Liga Juvenil e Associação dos Combatentes da Renamo demarcam-se de VM7

DESTAQUE POLÍTICA
  • Venâncio Mondlane cada vez mais sozinho e abandonado
  • Conselho Nacional marcado por bajulação e “hosanas” a Ossufo Momade
  • Ex-guerrilheiros dizem ter remédio para “curar” V. Mondlane, só precisam de autorização

O Conselho Nacional da Renamo que teve lugar no último Domingo foi marcado por uma onda de condenações ao comportamento de Venâncio Mondlane, acusado pelos seus pares de ter ambições pessoais. Da Liga Juvenil veio um distanciamento das suas acções, mas viria da Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia (ACOLDE) o aviso em forma de ameaça: “queremos lhe advertir para que pare com as suas investidas, pois connosco não se deve brincar… essas pessoas usam o nome da Renamo, confundindo a opinião pública com propagandas contra a liderança. Nós temos soluções, temos remédio para curar esses comportamentos, apenas esperamos pela autorização”. De resto, o Conselho Nacional foi marcado por um cerimonial de bajulação à figura do líder do partido e um ambiente hostil a quem pensa contrário.

A avaliar pelas intervenções feitas durante a abertura do Conselho Nacional e pronunciamentos de membros influentes do partido, não se espera bons dias para Venâncio Mondlane na Renamo nos próximos tempos.

Num Conselho Nacional que parece ter sido feito à medida de Ossufo Momade e marcado por largos momentos de lambebotismo e bajulação à figura do seu líder, quase todas a intervenções de abertura estavam direcionadas à condenação ao comportamento de Venâncio Mondlane, que, naturalmente, se tornou alvo a abater.

A Liga da Juventude da Renamo, dirigida por Ivan Mazanga, foi a primeira a dar sinal, anunciando durante a abertura do evento o seu distanciamento do que chamou de egocentrismo, numa clara referência ao facto de Venâncio Mondlane ter optado em discutir problemas do partido fora dos órgãos.

“Excelências, nós os jovens olhamos para o Partido como nossa casa, e a cada um de vós e os demais membros e simpatizantes da RENAMO como nossa família. E como ensina a sabedoria comum e sensata dos seres humanos em sociedade, estamos convictos de que os problemas do Partido (nossa família) devem ser discutidos e solucionados dentro dos órgãos, porque servem para este efeito (por isso estamos aqui reunidos), de contrário não faz sentido a sua existência…, e não fazendo sentido a existência dos órgãos, então, também não faz sentido a existência do Partido, que é estruturado com base nestes, então estar em guerra com todos os órgãos do Partido é estar em guerra contra o Partido. E nós não comungamos da visão que qualqueriza os órgãos do Partido a favor do egocentrismo. Excelências, sem acções colectivas, cometemos um suicídio colectivo”, disse Mazanga.

Mas foi a Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia, constituída por ex-guerrilheiros, de quem Venâncio Mondlane sempre disse ter apoio, que veio a maior salva de ataques contra o cabeça-de-lista do partido em Maputo, mesmo sem citar explicitamente o seu nome.

“A ACOLDE está a acompanhar atentamente os acontecimentos dos últimos dias, em que um membro do Partido levou o mesmo ao Tribunal, este acto que nos escandaliza, nos envergonha e descredibiliza toda a nossa luta, uma acção que não faz parte da nossa essência, pelo que consideramos este acto de afronta ao sangue derramado por muitos dos nossos irmãos ao longo da luta dos 16 anos e da revolução. Que essas brincadeiras devem ter o ponto final”, declararam os ex-guerrilheiros.

A ACOLDE solicitou ao Conselho Nacional e ao Conselho Jurisdicional para que analisem o comportamento de Venâncio Mondlane, a quem acusam de não respeitar a disciplina partidária e a liderança do Partido.

“A ACOLDE condena os pronunciamentos deste membro contra os Combatentes da Renamo que, pela mesma liberdade que ele diz gozar, vieram ao público manifestar a sua posição sobre a situação do Partido, e ele, no seu discurso nas redes sociais do dia 10 de Abril, teve a ousadia de nos apelidar de simples “camponeses coitados”, essa Renamo a qual filiou existe graças a nós, pelo que queremos lhe advertir para que pare com suas investidas, pois connosco não se deve brincar. Que não haja alguém com o espírito de problemas, conflitos e desprezo aos membros e muito menos focado em assuntos que não dignificam o Partido e sua liderança”, sublinhou.

Entretanto, numa mensagem encarada como uma ameaça à integridade física de Venâncio Mondlane e outras figuras identificadas, aquele representante da ACOLDE disse ter “remédio” para “curar” os que aparecem na televisão a se oporem à liderança de Ossufo Momade.

“Para terminar, queremos desde já solicitar a luz verde do Conselho Nacional e da direcção máxima do Partido a autorização de nos responsabilizar por aqueles que andam nas televisões a insultar a liderança e usam o nome de membros da Renamo, confundindo a opinião pública com propagandas contra o próprio, nós temos soluções, nós temos o remédio para lhes curar, é somente nos autorizar”, sublinhou.

Refira-se que, à margem do Conselho Nacional, outras figuras relevantes na Renamo, como Alberto Mazanga, António Muchanga e Ivone Soares, demarcaram-se de Venâncio Mondlane, o que faz antever dias difíceis para este que já começou a ser isolado dos principais círculos de tomada de decisão no partido, a começar pela sua exclusão no próprio Conselho Nacional.

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