Mulheres recorrem a criação de peixe de cativeiro para garantir seu autossustento

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  • Venceram o preconceito e se inseriram numa actividade antes vista como sendo de homens

É cada vez mais crescente o número de mulheres que quebram preconceitos para se inserirem em actividades antes dominadas por homens. Em Sofala, por exemplo, um grupo de mulheres, entre viúvas e mães solteiras, dedica-se à criação de peixe de cativeiro numa empresa chinesa. Antes beneficiaram-se de uma formação sobre a criação de alevinos, fabrico de ração, criação do peixe em cativeiro e pesca. É através desta actividade que conseguem sustentar suas famílias, contudo nem tudo é um mar de rosas. Conhecem o sabor amargo do preconceito com o qual tiveram que aprender a conviver no princípio da sua jornada.  O director da empresa diz que ao permitir a integração de mulheres nesta actividade visa a estimular a contribuição destas no desenvolvimento do país e potencializar a sua participação na área de aquacultura de modo a quebrar preconceitos que ainda persistem.

Jossias Sixpence- Beira

Venceram o preconceito e hoje vivem só com o suor do seu trabalho. São mulheres com idades compreendidas entre 25 e 40 anos e que carregam várias histórias de superação. Algumas tiveram que se reinventar após perderem seus maridos, enquanto outras tiveram que juntar forças para superarem relações que não deram certo para poderem cuidar dos seus dependentes. Mas há também quem é movida pela vontade de ajudar o seu esposo em casa.

Quando tiveram a oportunidade de ingressar numa empresa que se dedica à criação de peixe, não se importaram com o tipo de actividade que deviam exercer, apenas com os rendimentos que podiam obter para colocar pão na mesa e suprir outras despesas como escola para crianças e renda de casa, para as que ainda não tinham casa própria.

Sabila Manguiza, uma das criadoras de peixe em cativeiro na empresa de nome Full Mozambique Aquacultura, conta que não tem sido fácil, pois para além de trabalho braçal é necessário algum conhecimento e atenção redobrada para garantir que se alcancem melhores resultados.

“Aqui cuidamos, primeiro, da limpeza dos tanques. Este trabalho exige muita atenção, pois existem condições específicas nas quais o peixe tem que ser cuidado. Por exemplo, temos dois tipos de tanques, uns de terra e outros sedimentares, estes últimos que requerem muita atenção no uso de oxigénio para garantir o crescimento das crias, pois são feitos de cimento e o oxigénio permite que a água se movimente como ondas naturais”, sublinhou.

O processo de criação de peixe até que se torne comerciável dura em média seis meses. Com essa idade alguns peixes chegam a pesar pouco mais de 1 kg cada.

Visivelmente emocionada com o trabalho que faz, afirma que quebrou preconceitos para conseguir se adequar na área de aquacultura e exorta a outras mulheres para que não parem no tempo, porque a vida hoje é desafiante, sobretudo para as mulheres.

Francisca Francisco, viúva e mãe de cinco filhos, viu a sua vida a tomar um rumo de 360º quando perdeu o marido, que era, em vida, principal provedor de sua família. Teve que se reinventar, procurando qualquer tipo de actividade que pudesse garantir pão para si e seus filhos. Quis o destino que aparecesse uma oportunidade na empresa onde trabalha.

Na companhia de outras mulheres que enfrentam o dilema de pobreza, conseguiu vencer os estereótipos sociais ligados à atividade de aquacultura. Mais do que o trabalho, teve a sorte de passar por uma formação ministrada pela empresa, o que lhe conferiu maiores conhecimentos sobre o sector e hoje sente-se confiante.

“Eu não tinha noção da vida como hoje tenho porque o meu marido é que trazia pão na mesa e eu apenas cuidava da casa. Quando ele perdeu a vida, as coisas tornaram-se complicadas para mim e tive que procurar fazer negócios, mas não conseguia suprir com despesas. Quando apareceu esta oportunidade, não pensei duas vezes. Confesso que tive muito receio, mas hoje me sinto feliz, pois consigo pagar as despesas escolares dos meus cinco filhos e colocar pão na mesa. Para não depender totalmente do salário, consegui com o pouco que ganho estabelecer um pequeno negócio em casa”, disse Francisca.

Numa breve entrevista ao Evidências, Mouri Liu, empresário chinês dono da empresa Full Moçambique Aquaculura, uma das duas maiores empresas de produção de alevinos e peixe para abate em Moçambique, reconheceu o contributo das mulheres no desenvolvimento da actividade de aquacultura e crescimento da sua empresa.

Para Liu, formar mulheres nessa área é estimular a contribuição destas no desenvolvimento do país, que escolheu a aquacultura como um vector essencial para o desenvolvimento do país. Mas mais do que isso, sente-se satisfeito por contribuir para a desmistificação do preconceito de que a aquacultura é apenas para homens,

“A nossa meta deste ano é exportar 1000 toneladas de peixe, e para isso contamos também com essas mulheres e elas são a peça-chave para atingirmos essa meta. Continuaremos a apostar nelas para o crescimento da empresa”, disse Liu.

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