Chochoma no narcotráfico, no propalado processo de tráfico drogas no Porto de Macuse, na província da Zambézia, onde, coincidentemente, viu seu primo detido por estar envolvido no trafico.

Diz a nota que Manasse acusou Manuel Amílcar de Jesus Eliseu e Abdul Latifo Momade Mussa, ambos membros do Comité Provincial e directores provinciais de Género, Criança e Acção Social e das Alfândegas, respectivamente, de serem os veículos usados para a facilitação do escoamento e comercialização da droga, servindo-se em parte das funções.

Por causa desta e de outras fofocas e intrigas dos camaradas na Zambézia, o Comité Provincial decidiu afastá-lo e tudo estava encaminhado para que fosse afastado do Comité Central, mas tal não aconteceu porque alguns camaradas da ala dura do partido contestaram, alegando que um órgão inferior era incompetente para expulsar um membro do órgão central.

Sobreviveu, embora isolado, inclusive ter sido dado costas por aqueles que se serviram dele quando era “chefe”, Caifadine voltou agora para se vingar daqueles que entende que estiveram a conspirar contra ele.

Quase todo círculo eleitoral vai a tribunal

Por entender que os camaradas pontapearam a Constituição da República, Código Civil e os Estatutos da Frelimo, Manasse submeteu, no passado dia 31 de Maio de 2023, na Procuradoria-Geral da República (PGR) em Maputo, uma participação criminal contra 23 deputados e membros proeminentes da Frelimo na província da Zambézia.

Caifadine Manasse entende que Aida Maria Soares Gouveia, Alice Ana Francisco Xavier Kufa, Arlinda Cipriano de Sousa, Assia Paulo Cipriano Abudo Ali, Carimo Fretas de Oliveira, Clarice da Esperança Milato, Claúdio Fernandes da Meta Fone Wah, Damião JoséDeolinda Catarina João Chochoma, Eusébio Nanguia Nipite Mulange, Inácia Henriques Carneiro Ngonde, João Catemba Chacumba, Josefa Jacinto Música, Lúcia José Madeira, Momade Arnaldo Juízo, Sábado Alamo Chombe, Sabir José Vasco Maquege, Safi Mahomed Reman Gulamo, Sara Maria Ubisse Ussumane, Sebastião Inácio Saíde, Zainane Memane Ossumane e Zuria Tuaibo Assumane cometeram crime de calúnia por terem, supostamente, dito que foi ele que quem associou o nome de Hélder Injojo, vice – presidente da Assembleia da República, ao narcotráfico.

Tais factos ofensivos e caluniosos à honra e ao bom nome do Participante, para além de fazerem referência a uma figura que na sequência é Vice-Presidente de um Órgão de Soberania, ligam-se ao narcotráfico, um dos mais sofisticados crimes da actualidade, sendo parte da criminalidade organizada e até da criminalidade transnacional”, lê-se na participação na posse do Evidências.

Foi através do escritório de advocacia, Custódio Duma, Advogados e Consultores, que Caifadine Manasse desferiu um contra – ataque “venenoso” aos 23 deputados da Frelimo no Círculo Eleitoral da Zambézia. Aliás, somente Helder Injojo, por sinal uma das vítimas da fofoca, é que não é arguido no processo.

O ainda deputado da Frelimo entende que por conta da falsidade dos 23 camaradas foi alvo de chacota nas redes sociais, nos órgãos de comunicação nacional e internacional, tendo citado duas publicações do Evidências.

“O Jornal Evidências, na sua edição de 21 de Março, na página 11 destaca esta informação: ‘Falta a Confirmação do seu Afastamento no Comité Central – Caifadine Manasse corrido do Comité Provincial’ (…) O Jornal Evidências, na sua versão online do dia 21 de Março, tem como manchete: “Caifadine Manasse corrido do Comité Central”, refere a participação.

Caifadine Manasse defende, por outro lado, que acção dos 23 deputados provocou danos de difícil reparação na sua vida pessoal, família, profissional e, sobretudo, política, enquanto militante sénior do partido Frelimo onde construiu a sua carreira e exerceu funções de muita responsabilidade.

Indo mais longe, Manasse não tem dúvidas de que os seus camaradas não só mancharam a honra e o seu bom nome, mas também destruíram o seu carácter e a sua reputação, entre tudo que granjeou ao longo de todos estes anos de militância no partido, daí que decidiu participar criminalmente os visados e “requerer a abertura da respectiva Instrução, nos termos da lei, tendo em conta em foro apropriado dos Deputados, devendo o processo ulteriores termos até a final”.

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