Roberto Tibana abandona Venâncio Mondlane e diz-se livre para votar em qualquer candidato

DESTAQUE POLÍTICA
  • Depois de Novinte e outros, autor do manifesto de VM7 bate com a porta
  • VM7 perdeu seu apoio incondicional por ter atravessado “linhas vermelhas”
  • Inferiorização da mulher e pena de morte no manifesto do PODEMOS forçam cisão
  • Tibana diz que ainda vai formar juízo sobre quem dos quatro candidatos merece seu voto

Quando a campanha eleitoral caminha para a sua fase derradeira, o candidato presidencial, Venâncio Mondlane, que conta com suporte do PODEMOS, acaba de registar mais uma contrariedade. Roberto Tibana, um dos seus conselheiros e principal rosto por detrás da concepção do seu manifesto, acaba de bater com a porta e anunciou que abandona o seu apoio incondicional a Venâncio Mondlane, por, no seu entender, ter atravessado algumas linhas vermelhas que colocam em causa os direitos humanos, nomeadamente a inferiorização da mulher, defendida por alguns comentadores afectos ao PODEMOS, e pena de morte para crimes de corrupção, que consta do manifesto daquele partido. Essencialmente por essa razão, Tibana diz que “se um candidato presidencial não tem linhas vermelhas, se para ele tudo vale para chegar ao poder, esse, para mim, não é fiável”, e declarou que a decisão de em quem votar entre os quatro candidatos vai ser tomada após os dois dias de exame de consciência.

Duarte Sitoe

O conceituado economista Roberto Tibana recuou no seu apoio incondicional à candidatura presidencial de Venâncio Mondlane. De acordo com Tibana, a inviabilização da Coligação Aliança (CAD) e a entrada em cena do PODEMOS pesaram para a sua decisão, uma vez que a força política que agora suporta a candidatura trata a mulher “como um ser inferior, puramente dedicado ao cuidado do homem e à reprodução biológica de força de trabalho”. Por outro lado, o economista mostrou-se contra a ideia do PODEMOS de “recuperar” a pena de morte como forma de reduzir os índices de corrupção no país.

Em Maio do corrente ano, Venâncio Mondlane anunciou, em Nacala, província de Nampula, que seria candidato à Presidência da República, sendo que no mês seguinte, ou seja, em Junho, viu o economista Roberto Tibana a endossar apoio a sua candidatura.

Tibana refere que decidiu apoiar incondicionalmente VM pela sua forma aberta e inclusiva de tratar assuntos da nação, envolvendo e ouvindo todos cidadãos.

“Após que ele se afastou da Renamo, e na continuidade das relações de amizade e colaboração que vinha mantendo com ele pessoalmente, mesmo quando ainda deputado por esse partido na Assembleia da República, ofereci-me (e até insisti) em ajudar-lhe a desenvolver o seu manifesto como candidato presidencial independente, ao que ele acedeu. Tal como esclareci no programa ‘De frente com o Povo’ da TV Sucesso no dia 12 de Julho passado, a minha associação com este projecto baseou-se fundamentadamente no princípio de participação política apartidária e de exercício de cidadania, para dar corpo às minhas convicções e contribuição para a construção de um Moçambique de progresso. Estou grato ao Engenheiro Venâncio Mondlane por me ter dado essa oportunidade ao aceitar-me como apoiante activo do seu projecto político. Foi extremamente instrutivo para mim trabalhar com ele e com os seus colaboradores na preparação do Pré-Manifesto que serviu de base para as consultas públicas, num acto inédito por sinalizar uma maneira aberta e inclusiva de tratar os assuntos da nação envolvendo e ouvindo a todos os cidadãos que queiram contribuir”, lê-se na publicação de Roberto Tibana nas redes sociais.

No entanto, a Comissão Nacional de Eleições, alegando que houve irregularidades na inscrição, decidiu retirar a Coligação Aliança Democrática das Eleições Legislativas e das Assembleias Provinciais, deixando Venâncio Mondlane órfão de apoio.

Para colmatar a lacuna deixada pela exclusão da CAD, Mondlane aliou-se ao PODEMOS. Esta mudança pesou para Roberto Tibana recuar da decisão de apoiar incondicionalmente Venâncio Mondlane para não castrar a sua capacidade de fazer juízo independente e tomar posições desinibidas no debate de assuntos importantes que configuram desafios existenciais sobre o futuro do nosso país.

A pena da morte e outras linhas vermelhas de Roberto Tibana

Um dos pontos que fez com o conceituado economista retirasse o seu apoio à candidatura Presidencial de Venâncio foi o facto dos apoiantes da PODEMOS terem inferiorizado publicamente a mulher.

“A primeira linha vermelha foi atravessada pelas declarações retrógradas e repudiáveis acerca do papel da mulher feitas por um militante ou dirigente do PODEMOS, tornadas públicas em câmaras televisivas. Essas declarações, que tratam da mulher como um ser inferior, puramente dedicado ao cuidado do homem e à reprodução biológica de força de trabalho familiar, rejeitando completamente a emancipação política, económica e social da mulher, vão contra os valores que eu defendo, e constituem um ataque inaceitável contra as conquistas (ainda que parcas) da mulher moçambicana desde que o nosso país ficou independente. Foi repugnante ouvir tais declarações de um partido político que pretende dirigir o nosso país, numa fase em que a mulher é vítima das formas mais repugnantes de violação dos seus direitos perpetrada pelos homens, incluindo a sua escravização sexual e o assassinato”

No seu manifesto eleitoral o PODEMOS pretende reintroduzir a pena de morte para crimes de corrupção, observando que com esta decisão haverá uma redução drástica dos índices de corrupção em Moçambique. Contudo, Tibana não se revê na proposta da força política que suporta a candidatura de VM.

“Oponho-me à pena de morte não somente pela hipocrisia dos que a apregoam, mas também por uma questão de princípio: direito inalienável à vida! É responsabilidade da sociedade encontrar soluções para os seus problemas sem retirar esse direito a nenhum cidadão”, declarou Tibana.

Aliás, Tibana, que já foi consultor de vários governos, lembra que o país já teve pena de morte, introduzida por alguns dos maiores corruptos da actualidade” que instituíram a pena de morte e a executaram inclusivamente em público e obrigando a população a ir assistir a essas execuções, em autênticos actos de barbárie.

“É preciso lembrar que nesses anos foram executadas em público pessoas alegadamente por terem sido apanhadas a atravessar a fronteira com alguns quilos (não toneladas!) de camarão, por ordem de indivíduos que depois enriqueceram a vender cimento contrabandeado das fábricas nacionais e roupa de 2ª mão”, refere Tibana para depois reiterar que é insustentável continuar a apoiar Venâncio Mondlane.

É que no entender de Roberto Tibane não vale tudo para chegar ao poder, pois para ele, as “linhas vermelhas contam mais do que as promessas que (os políticos) fazem. Se um candidato presidencial não tem linhas vermelhas, se para ele tudo vale para chegar ao poder, esse para mim não é fiável”.

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