- Outra batalha para estar próxima a Presidência da República
- Depois que deixou o ministério da Defesa, ficou com a casa oficial, que está na avenida Zimbabwe
O ex-presidente da República, Filipe Nyusi, ainda não tem casa protocolar. Antes de rumar, semana passada, para Mossuril e Mueda, onde tem interesses empresariais, em Nampula e Cabo Delgado, respectivamente, informações não confirmadas indicam que Nyusi vivia no palácio de hóspede no Palácio da Ponta Vermelha. Na qualidade de antigo Chefe de Estado, goza do direito de uma residência e gabinete oficial, uma cortesia do Estado que busca conferir a aclamada dignidade aos antigos altos magistrados da Nação. O que chamou atenção é o seu desejo inusitado que já foi expresso: Ele quer para si a casa protocolar reservada ao Presidente da Assembleia da República da República (PAR), no caso, que deveria, em princípio, ser ocupada por Margarida Talapa, que ainda continua na casa própria. É uma residência que está a um minuto da Presidência da República, do outro lado da avenida Julius Nyerere, partilhando o muro com a residência protocolar do primeiro-ministro (PM). O facto é interpretado como medo de acabar vivendo com o povo que governou mal nos últimos 10 anos. Fora deste caso, não é a primeira vez que o antigo chefe de Estado reclama abocanhar a casa do Estado para si. Depois de deixar o ministério da Defesa, ficou com a casa oficial do ministro, que está na avenida Zimbabwe.
Nelson Mucandze
Fora do poder desde dia 15 do mês em curso, o antigo Presidente da República continua envolto nos corredores presidenciais em busca de influência e de privilégios. Diferente de outros presidentes que o antecederam, que decidiram até viver uma vida mais tranquila em suas Quintas em Katembe (Chissano) e Romão (Guebuza), há fortes indicadores de que Nyusi não teve tempo suficiente para terminar a sua preparação para o período pós-Presidência da República.
É que no mesmo dia da tomada de posse foi escoltado no Cadillac Escalade 2020 branco, quase idêntico ao do seu sucessor, com diferença da cor que é preta. Da Praça da Independência voltou ao Palácio da Ponta Vermelha para ocupar a casa de hóspedes. Ficou ali até a sessão da Comissão Política, presidida por si, que validou os nomes que ocupam a primeira leva dos cargos ministeriais. Foi só depois que decidiu aproveitar a liberdade que o fim do mandato oferece, rumando para Nampula e depois Cabo Delgado. Tem residências nas duas províncias e não só.
Mas a residência que o coloca no centro de debate é a que geralmente é alocada ao Presidente da Assembleia da República. Ele quer fazer dela o gabinete do antigo Presidente da República, uma escolha que nos corredores da presidência está a criar nervos e suscitando especulações que beliscam até Daniel Chapo.
A nova Presidente da Assembleia da República ainda não ocupou a residência oficial e vive na própria casa. Isso tem um peso no orçamento do Estado. Significa que deverá receber um subsídio de residência, enquanto não for indicada a sua residência oficial. O subsídio é pago até quando se está a ocupar uma casa própria.
A residência oficial da PAR é o protótipo de algumas casas protocolares construídas na primeira década de 2000, sob financiamento externo. Faz parte do mesmo protótipo de casas, a ocupada pelo ex-presidente da República, Armando Guebuza, que vem sendo usada como fundação Armando Emílio Guebuza, sita ao longo da avenida de Zimbabwe. Para viver, o antecessor de Nyusi escolheu a casa própria, que está no bairro das Mahotas. Mas, Nyusi escolheu estar a menos de dois minutos do seu antigo Gabinete.
Depois de abocanhar a casa oficial do ministro da Defesa…
Não é a primeira vez que o antigo presidente da República fica com uma casa do Estado. Depois de deixar o cargo de ministro da Defesa em 2014, ele ficou com a casa protocolar do ministro, que está na Avenida de Zimbabwe, na cidade de Maputo, a menos de três quilômetros da Presidência.
Mas o antigo Presidente tem mais residências na província e na cidade de Maputo. Por exemplo, ao longo da avenida Kim Il-sung, no bairro da Sommerschield, sua família comprou algumas casas que foram tidas como excedentes pela EDM, num concurso descrito como nebuloso na altura. Mais para fora da cidade, Nyusi tem a sua quinta de lazer em Goba. Isso é o que a nossa reportagem conseguiu mapear.
Agora, o desejo de se apropriar da residência oficial da PAR, que está a menos de 150 metros das cercanias do seu antigo Gabinete de trabalho, a Presidência da República, que é agora ocupada por seu sucessor que ainda não provou a independência plena ou autonomia nas suas decisões, tem suscitado curiosidades e especulações.
As primeiras são aquelas relacionadas a uma proximidade que busca influência no actual Presidente da República. É que até no dia da tomada de posse, o discurso de ruptura tinha inserção nas massas, hoje são acções executivas que não mostram a mesma ousadia manifesta no verbo.
O perfil da primeira leva dos ministros expõe lobistas em meio a alguns tecnocratas, uma continuidade da política de Nyusi, o que sugere um alinhamento pesado, embora trata-se de caras novas. Um outro detalhe que alude alinhamento é encontrado na gestão da crise: Chapo mantém a mesma postura de Nyusi, que se mostrava convicto de que Venâncio Mondlane é dispensável no diálogo agora em curso com a oposição, que deverá ser extensivo ao público.
É um diálogo moroso, ainda sem pontos de referência definidos. Tradicionalmente, a Frelimo tem adoptado uma postura de nunca negociar o poder com aqueles que considera terroristas.
Tem medo do povo ou da justiça?
Por outro lado, há questões de segurança que podem estar por detrás da escolha daquela residencial protocolar da PAR: o medo. Os temores de Nyusi chegaram a cogitar a tentativas de golpe de Estado. O que pode ter pesado para mobilização dos militares que, ao definir uma zona de segurança para PR e altos servidores públicos, bloquearam a avenida Julius Nyerere, numa extensão de menos de três quilômetros, dificultando o tráfego e pressionando as demais avenidas.
Na mesma semana em que Chapo chega à Presidência da República, a segurança foi retirada e o trânsito normal foi retomado. O aparato policial, mais do que ameaças reais, sugere, com as medidas do novo timoneiro, um receio mais pessoal do antigo presidente da República, o que pode estar a concorrer para que escolha para si a residência oficial, uma das zonas mais seguras do país.
São privilégios conferidos a uma figura que mesmo fora do controlo do Estado, tem o controlo do partido. A presidência no partido, cargo que deverá renunciar no dia 14 de Fevereiro próximo, no decurso da sessão Extraordinária do Comité Central, concede algumas vantagens até de influenciar no seu sucessor, que pela primeira vez, já formado todo o governo, deverá dirigir, nesta quarta-feira (29) uma sessão da Comissão Política sem a presença do seu presidente – a convocação não foi feita pelo Presidente do partido, que mesmo não tendo se preparado para deixar o Governo, mostra-se preparado para deixar o partido.

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