Depois de terem feito circular mensagens em português e inglês, aludindo sobre a entrada em vigor de cobranças aos automobilistas não muçulmanos para poderem circular de um lado para o outro nalguns troços em Cabo Delgado, na semana passada, os terroristas partiram para acção instalando alguns postos de “portagens” nalgumas das mais movimentadas estradas daquele ponto do país, onde cobram valores exorbitantes, havendo quem teve que pagar cerca de 150 mil meticais para ter livre trânsito para o seu camião e mercadoria. A situação está a concorrer para o agravamento do preço de transporte, assim como de produtos alimentares, sobretudo nos distritos a norte da província.
Imagens postas a circular dias depois dos terroristas terem espalhado mensagens exigindo pagamento de dinheiro para a circulação de pessoas e bens nalguns troços, com particular destaque para a Estrada N380, mostram os terroristas já em acção, uma situação que está a criar medo nos condutores, principalmente para os transportadores semicolectivos de passageiros que escalam as regiões Centro e Norte de Cabo Delgado.
Relatos vindos de Pemba são aterradores. Os terroristas não só cumpriram a sua ameaça, como também esticaram acima da média os preços a pagar para ter o direito de circular naquele ponto do país. Cobram valores que chegam aos 150 mil meticais, segundo relatou o presidente do Conselho Empresarial de Cabo Delgado, denunciando um episódio que envolveu um dos associados que há dias viu um dos seus camiões cheio de mercadoria ser interceptado pelo grupo de terroristas, obrigando-o a pagar 150 mil meticais para poder seguir viagem.
Alguns transportadores de passageiros que conversaram com o Evidências, em Pemba, não tem dúvidas que a introdução de cancelas na N380 inviabiliza a circulação não só dos transportes de passageiros, mas também de mais meios circulantes com destino principal para Mocimboa da Praia e Palma.
Consternados e com medo, contam que um dos seus colegas foi, há dias, baleado mortalmente quando circulava no troço Pemba/Meluco. Enquanto este dava o seu último suspiro, os terroristas introduziram-se no interior do autocarro e exigiram que os passageiros pagassem dinheiro. Quem não tivesse dinheiro vivo era obrigado a efectuar transferências por via de carteira móvel.
Os motoristas que circulam naquele troço que liga seis distritos acreditam que a situação poderá afectar significativamente a sua actividade, pois as pessoas estão com cada vez mais receio de viajar e as cobranças afectam grandemente as suas receitas, pelo que não vêem outra opção senão o agravamento da tarifa.
Tomás Assumane, automobilista de longa data e que sempre exerceu actividade de transporte de passageiros naquela via actualmente considerada perigosa, não esconde o medo pelos riscos que corre, mas diz não ter outra opção.
Por seu turno, Antoninho Mauricio, outro automobilista, anota que diante da situação actual não há outra opção senão agravar o preço de transporte por forma a ter dinheiro para pagar a portagem dos terroristas e restar com algum dinheiro de receita.
“A título de exemplo, antes da nova onda de ataques, o preçário dos machimbombos da capital provincial a Mocimboa da Praia e Palma custava mil a 1200 meticais, respectivamente, mas actualmente os valores ascenderam para 1500 a 3000 mil meticais, uma situação que também se vive para o resto dos distritos daquela região que ficou afectada pela guerra desde 2017”, declarou Libério Silvério.
O nosso repórter ficou informado através de fontes seguras residentes nos distritos de Palma, Mocimboa da Praia e Nangade que já não é possível sair daquela zona via Macomia para Pemba ou Nampula por causa da carta-alerta dos “Alshabs”, aliada à degradação das vias de acesso, devido às intempéries que têm vindo a cair nos últimos dias.
Em consequência desta situação os condutores passar a usar a via Nairoto, no distrito de Montepuez, para poder chegar à capital da província e noutras regiões do país.
Os automobilistas contam que apesar do aumento da frequência e incidência dos ataques o fluxo de passageiros ainda não diminuiu de forma considerável, tendo como passageiros na sua maioria funcionários, comerciantes, entre outras camadas sociais que ainda afluem massivamente por causa das necessidades que tem por cumprir naqueles pontos da província.
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